segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

"TENHA PACIÊNCIA, MEU FILHO!"





"Quando Dona Maria João de Deus desencarnou, em 29 de setembro de
1915, Chico Xavier, um de seus nove filhos, foi entregue aos cuidados de Dona
Rita de Cássia, velha amiga e madrinha da criança.
Dona Rita, porém, era obsidiada e, por qualquer bagatela, se
destemperava, irritadiça.
Assim é que o Chico passou a suportar, por dia, várias surras de varas de
marmeleiro, recebendo, ainda, a penetração de pontas de garfos no ventre,
porque a neurastênica e perversa senhora inventara esse estranho processo
de torturar.
O garoto chorava muito, permanecendo horas e horas, com os garfos
dependurados na carne sanguinolenta e corria para o quintal, a fim de
desabafar e, porque a madrinha repetia, nervosa:
— Este menino tem o diabo no corpo.
Um dia, lembrou-se a criança de que a Mãezinha orava sempre, todos os
dias, ensinando-o a elevar o pensamento a Jesus e sentiu falta da prece que
não encontrava em seu novo lar.
Ajoelhou-se sob velhas bananeiras e pronunciou as palavras do Pai Nosso
que aprendera dos lábios maternais.
Quando terminou, oh! maravilha!
Sua progenitora, Dona Maria João de Deus, estava perfeitamente viva ao
seu lado.
Chico, que ainda não lidara com as negações e dúvidas dos homens, nem
por um instante pensou que a Mãezinha tivesse partido para as sombras da
morte.
Abraçou-a, feliz, e gritou:
— Mamãe, não me deixe aqui... Carregue-me com a senhora...
— Não posso, — disse a entidade, triste.
— Estou apanhando muito, mamãe!
Dona Maria acariciou-o e explicou:
— Tenha paciência, meu filho. Você precisa crescer mais forte para o
trabalho. E quem não sofre não aprende a lutar.
— Mas, — tornou a criança — minha madrinha diz que eu estou com o
diabo no corpo.
— Que tem isso? Não se incomode. Tudo passa e se você não mais
reclamar, se você tiver paciência, Jesus ajudará para que estejamos sempre
juntos.
Em seguida, desapareceu.
O pequeno, aflito, chamou-a em vão.
Desde esse dia, no entanto, passou a receber o contato de varas e garfos
sem revolta e sem lágrimas.
— Chico é tão cínico — dizia Dona Rita, exasperada, — que não chora,
nem mesmo a pescoção.
Porque a criança explicava ter a alegria de ver sua mãe, sempre que
recebia as surras, sem chorar, o pessoal doméstico passou a dizer que ele era
um “menino aluado”.
E, diariamente, à tarde, com os vergões na pele e com o sangue a correrlhe
em pequeninos filetes do ventre o pequeno seguia, de olhos enxutos e
brilhantes, para o quintal, a fim de reencontrar a mãezinha querida, sob as
velhas árvores, vendo-a e ouvindo-a, depois da oração.
Assim começou a luta espiritual do médium extraordinário que
conhecemos."
("Lindos Casos de Chico Xavier", Ramiro Gama)

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