domingo, 29 de abril de 2012

"15. A LOUCURA E O ESPIRITISMO"

"Há também pessoas que vêem perigo em todos os lugares e em
tudo o que não conhecem e rapidamente apontam uma conseqüência
desfavorável no fato de algumas pessoas, ao estudar a Doutrina Espírita,
terem perdido a razão. Como é que homens de bom senso podem ver
nesse fato uma objeção séria? Não ocorre o mesmo com todas as preocupações
intelectuais sobre um cérebro fraco? Sabe-se lá o número de
loucos e maníacos produzidos pelos estudos matemáticos, médicos,
musicais, filosóficos e outros? É preciso, por causa disso, banir esses
estudos? O que prova esse fato? Muitas vezes os trabalhos corporais
deformam ou mutilam os braços e as pernas, que são os instrumentos da
ação material; pode acontecer que os trabalhos da inteligência danifiquem
o cérebro, o instrumento pelo qual o pensamento se expressa.
Mas se o instrumento está quebrado, o Espírito está intacto, e quando se
libertar do corpo vai se achar de posse e na plenitude de suas capacidades.
É dessa maneira, como homem, um mártir do trabalho.


Qualquer uma das grandes preocupações do Espírito pode ocasionar
a loucura: as ciências, as artes e a própria religião mostram-nos
vários casos. A loucura tem como causa principal uma predisposição
orgânica do cérebro, que o torna mais ou menos acessível a algumas
impressões. Se houver predisposição para a loucura, ela assume um
caráter de preocupação principal, se transformando em idéia fixa, podendo
tanto ser a dos Espíritos, em quem com eles se ocupou, como poderá
ser a de Deus, dos anjos, do diabo, da fortuna, do poder, de uma arte, de
uma ciência, da maternidade ou a de um sistema político-social. É provável
que um louco religioso se tornasse um louco espírita, se o Espiritismo
fosse sua preocupação dominante, como um louco espírita o teria sido
sob uma outra forma, segundo as circunstâncias.


Digo, portanto, que o Espiritismo não tem nenhum privilégio nessa
relação; e digo mais, afirmo que, se bem compreendido, o Espiritismo
é uma defesa contra a loucura.


Entre as causas mais comuns de superexcitação cerebral, ou seja,
do desequilíbrio mental, estão as decepções, as infelicidades, as afeições
contrariadas, que são, ao mesmo tempo, as causas mais freqüentes
de suicídio. Assim é que o verdadeiro espírita vê as coisas
deste mundo de um ponto de vista mais elevado; elas lhe parecem tão
pequenas, tão mesquinhas, diante do futuro que o espera; a vida é
para ele tão curta, tão passageira, que as tribulações são, a seus
olhos, apenas incidentes desagradáveis de uma viagem. O que em
qualquer outro produziria uma violenta emoção pouco o afeta; sabe,
além de tudo, que os desgostos da vida são provas que servem para
o seu adiantamento, se as suporta sem lamentar, porque será recompensado
segundo a coragem com que as tiver suportado. Suas convicções
lhe dão uma resignação que o protege do desespero e, por
conseqüência, de uma causa freqüente de loucura e suicídio. Ele sabe,
por outro lado, por observar as comunicações com os Espíritos, o
destino dos que encurtaram voluntariamente seus dias, e esse quadro
é muito sério para fazê-lo refletir; também o número de pessoas
que por causa disso se detiveram sobre essa inclinação fatal é considerável.
Esse é um dos resultados do Espiritismo. Que os incrédulos
riam dele quanto quiserem. Desejo-lhes as consolações que ele
proporciona a todos que se dão ao trabalho de sondar-lhe as misteriosas
profundezas.


Ao número das causas de loucura é preciso ainda adicionar o dos
temores, e entre estes o medo do diabo, que provocou o desequilíbrio
de mais de um cérebro. Sabe-se lá o número de vítimas que se fez ao
amedrontar as fracas imaginações com esse quadro que se procura
tornar sempre mais pavoroso com terríveis detalhes? O diabo que,
dizem, apenas mete medo às criancinhas, é um freio para torná-las
ajuizadas, como o bicho-papão e o lobisomem. Contudo, quando não
têm mais medo deles, tornam-se piores; e esse belo resultado não é
levado em conta no número das epilepsias causadas pelo abalo em
cérebros delicados. A religião seria bem fraca se não gerasse medo,
sua força correria risco, seria abalada. Felizmente não é assim, há
outros meios de ação sobre as almas; o Espiritismo lhe aponta os
mais eficazes e os mais sérios, se souber usá-los com proveito; mostra
a realidade das coisas e com isso neutraliza os efeitos desastrosos
de um temor exagerado."
("O Livro dos Espíritos", Allan Kardec)

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