domingo, 9 de dezembro de 2012
"OS ANIMAIS ANTE O NATAL"
"Entretecíamos animada conversação, em torno dos abusos da mesa nas
comemorações natalinas, com o parecer do grave Jonathan bem Asser, que
asseverava a conveniência de ater-se o homem ao sacrifício dos animais apenas
quanto ao estritamente necessário, quando o velho Ebenezer bem Aquim,
orientador de grupos hebraicos do Mundo Espiritual, tomou a palavra e se exprimiu
conciso:
- Talvez não saibam vocês quanto devemos aos bichos na manifestação do
Evangelho...
E, ante a nossa curiosidade, narrou, comovido:
- Há muitos anos, ouvi do rabi Eliúde, que se encontra agora nas esferas
superiores, interessantes minudências em torno do nascimento de Jesus. Contou-nos
esse antigo mentor de israelitas desencarnados que a localização de José da Galiléia e
da companheira nos arredores de Belém de Judá não foi assim tão fácil.
O casal, que se compunha de jovem Maria, tocada de singular formosura, e do
patriarca que a recebera por esposa, em madureza provecta, entrou na cidade quando
as ruas e hospedarias se mostravam repletas.
Os descendentes do ramo de David reuniam-se aos magotes para atender ao
recenseamento determinado pelo governo de Augusto.
Bronzeados cameleiros do deserto confraternizavam com vinhateiros de Gaza,
negociantes domiciliados em Jericó entendiam-se com mercadores residentes no Egito.
Acompanhados por benemérita legião de Espíritos sábios e magnânimos, a cuja
frente se destacava o abnegado Gabriel, que anunciara a Maria a vinda do Senhor.
José e a consorte bateram primeiramente às portas da estalagem de Abias, filho de
Sadoc, que para logo os rechaçou com a negativa; entretanto, pousando os olhos
malevolentes na jovem desposada, ensaiou graçola irreverente, o que fez que José,
apreensivo, estugasse o passo para diante.
Recorreram aos préstimos de Jorão, usurário que alugava cômodos a
forasteiros. O ricaço considerou, de imediato, a impossibilidade de acolhe-los, mas, ao
examinar a beleza da moça nazarena, chamou à parte o enrugado carpinteiro e
indagou se a menina era filha de escravos que se pudesse obter a preço amoedado...
José, mais aflito, demandou a frente para esbarrar na pensão de Jacob, filho de Josias,
antigo estalajadeiro, que declarou impraticável o alojamento dos viajantes; no
entanto, ao fixar-se na recém-chegada, perguntou desabridamente como é que um
varão, assim velho, tinha coragem de exibir uma jovem daquela raridade na praça
pública. Deprimido, o ancião diligenciou alcançar pousada próxima; contudo, as
invectivas de Jacob atraíram curiosos e vadios que cercaram o par, crivando-o de
injúrias.
Os recém-vindos de Nazaré, vendo-se alvo de chufas e zombarias, tropeçavam
humilhados...
Gabriel, no entanto, recorreu à prece, rogando o Amparo Divino, e diversos
emissários do Céu se manifestaram, em nome de Deus, deliberando que a única
segurança para o nascimento de Jesus se achava no estábulo, pelo que conduziram
José e Maria para a casa rústica dos carneiros e dos bois...
Ebenezer, a seguir, comentou, bem humorado:
- Não fossem os anfitriões da estrebaria e talvez a Boa Nova tivesse seu
aparecimento retardado...
E terminou, inquirindo:
- Não será isso motivo para que os animais na Terra sejam poupados ao
extermínio, pelo menos no dia do Natal?"
(Irmão X, na obra "Antologia Mediúnica do Natal", Autores Diversos/Francisco Cândido Xavier)
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