domingo, 22 de abril de 2012
"12. A IDENTIDADE DOS ESPÍRITOS"
"Um fato que a observação demonstrou e foi confirmado pelos próprios
Espíritos é que os Espíritos inferiores apresentam-se, muitas vezes,
com nomes conhecidos e respeitados. Quem pode nos assegurar que
aqueles que dizem ter sido, por exemplo, Sócrates, Júlio César, Carlos
Magno, Fénelon, Napoleão, Washington, etc. tenham realmente animado
esses personagens? Essa dúvida existe entre alguns adeptos fervorosos
da Doutrina Espírita; admitem a intervenção e a manifestação dos
Espíritos, mas se perguntam como comprovar sua identidade. Essa comprovação
é, de fato, muito difícil de estabelecer, já que não pode ser
apurada de uma maneira tão prática e simples como por meio de um
documento de identidade. Pode, entretanto, ser feita por alguns indícios.
Quando o Espírito de alguém que conhecemos pessoalmente se
manifesta, seja de um parente ou de um amigo, por exemplo, especialmente
se morreu há pouco tempo, ocorre, em geral, que sua linguagem
está em perfeita relação com o seu caráter; isso já é um indício de identidade.
Mas não há mais dúvida quando esse Espírito fala de coisas
particulares, lembra de fatos de família apenas conhecidos pelo interlocutor.
Um filho não se equivocaria certamente com a linguagem de seu
pai ou de sua mãe, nem os pais com a de seu filho. Algumas vezes,
nessas evocações, acontecem coisas surpreendentes, de forma a convencer
o mais incrédulo. O cético mais endurecido fica, então, maravilhado
com as revelações inesperadas que lhe são feitas.
Uma outra circunstância muito característica vem fundamentar a identidade
do Espírito. Dissemos que a letra do médium muda geralmente
com o Espírito evocado, e que essa escrita se reproduz exatamente igual
a cada vez que o mesmo Espírito se apresenta. Constatou-se, muitas
vezes, que para as pessoas mortas há pouco tempo, essa escrita tem
uma semelhança marcante com a da pessoa quando viva; têm-se visto
assinaturas de uma exatidão perfeita. Estamos longe de dar esse fato,
embora observado, como regra e, principalmente, como uma regra constante;
nós o mencionamos como algo digno de nota.
Somente os Espíritos que atingiram um certo grau de purificação
estão desligados de toda influência corporal. Porém, quando não estão
completamente desmaterializados (é essa a expressão da qual se servem),
conservam a maior parte das idéias, das tendências e até mesmo
das manias que tinham na Terra, o que demonstra o meio de os reconhecermos;
como também numa grande quantidade de fatos e detalhes, que
somente uma observação atenta e firme pode revelar. Vêem-se escritores
discutir suas próprias obras ou suas doutrinas, aprovar ou condenar
certas partes; outros Espíritos a lembrar fatos ignorados ou pouco conhecidos
de sua vida ou de sua morte; enfim, detalhes que são pelo
menos provas morais de identidade, as únicas a que se pode recorrer
quando se trata de coisas abstratas, isto é, que estão fora da realidade.
Se, portanto, a identidade do Espírito evocado pode ser, até certo
ponto, estabelecida em alguns casos, não há razão para que não o
seja em outros, e se, em relação às pessoas cuja morte ocorreu há
mais tempo, não há os mesmos meios de controle, tem-se sempre o da
linguagem e do caráter que revelam, porque, seguramente, o Espírito
de um homem de bem não falará como um perverso ou um devasso.
Quanto aos Espíritos que se apresentam exibindo nomes respeitáveis,
logo se traem pela linguagem e pelos ensinamentos. Aquele que
dissesse ser Fénelon, por exemplo, e embora acidentalmente ofendesse
o bom senso e a moral, mostraria, por esse simples fato, a fraude.
Se, ao contrário, os pensamentos que exprimisse fossem sempre
puros, sem contradições e constantemente à altura do caráter de
Fénelon, não haveria motivos para duvidar de sua identidade. De qualquer
maneira, seria preciso supor que um Espírito que apenas prega
o bem pode conscientemente empregar a mentira, e isso sem utilidade.
A experiência nos ensina que os Espíritos da categoria, do mesmo
caráter e animados pelos mesmos sentimentos se reúnem em
grupos ou em famílias; que o número de Espíritos é incalculável e
estamos longe de conhecê-los todos; e que até mesmo a maior parte
deles não tem nome para nós. Um Espírito da mesma categoria de
Fénelon pode vir em seu lugar, muitas vezes, enviado a seu pedido;
apresentar-se sob seu nome, pois lhe é idêntico, e substituí-lo, porque
precisamos de um nome para fixar nossas idéias. Mas o que importa,
em definitivo, que um Espírito seja realmente ou não o de Fénelon? A
partir do momento que somente diz coisas boas e que fala como o
próprio Fénelon falaria, é um bom Espírito; o nome com que se apresenta
é indiferente e, muitas vezes, é apenas um meio de fixar nossas
idéias. O mesmo não seria admissível nas evocações dos familiares;
mas aí, como dissemos, a identidade pode ser estabelecida por provas
de alguma forma evidentes.
Contudo, é certo que a substituição dos Espíritos pode ocasionar
uma série de enganos e resultar em erros e, muitas vezes, em mistificações;
essa é uma dificuldade do Espiritismo prático. Mas nunca dissemos
que fosse algo fácil, nem que se pudesse aprendê-lo brincando,
como não se faz com qualquer outra ciência. Nunca será demais repetir
que ele pede um estudo assíduo e, freqüentemente, bastante prolongado;
não podendo provocar os fatos, é preciso esperar que se apresentem
por si mesmos e, freqüentemente, são conduzidos por circunstâncias com
as quais nem ao menos se sonha. Para o observador atento e paciente,
os fatos se produzem e então ele descobre milhares de detalhes característicos
que representam fachos de luz. É assim também nas ciências
comuns, enquanto o homem superficial vê numa flor apenas uma forma
elegante, o sábio descobre nela tesouros para o pensamento."
("O Livro dos Espíritos", Allan Kardec)
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