domingo, 31 de maio de 2015

"O LAR TERRENO ENTREVISTO DO ALÉM"

         "Todavia, inexplicavelmente, uma completa amnésia invadiu o meu cérebro espiritual e só pude recordar-me dos laços efetivos, que ainda a vós me prendiam, quando se me apresentou aos olhos a visão dos últimos instantes da minha vida material.
       Busquei, então o lar que eu deixara; mas — oh, torturante surpresa! — meus filhos não me reconheceram e debalde formulei os meus sentidos e carinhosos apelos! Julguei-me alucinada e em vão busquei as antigas amizades.
       — Não me vedes? Não me reconheceis?— bradava eu, desgostosa com a atitude impassível daqueles de quem me aproximava cheia de esperança, numa possível compreensão das minhas palavras; mas a frieza e a insensibilidade constituíam a resposta de sempre.
       A seguir, duplicaram-se as minhas ânsias... contudo,  à medida que me conformava com a nova situação e intimamente desejava a libertação daquelas impressões penosas, parecia-me que a atmosfera se ia aclarando, como se na mente renascesse a memória integral do meu passado, diluindo as trevas que a obscureciam.
       E, certa noite, quando reunidos oráveis segundo o costume que eu sempre cultivara, ouvi que o oferecimento das preces a Deus era feito em intenção de minh’alma."

(“Cartas de uma morta”, Maria João de Deus/Francisco Cândido Xavier)

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