domingo, 21 de fevereiro de 2016

"O CANDIDATO INTELECTUAL"

 "Conta-se que Jesus, depois de infrutíferos desentendimentos com doutores da lei, em Jerusalém, acerca dos serviços da Bom-Nova, foi procurado por um candidato ao novo Reino, que se caracterizava pela profunda capacidade intelectual.
 Recebeu-o o Mestre, cordialmente, e, em seguida às interpelações do futuro aprendiz, passou a explicar os objetivos do empreendimento. O Evangelho seria a luz das nações e consolidar-se-ia à custa da renúncia e do devotamento dos discípulos. Ensinaria aos homens a retribuição do mal com o bem, o perdão infinito com a infinita esperança. A Paternidade Celeste resplandeceria para todos. Judeus e gentios converter-se-iam em irmãos, filhos do mesmo Pai. 
 O candidato inteligente, fixando no Senhor os olhos arguciosos, indagou: 
 -A que escola filosófica obedecerá?
 -A escola do céu respondeu complacente, o Divino Amigo.
 E outras perguntas choveram, improvisadas.
 -Quem nos presidirá à organização? 
 -Nosso Pai Celestial. 
 -Em que base aceitará a dominação política dos romanos?
 -Nas do respeito e do auxílio mútuos. 
 -Na hipótese de sermos perseguidos pelo Cinéreo, em nossas atividades, como proceder? 
-Desculparemos a ignorância, quantas vezes for preciso.
 -Qual o direito que competirá aos adeptos da Revelação Nova?
 -O direito de servir sem exigências. O rapaz arregalou os olhos aflitos e prosseguiu indagando:
 -Em que consistirá desse modo, o salário do discípulo?
 -Na alegria de praticar a bondade. 
 -Estaremos arregimentados num grande partido?
 -Seremos, em todos os lugares, uma assembléia de trabalhadores atenta à Vontade Divina. 
 -O programa?
 -Permanecerá nos ensinamentos novos de amor, trabalho, esperança, concórdia e perdão.
 -Onde a voz imediata de comando?
 -Na consciência. 
 -E os cofres mantenedores do movimento? 
 -Situar-se-ão em nossa capacidade de produzir o bem. 
 -Com quem contaremos de imediatos?
 -Acima de tudo com o Pai e, na estrada comum, com as nossas próprias forças.
 -Quem reterá a melhor posição no ministério? 
 -Aquele que mais servir. O candidato coçou a cabeça, francamente desorientado, e continuou, finda a pausa: 
 -Que objetivo fundamental será o nosso?
 Respondeu Jesus, sem se irritar:
 -O mundo regenerado, enobrecido e feliz. 
 -Quanto tempo gastará?
 -O tempo necessário. 
 -De quantos companheiros seguros dispomos para início da obra?
 -Dos que puderem compreender-nos e quiserem ajudar-nos.
 -Mas não teremos recursos de constranger os seguidores à colaboração ativa?
 -No Reino Divino não há violência.
 -Quantos filósofos, sacerdotes e políticos nos acompanharão?
 -Em nosso apostolado, a condição transitória não interessa e a qualidade permanece acima do número.
 -A missão abrangerá quantos países?
 -Todas as nações. 
 -Fará diferença entre senhores e escravos?
 -Todos os homens são filhos de Deus.
 -Em que sítio se levanta as construções de começo? Aqui em Jerusalém? 
 -No coração dos aprendizes.
 -Os livros de apontamento estão prontos? 
 -Sim. 
 -Quais são?
 -Nossas vidas... O talentoso adventício continuou a indagar, mas Jesus silenciou sorridente e calmo. Após longa série de interrogativas sem resposta, o afoito rapaz inquiriu ansioso: 
 -Senhor, por que não esclareces? O Cristo afagou-lhe os ombros inquietos e afirmou: 
 -Busca-me quando estiveres disposto a cooperar. E, assim dizendo, abandonou Jerusalém na direção da Galiléia, onde procurou os pescadores rústicos e humildes que, realmente nada sabiam da cultura grega ou do Direito Romano, mantendo-se, contudo, perfeitamente prontos a trabalhar com alegria e servir por amor, sem perguntar."
("Contos e Apólogos", Irmão X/Francisco Cândido Xavier)

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