sexta-feira, 4 de setembro de 2015

"MINUTOS DE DEUS"


"Bastas vezes, perguntas, alma boa,
 Qual a razão do sofrimento...
 Porque a treva da angústia na pessoa...
 E também vezes muitas
 A recear a justa explicação,
 Foges de coração cansado e desatento...

 Enquanto podes fazer isso,
 Satisfazendo a impulso vão,
 Ausentas-te dos quadros de amargura,
 Como quem busca o reboliço
 Para esquecer o assombro e a inquietação
 Que observas nos outros
 De alma triste e insegura
 Quando colhidos pela provação...

 Mas se um dia chegar em que não possas
 Distanciar-te do recanto,
 Em que a tristeza se conhece
 Por neblina de pranto,
 Por maiores as dores e os problemas,
 Acende a luz da prece
 E, esperando por Deus,
 Não te aflijas, nem temas... 

 Ora, detém-te, anota, pensa e escuta
 Sob as tribulações em que a sombra domina,
 Quando estamos a sós, dentro da própria luta,
 Rodeados, ao longe,
 De constrangidos cireneus
 É que achamos na vida
 Os minutos de Deus,
 Nos quais se pode registrar
 A palavra divina.

 Nas estações difíceis do caminho,
 Que todos conhecemos
 Por solidão, angústia, desengano,
 À distância de todo burburinho
 Em que o prazer humano
 Lembra incêndio de sons que explode e estala,
 Nessas pausas de dor do pensamento,
 Em que o tempo parece amargo e lento
 É que o verbo de Deus nos envolve e nos fala...
 Mesmo sem qualquer força a que te arrimes,
 Presta a própria atenção
 À voz que te procura o coração
 Nessas horas sublimes.

 Entretanto, não creias,
 Perante a aceitação a que te levas
 Que Deus te reterá na mágoa que te invade,
 Nas teias abismais da crueldade
 Ou no bojo das trevas...

 Logo após o celeste entendimento
 Em que a bênção do Céu se te anuncia,
 Ressurgirás em novo nascimento,
 A dentro de ti mesmo,
 Como quem se revê ao sol de novo dia...

 Lembra o próprio Jesus,
 Se consegues cismar, em torno disso;
 Do berço em louvações
 A última páscoa em festa, brilho e luz,
 A vida do Senhor
 Foi um hino de júbilo e de amor
 Em música de paz e de serviço...

 Mas chegando ao Jardim das Oliveiras,
 Ei-la escutando o Pai, horas inteiras...
 E, através do diálogo divino,
 Colocado em si mesmo, solitário,
 Encontra o sacrifício por destino,
 Desde a prisão injusta às pedras do Calvário...

 Entretanto, depois
 Da renúncia suprema,
 Qual se guardasse em si o fel da humana escória,
 No suplício final, perante a multidão,
 Fez-se o Cristo Imortal do Amor e da Vitória,
 Na luz divina da ressurreição."


(" A Vida Conta", Maria Dolores/ Francisco Cândido Xavier)

Sem comentários:

Enviar um comentário