"Todavia,
inexplicavelmente, uma completa amnésia invadiu o meu cérebro espiritual e só
pude recordar-me dos laços efetivos, que ainda a vós me prendiam, quando se me
apresentou aos olhos a visão dos últimos instantes da minha vida
material.
Busquei, então o lar que eu deixara; mas — oh,
torturante surpresa! — meus filhos não me reconheceram e debalde formulei os
meus sentidos e carinhosos apelos! Julguei-me alucinada e em vão busquei as
antigas amizades.
— Não me vedes? Não me reconheceis?— bradava eu,
desgostosa com a atitude impassível daqueles de quem me aproximava cheia de
esperança, numa possível compreensão das minhas palavras; mas a frieza e a
insensibilidade constituíam a resposta de sempre.
A seguir, duplicaram-se as minhas ânsias... contudo,
à medida que me conformava com a nova situação e intimamente
desejava a libertação daquelas impressões penosas, parecia-me que a atmosfera se
ia aclarando, como se na mente renascesse a memória integral do meu passado,
diluindo as trevas que a obscureciam.
E, certa noite, quando reunidos oráveis segundo o
costume que eu sempre cultivara, ouvi que o oferecimento das preces a Deus era
feito em intenção de minh’alma."
(“Cartas de uma morta”, Maria João de Deus/Francisco Cândido Xavier)
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