55 - Os médiuns de efeitos físicos são mais particularmente aptos a provocar fenômenos materiais, tais como os movimentos, pancadas, etc., com a ajuda de mesas ou outros objetos. Quando esses fenômenos revelam um pensamento, ou obedecem a uma vontade, são efeitos inteligentes que, por isso mesmo, denotam uma causa inteligente, sendo para os Espíritos uma maneira de se manifestarem. Por meio de um número de pancadas convencionais, obtêm-se respostas, por sim ou por não, ou a designação das letras do alfabeto que servem para formar palavras ou frases. Esse meio primitivo é muito demorado e não se presta a grandes desenvolvimentos. As mesas falantes foram o início da ciência; hoje, que se possui meios de comunicação tão rápidos e tão completos como entre os vivos, dele se serve apenas acidentalmente e como experimentação.
56 - De todos os meios de comunicação, a escrita é, ao mesmo tempo, a mais simples, a mais rápida, a mais cômoda, e aquela que permite maior desenvolvimento; é também a faculdade que se encontra mais freqüentemente entre os médiuns.
57 - Para se obter a escrita, serviu-se, no princípio, de intermediários materiais tais como cestas, pranchetas, etc., munidas de um lápis. (O Livro dos Médiuns, cap. XIII, nº 152 e seguintes). Mais tarde se reconheceu a inutilidade desses acessórios e a possibilidade, para os médiuns, de escrever diretamente com a mão, como nas circunstâncias ordinárias.
58 - O médium escreve sob a influência dos Espíritos que dele se servem como de um instrumento; sua mão é exercitada por um movimento involuntário que, o mais freqüentemente, ele não pode dominar. Certos médiuns não têm nenhuma consciência do que escrevem; outros disso têm uma consciência mais ou menos vaga, embora o pensamento lhes seja estranho; é isso que distingue os médiuns mecânicos dos médiuns intuitivos ou semi-mecânicos. A ciência espírita explica o modo de transmissão do pensamento do Espírito ao médium, e o papel deste último nas comunicações. (O Livro dos Médiuns, cap. XV, nº 179 e seguintes; cap. XIX, nº 223 e seguintes).
59 - Os médiuns não possuem senão a faculdade de comunicar, mas a comunicação efetiva depende da vontade dos Espíritos. Se os Espíritos não querem se manifestar, o médium nada obtém, ficando como um instrumento sem músico.
Os Espíritos não se comunicam senão quando o querem, ou o podem, e não estão ao capricho de ninguém; nenhum médium tem o poder de os fazer virem quando deseje e contra a sua vontade.
Isso explica a intermitência da faculdade nos melhores médiuns, e as interrupções que suportam por vezes durante vários meses.
Seria, pois, erradamente, que se assemelharia a mediunidade a um talento. O talento se adquire pelo trabalho e aquele que o possui dele é sempre senhor; o médium não é jamais senhor da sua faculdade, uma vez que depende de uma vontade estranha.
60 - Os médiuns de efeitos físicos que obtêm regularmente e à sua vontade a produção de certos fenômenos, admitindo que isso não seja por malabarismo, estão servindo a Espíritos de baixo estágio que se comprazem com essas espécies de exibições, e que talvez fizeram esse trabalho quando vivos. Mas seria absurdo pensar que Espíritos, embora pouco elevados, se divirtam exibindo-se. (Ver página 47).
61 - A obscuridade necessária à produção de certos efeitos físicos presta-se, sem dúvida, à suspeição, mas não prova nada contra a realidade. Sabe-se que em química há combinações que não podem se operar sob a luz e que composições e decomposições ocorrem sob a ação do fluido luminoso. Ora, todos os fenômenos espíritas são o resultado da combinação de fluidos próprios do Espírito e do médium; esses fluidos, sendo da matéria, não há nada de surpreendente em que, em certos casos, o fluido luminoso seja contrário a essa combinação.
62 - As comunicações inteligentes ocorrem, igualmente, pela ação fluídica do Espírito sobre o médium; é preciso que o fluido deste último se identifique com o do Espírito. A facilidade das comunicações depende do grau de afinidade que existe entre os dois fluidos. Cada médium está, assim, mais ou menos apto a receber a impressão ou impulso do pensamento de tal ou tal Espírito. Ele pode ser um bom instrumento para um e um mau instrumento para outro. Disso resulta que dois médiuns igualmente bem dotados, estando ao lado um do outro, um Espírito poderá se manifestar por um e não pelo outro.
63 - É, pois, um erro crer-se que basta ser médium para receber com igual facilidade as comunicações de todo Espírito. Não existem mais médiuns universais para as evocações, do que aptidão para produzir todos os fenômenos. Os Espíritos procuram, de preferência, instrumentos que vibrem em uníssono com eles; impor-lhes o primeiro que aparece, seria como se se impusesse a um pianista tocar violino, pelo fato de, sabendo música, dever poder tocar todos os instrumentos.
64 - Sem a harmonia, a única que pode conduzir à assimilação fluídica, as comunicações são impossíveis, incompletas ou falsas. Elas podem ser falsas porque, na falta do Espírito desejado, não faltam outros, prontos a aproveitarem a ocasião de se manifestarem, e que se importam muito pouco em dizerem a verdade.
65 - A assimilação fluídica é, algumas vezes, inteiramente impossível entre certos Espíritos e certos médiuns. Outras vezes, e é o caso mais comum, ela não se estabelece senão gradualmente e com o tempo. É isso que explica porque os Espíritos que têm por hábito se manifestarem por um médium o fazem com mais facilidade, e porque as primeiras atestam, quase sempre, um certo constrangimento e são menos explícitas.
66 - A assimilação fluídica é tão necessária nas comunicações pela tiptologia, como na escrita, já que, em um e outro caso, trata-se da transmissão do pensamento do Espírito, qualquer que seja o meio material empregado.
67 - Não podendo impor um médium ao Espírito que se quer evocar, convém deixar-lhe a escolha de seu instrumento. Em todos os casos, é necessário que o médium se identifique previamente com o Espírito pelo recolhimento e pela prece, ao menos durante alguns minutos, e mesmo alguns dias antes, se for possível, de maneira a provocar e a ativar a assimilação fluídica. É o meio de atenuar a dificuldade.
68 - Quando as condições fluídicas não são propícias à comunicação direta do Espírito para o médium, ela pode ser feita por intermédio do guia espiritual deste último; nesse caso o pensamento não chega senão de segunda mão, quer dizer, depois de ter atravessado dois meios. Compreende-se, então, quanto é importante que o médium seja bem assistido, porque se o é por um Espírito obsessor, ignorante ou orgulhoso, a comunicação será necessariamente alterada.
Aqui as qualidades pessoais do médium desempenham, forçosamente, um papel importante, pela natureza dos Espíritos que atrai para si. Os médiuns mais indignos podem ter poderosas faculdades, mas os mais seguros são aqueles que, a essa força, aliam as melhores simpatias no mundo espiritual. Ora, essas simpatias não são de nenhum modo garantidas pelos nomes mais ou menos imponentes dos Espíritos, ou que tomam os Espíritos que assinam as comunicações, mas pela natureza constantemente boa das comunicações que deles recebem.
69 - Qualquer que seja o modo de comunicação, a prática do Espiritismo, do ponto de vista experimental, apresenta numerosas dificuldades, e não está isenta de inconvenientes para qualquer um a quem falta a experiência necessária. Que se experimente por si mesmo, ou que se seja simples observador, é essencial saber distinguir as diferentes naturezas de Espíritos que podem se manifestar, de conhecer a causa de todos os fenômenos, as condições nas quais eles podem se produzir, os obstáculos que podem a eles se opor, a fim de não pedir o impossível. Não é menos necessário conhecer todas as condições e todos os escolhos da mediunidade, a influência do meio, as disposições morais, etc. (O Livro dos Médiuns, 2ª parte)."
("O que é o Espiritismo", Allan Kardec)
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