sábado, 31 de janeiro de 2015

"SONS DE CONFIANÇA"

"O que tapa o ouvido ao clamor do pobre,
também clamará e não será ouvido."
(Pv. 21, v. 13)

       "Articulemos sons pela palavra. É bom vigiarmos, para que eles sejam de confiança, levando o ânimo aos fracos, orientando os sem rumo, e apaziguando os atribulados.
       Saber ouvir o semelhante é princípio de tolerância. Saber discernir o que ouvimos é possibilitar a solidariedade. E saber ajudar, nesse clima, é trabalho dos mais nobres na vida.
       Das coisas pequeninas, as grandes são congênitas. De pequenas notas, sabiamente postas, é que se faz a música. De poucos sons da palavra evangelizada é que fundamentamos no coração sofredor e triste a grande esperança da felicidade.
       A caridade nos pede para ouvir o impaciente, para compreender o ignorante, para ajudar o desesperado e amar, sem cogitar quem está sendo amado.
       Faze que a tua palavra seja musical, mas lembra-te: plasma nela o teu amor, a tua alegria, a tua paz, a tua fé, a tua esperança, porque, assim, estarás recebendo tudo isso, em primeira mão.
       Não te faças de surdo, diante do clamor do próximo. Verifica o que está ele querendo, e faze o que estiver ao teu alcance, em favor dos que te buscam, para que amanhã, não falte quem te auxilie."

(“Gotas de Paz”, Carlos/João Nunes Maia)

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

"SOLIDARIEDADE"


       "Não exijas, inconsequentemente, que os outros te deem isso ou aquilo, como se o amor fosse artigo de obrigação.
       Muitos falam de justiça social nas organizações terrestres, centralizando interesse e visão exclusivamente em si próprios, qual se os outros não fossem gente viva, com aspirações e lutas, alegrias e dores iguais às nossas.
-o-
       Como entender aqueles que nos compartilham a estrada, sem largarmos a carapaça das vantagens pessoais, a fim de penetrar-lhes o coração?
       Efetivamente, não possuímos fortuna capaz de suprimir-lhes todos os problemas de ordem material e nem as leis do Universo conferem a alguém o poder de atravessar por nós o dédalo das provas de que somos carecedores; entretanto, podemos empregar verbo e atitude, olhos e ouvidos, pés e mãos, de maneira constante, na obra do entendimento.
       Inicia-te ao apostolado da confraternização, meditando nas dificuldades aparentemente insignificantes de cada um, se nutres o desejo de auxiliar.
       Não reclames contra o verdureiro, que te não reservou o melhor quinhão, atarantado, qual se encontra, no serviço, desde os primeiros minutos do amanhecer; endereça um pensamento de simpatia para a lavadeira, cujos olhos cansados não te viram a nódoa na roupa; considera o funcionário que te serve, apressado ou inseguro, por alguém de ideia presa a tribulações no recinto doméstico; aceita o amigo que te não pode atender numa solicitação como sendo criatura algemada a compromissos que desconheces; escuta os companheiros de ânimo triste, como quem se sabe também suscetível de adoecer e desanimar-se; interpreta o colega irritado por enfermo a rogar-te os medicamentos da tolerância; cala o apontamento desairoso, em torno daqueles que ainda não se especializaram em conversar com o primor da gramática; não te ofendas com o gesto infeliz do obsidiado, que transita na rua, sob a feição de pessoa equilibrada e sadia...
-o-
       Todos sonhamos com o império da fraternidade, todos ansiamos por ver funcionando, vitoriosa, a solidariedade entre todos os seres, na exaltação dos mais nobres princípios da Humanidade... Quase todos, porém, aguardamos palácios e milhões, títulos e honrarias, para contribuir, de algum modo, na grande realização, plenamente esquecidos de que um rio se compõe de fontes pequenas e que nenhum de nós, no que se refere a fazer o melhor, em louvor do bem, deve esperar o amanhã para começar."

(Emmanuel, “ESTUDE E VIVA”, Emmanuel e André Luiz/Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira)
__._,_.___

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

"DIVINO AVISO"

"A luz do conhecimento que já atingiste, pode ser estendida à sombra dos outros.
O dinheiro que ajuntaste, pode ser amparo à necessidade dos semelhantes.
A fé que possuis, pode ser refúgio aos que desfalecem.
A doença que sofres, pode ser motivo de paciência, a valer entre os seres queridos por sustento moral.
A ofensa que recebeste, pode ser testemunho de humildade, confortando a todos aqueles que te partilham a experiência.
A hora de que dispões, pode ser trabalho a favor do próximo.
A palavra que falas, pode ser auxílio na luta alheia.
A atitude que tomes, pode ser diretriz do levantamento da caridade.
Ah, meu irmão da Terra!
Toda situação pode ser apoio à vitória do bem e todo serviço prestado ao bem é riqueza da alma, que malfeitores não furtam e que as traças não roem.
Escuta o relógio — coração do tempo que te orienta o caminho — e o tempo, qual mensageiro da Eterna Sabedoria, te revelará, por fim, que o seu tique-taque, incessante e sempre novo tique-taque, é divino aviso da Vida, recomendando:
— Serve-serve, serve-serve!"


(“IDEAL ESPÍRITA”, Albino Teixeira/Francisco Cândido Xavier)

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

"Tem piedade dos ingratos..."


       "Tem piedade dos ingratos. Eles asfixiaram os sentimentos nobres nos vapores da soberba.
       A gratidão é o sentimento digno que deves viger no homem que recebe benefícios da vida.
       Todos a devemos a alguém ou a muitas pessoas que nos socorreram nos momentos graves da existência.
       A ajuda na hora certa é responsável por tudo de bom que te venha a acontecer, impelindo-te ao reconhecimento perene.
       Sê grato em todas as situações."

(“Vida Feliz”, Joanna de Ângelis/Divaldo P. Franco)

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

"AÇÃO E ORAÇÃO"

"Sempre muito importante a oração por luz interior, no campo íntimo, clareando passos e decisões, sem nos despreocuparmos, porém, da ação que lhe complemente o valor, nos domínios da realidade objetiva
-o-o-o-
       Pedirás a proteção de Deus para o doente; no entanto, não te esquecerás de estender-lhe os recursos com que Deus já enriqueceu a assistência humana, a fim de socorrê-lo.
-o-
       Solicitarás o amparo da Providência Divina, a benefício do ente amado que se tresmalhou em desequilíbrio; todavia, não olvidarás apoiá-lo com segurança e bondade, na recuperação necessária, segundo os preceitos das ciências espirituais que a Divina Providência já te colocou ao dispor nos conhecimentos da Terra.
-o-
       Rogarás ao Céu te liberte dos que te perseguem ou dos que ainda não se harmonizam contigo; entretanto, não lhes sonegarás tolerância e perdão, diante de quaisquer ofensas, conforme os ensinamentos de paz e restauração que o Céu já te deu, por intermédio de múltiplos Instrutores da Espiritualidade Maior, em serviço no mundo.
-o-
       Suplicarás a intercessão dos Mensageiros da Vida Superior para que te desvencilhes de certas dificuldades materiais, diligenciando, porém, desenvolver todas as possibilidades ao teu alcance, pelo obtenção de trabalho digno, que te assegure a superação dos obstáculos, na pauta das habilitações que os Mensageiros da Vida Superior já te ajudaram a adquirir.
-o-
       Ação é serviço.
       Oração é força.
       Pela oração a criatura se dirige mais intensamente ao Criador, procurando-lhe apoio e bênção, e, através da ação, o Criador se faz mais presente na criatura, agindo com ela e em favor dela."

(“Rumo Certo”, Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

"NÃO RARO"


       "Não fujas de quem te solicite amparo.
       Não evites quem sempre esteja a te requisitar algo à generosidade.
       A muita felicidade dos outros pode estar no pouco que lhes sonegas.
       Quantos os que rogam para ti as bênçãos do Céu, pelo simples pedaço de pão que lhes ofertas?
       E quantos os que tornam imensamente gratos, pela anônima moeda que lhes colocas nas mãos?
       E quantos os que te têm à conta de benfeitor, porque lhes destinas o que endereçarias à lata de lixo?...
       Por que te custa tanto assim sorrir para quem te espera diminuta manifestação de carinho?
       Não cortes caminho para não te defrontares com o pedinte que sempre te aborda na via pública.
       A caridade, em qualquer tempo, é uma árvore carregada de frutos.
       Pior que nada ter no bolso é nada possuir na alma.
       Não raro, quem alguma coisa vem te pedir, muito mais vem para te dar.
       Estende a mão e receberás."

(“Dias Melhores”, Irmão José/Carlos A. Baccelli)

domingo, 25 de janeiro de 2015

"A BENÇÃO DA CHUVA"

"Na tarde de 28 de março de 1981, chovia muito em Uberaba.
Pacientemente, Chico esperava que o aguaceiro passasse.
A copa frondosa do abacateiro oferecia precário abrigo para todos os que ali nos reuníamos ávidos por aprender.
A reportagem do programa "Fantástico", da TV Globo, do Rio de Janeiro, filmava tudo de dentro de um carro de aluguel.

Como sempre, várias caravanas de diversos Estados, estavam presentes, notadamente de Curitiba, Paraná.
A chuva amaina e o Sr. Weaker convida-nos ao início da reunião na Vila dos Pássaros Pretos.
A prece, como de hábito, é proferida pelo prof. Thomaz.
Chico toma a palavra e explica que o culto se divide em duas partes: a primeira, dos comentários em torno de uma página do Evangelho; a segunda, "o encontro com os amigos que nos hospedam...".

"O Evangelho Segundo o Espiritismo" convida-nos a examinar o cap. 25, "Buscai e Achareis".
Cada companheiro convidado aos comentários por orientação de Chico, não deve exceder ao tempo de quatro minutos, "para que tenhamos um maior número de opiniões em torno do texto lido".

Uma confreira, fazendo uso da palavra, observa que "é pelo trabalho que caminhamos rumo à conquista do amor"; alguém assinala que o trabalho, conjugado à oração, constitui excelente antídoto contra a tentação; por nossa vez, acentuamos que o trabalho longe de ser uma expiação, é uma bênção de Deus. Gasparetto, também presente à tarefa, destaca o trabalho como terapia; D. Zibia Gasparetto, médium de psicografia que todos admiramos, adverte-nos para o trabalho de nos conhecermos intimamente; Langerton, o amigo de Peirópolis, diz que "o trabalho é a nossa âncora"; Márcia comenta que o "ajuda-te" é mensagem para que tenhamos iniciativa própria e que "o céu te ajudará" traduz a confiança que devemos depositar na providência divina...
Apesar da chuva, os nossos irmãos carentes, entre eles muitas crianças e velhinhos, não arredaram o pé da fila que daí a instantes seria beneficiada com os óbulos da fraternidade, numa demonstração eloquente de que ali estão por necessidade e não por ociosidade, como divulgam alguns adversários da caridade.

Agora, era chegado o grande momento: Chico Xavier, inspirado por Emmanuel, ia falar.
Apesar de completamente ensopados, inclusive o Chico molhara-se um pouco, procuramos colocar-nos na máxima condição de receptividade para ouvir.
Aos beijos do sol, um arco-íris emoldura o templo da natureza.

Chico fala:
"Estamos aqui reunidos, sob a chuva, para nos conhecer com mais segurança. Estamos numa hora de confrontação...Quantos não gostariam de estar trabalhando sob a chuva? Quantos enfrentam o problema da terra ressequida? A calamidade da seca é comparável a dos terremotos. Há mais de dois anos não chovia em sete Estados da Federação. Em João Molevade, Minas Gerais, centenas de operários lidam com o aço em fogo, nas grutas. Eu conheço moças que trabalham em boates para sustentar mães que estão em sanatórios.
...os que trabalham no clima da calúnia, em busca do numerário para obtenção do pão de cada dia...
Nós não vamos esquecer essa chuva como lição-advertência.
Hoje vamos retornar aos nossos lares com um conhecimento mais amplo de uns para com os outros...
Pela primeira vez, há quinze dias, aconteceu um desastre com algumas companheiras nossas quando retornavam a São Paulo, após orarmos no Grupo Espírita da Prece. Muitos, certamente, irão falar...Mas estarão se esquecendo de agradecer os milhares de reuniões, dos dias em que não houve nada...
A chuva é uma amiga que também veio enfeitar o nosso culto, para termos a sensação dos que estão debaixo das pontes, dos casebres, dos andarilhos...Esta, ao meu ver - encerrou o Chico - é a nossa maior lição desta tarde".

Sim, não havia o que reclamar.
E a chuva, na voz de Chico Xavier, transformara-se em lição.
A água das nuvens lavara-nos o exterior, mas a água dos Céus carreara, com o enxurro, mais alguns dos detritos que enodoam as nossas almas."


( "Chico Xavier, à Sombra do Abacateiro", Carlos Baccelli)

sábado, 24 de janeiro de 2015

"TUA FALA"

  "Devemos compreender a expressão do verbo, na função da vida. Saber conversar é dignidade da alma, conquistada nas lutas sucessivas  que chamamos de reencarnação.
       Podes observar o que falas todos os dias, analisando o que podes e deves plantar, tendo o verbo como sementes. Os sons que articulas em direção aos ouvidos alheios ficará anotado no livro da vida, sob a tua responsabilidade.
       Esse trabalho pode se fazer em sequências, começando as mudanças na formação os pensamentos e ideias, objetivando a transformação em palavras.
Fala, meu irmão, construindo.
       Fala no amor, amando.
Fala na caridade, exercendo a benevolência.
       Fala na alegria, sentindo-a no coração.
       Lembra-te novamente que o verbo é como sementes de Deus, que têm a missão de frutificar, dependendo, para a tua paz, dos sentimentos a que a palavra serve de canal.
       Se a tua fala estabelece a paz nos que te ouvem, essa paz virá para a tua alma.
       Se conversares ante os que te seguem com amor, esse amor te mostrará a tranquilidade.
       Se passares a falar com os outros de assuntos elevados, estarás plantando o bem nos corações que, com o passar do tempo, receberão a luz do amor, pela justiça divina.
       A palavra séria é luz no caminho.
       A palavra verdadeira ajuda a quem fala receber novos corpos, em várias etapas, com possibilidades de sentir a paz, na paz de Deus.
       Meu irmão, começa hoje a educar a tua fala, na mesma faixa da fala de Jesus, para que o Cristo em ti seja motivo de glória."

(Página recebida em 24/03/88, no Núcleo Assistencial Bezerra de Menezes, São Paulo, SP)

(“Páginas Esparsas 4”, Lancelin/João Nunes Maia)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

"APRENDIZES E ADVERSÁRIOS"

"Jonathan, Jessé e Eliakim, funcionários do, Templo de Jerusalém, passando por Cafarnaum, procuraram Jesus no singelo domicílio de Simão Pedro.
Recebidos pelo Senhor, entregaram-se, de imediato, à conversação.
― Mestre ― disse o primeiro ―, soubemos que a tua palavra traz ao mundo as Boas Novas do Reino de Deus e, entusiasmados com as tuas concepções, hipotecamos ao teu ministério o nosso aplauso irrestrito. Aspiramos, Senhor, à posição de discípulos teus...
 Não obstante as obrigações que nos prendem ao sagrado Tabernáculo de Israel, anelamos
servir-te, aceitando-te as idéias e lições, com as quais seremos colunas de tua causa na cidade eleita do Povo Escolhido... Contudo, antes de solenizar nossos votos, desejamos ouvir-te quanto à conduta que nos compete à frente dos inimigos...
― Messias, somos hostilizados por terríveis desafetos, no Santuário ― exclamou o segundo ―, e, extasiados com os teus ensinamentos, estimaríamos acolher-te a orientação.
― Filho de Deus ― pediu o terceiro ―, ensina-nos como agir...
Jesus meditou alguns instantes, e respondeu:
― Primeiramente, é justo considerar nossos adversários como instrutores. O inimigo vê junto de nós a sombra que o amigo não deseja ver e pode ajudar-nos a fazer mais luz no caminho que nos é próprio. Cabe-nos, desse modo, tolerar-lhe as admoestações, com nobreza e serenidade, tal qual o ferro, que após sofrer, paciente, o calor da forja, ainda suporta os golpes
do malho com dignidade humilde, a fim de se adaptar à utilidade e à beleza.
Os visitantes entreolharam-se, perplexos, e Jonathan retomou a palavra, perguntando:
― Senhor, e se somos injuriados?
― Adotemos o perdão e o silêncio ― disse Jesus. ― Muita gente que insulta é vítima de perturbação e enfermidade.
― E se formos perseguidos? ― indagou Jessé.
― Utilizemos a oração em favor daqueles que nos afligem, para que não venhamos a cair no escuro nível da ignorância a que se acolhem.
― Mestre, e se nos baterem, esmurrarem? ― interrogou Eliakim. ― que fazer se a violência nos avilta e confunde?
―Ainda assim ―esclareceu o brando interpelado ―, a paz íntima deve ser nosso asilo e o amor fraterno a nossa atitude, porquanto, quem procura seviciar o próximo e dilacerá-lo está
louco e merece compaixão.
― Senhor ― insistiu Jonathan ―, que resposta oferecer, então, à maledicência, à calúnia e à perversidade?
O Cristo sorriu e precisou:
― O maledicente guarda consigo o infortúnio de descer à condição do verme que se alimenta
com o lixo do mundo, o caluniador traz no coração largas doses de fel e veneno que lhe flagelam
a vida, e o perverso tem a infelicidade de cair nas armadilhas que tece para os outros. O perdão
é a única resposta que merecem, porque são bastante desditosos por si mesmos.
― E que reação assumir perante os que perseguem? ― inquiriu Jessé, preocupado.
― Quem persegue os semelhantes tem o espírito em densas trevas e mais se assemelha ao cego desesperado que investe contra os fantasmas da própria imaginação, arrojando-se ao fosso
do sofrimento.
Por esse motivo, o socorro espiritual é o melhor remédio para os que nos atormentam...
― E que punição reservar aos que nos ferem o corpo, assaltando-nos o brio? ― perguntou
Eliakim espantado. ― Refiro-me àqueles que nos vergastam a face e fazem sangrar o peito...
― Quem golpeia pela espada, pela espada será golpeado também, até que reine o Amor Puro
na Terra ― explicou o Mestre, sem pestanejar. ― Quem se rende às sugestões do crime é um doente perigoso que devemos corrigir com a reclusão e com o tratamento indispensável. O sangue não apaga o sangue e o mal não retifica o mal...
E, espraiando o olhar doce e lúcido pelos circunstantes, continuou:
― É imperioso saibamos amar e educar os semelhantes com a força de nossas convicções e conhecimentos, a fim de que o Reino de Deus se estenda no mundo... As Boas Novas de Salvação esperam que o santo ampare o pecador, que o são ajude o enfermo, que a vítima
auxilie o verdugo...
Para isso, é imprescindível que o perdão incondicional, com o olvido de todas as ofensas, assegure a paz e a renovação de tudo...
 Nesse ínterim, uma criança doente chorou em alta voz num aposento contíguo.
O Mestre pediu alguns instantes de espera e saiu para socorrê-la, ,as, ao regressar, debalde buscou a presença dos aprendizes fervorosos e entusiastas.
Na sala modesta de Pedro não havia ninguém. "
("Contos deste e doutra vida", Irmão X/Francisco Cândido Xavier)

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

"ALGUMAS DEFINIÇÕES"


       "BENFEITOR — é o que ajuda e passa.
       AMIGO — é o que ampara em silêncio.
       COMPANHEIRO — é o que colabora sem constranger.
       RENOVADOR — é o que se renova para o bem.
       FORTE — é o que sabe esperar no trabalho pacífico.
       ESCLARECIDO — é o que se conhece.
       CORAJOSO — é o que nada teme de si mesmo.
       DEFENSOR — é o que coopera sem perturbar.
       EFICIENTE — é o que age em benefício de todos.
       VENCEDOR — é o que vence a si mesmo."


(“Agenda Cristã”, André Luiz/Francisco Cândido Xavier)

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

"AMOR SEMPRE"

"Que faremos da caridade, quando todas as questões econômicas forem resolvidas?
       Esta é a indagação que assinalamos, todos nós, muitas vezes.
       Muitos acreditam que a solução de semelhantes problemas autorizaria a demissão da sublime virtude das empresas e encargos pelos quais se responsabiliza ela no mundo.
       Entretanto, a  cooperação do dinheiro sempre indispensável no sustento das boas obras, é apenas um ângulo de beneficência na Terra.
*
       A mais alta percentagem dos nossos companheiros menos felizes não se encontra nos vales da penúria de ordem material.
       Pergunte-se aos povos mais industrializados e mais rios na cultura da inteligência se conseguiram unicamente com isso erguer a felicidade integral de seus filhos.
       Consulte-se-lhes as estatísticas de suicídio e loucura, na maioria dos casos com vinculação na patologia da alma, e em todos os recantos do Orbe Terrestre indaguemos das classes situadas na frente do conforte e da instrução universitária se com esses tesouros, — aliás necessários e legítimos para todos os filhos da Terra, — lograram consolidar a segurança e a paz de que se reconhecem carecedores.
*
       Ouçamos os companheiros relegados à solidão em refúgios dourados; os que a desilusão alcançou, estirando-os em desânimo, apesar das alavancas amoedadas que lhes sustentam a vida; os quase loucos de sofrimento moral, diante de provas ou doenças irreversíveis; as criaturas geniais que não puderam aguentar as dificuldades educativas, indispensáveis ao burilamento do Espírito, e derivaram para os tóxicos que lhes consomem as forças; os que foram abafados pela superproteção no campo do excesso e não mais souberam suportar os problemas da estrada evolutiva; e aqueles outros, semimortos de angústia que tateiam a lousa indagando pelos entes queridos e que dariam, de pronto, a fortuna em que se lhes valoriza a existência em troca de fé na imortalidade.
*
       Anotamos os irmãos caídos em desprezo, abandono, desequilíbrio, enfermidade, desalento ou perturbação e, embora louvando o apostolado bendito do dinheiro, a serviço do bem, verificaremos que a caridade em si é sempre amor e que a missão do amor, em todos os mundos e em todas as circunstâncias, é tão infinita quanto infinita em tudo e com todos, é a Bondade de Deus."

(“Encontro de Paz”, Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

"ARTE DE OUVIR"

"Onde quer que te encontres, de uma ou de outra forma, despertarás o interesse de alguém.
       Algumas pessoas poderão arrolar-te como antipático e até buscarão hostilizar-te.
       Outras se interessarão por saber quem és e o que fazes.
       Inúmeras, no entanto, te falarão, intentando um relacionamento fraterno.
       Cada qual sintonizará contigo dentro do campo emocional em que se estagia.
       Como há carência de amigos e abundância de problemas, as criaturas andam à cata de quem as ouça, ansiando por encontrar compreensão.
       Em razão disso, todos falam,  às vezes simultaneamente.
       Concede, a quem chega, a honra de o ouvir.
       Não te apresses em acumulá-lo de informações, talvez desinteressantes para ele.
       Silencia e ouve.
       Não aparentes saber tudo, estar por dentro de todos os acontecimentos.
       Nada mais desagradável e descortês do que a pessoa que toma a palavra de outrem e conclui-lhe a narração, nem sempre corretamente.
       Sê gentil, facultando que o ansioso sintoniza com a tua cordialidade e descarregue a tensão, o sofrimento...
       No momento próprio, fala, com naturalidade, sem a falsa postura de intocável ou sem problema.
       A arte de ouvir é, também, a ciência de ajudar."
(“Episódios Diários”, Joanna de Ângelis/ Divaldo Pereira Franco)

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

"O RECURSO"


       "Começaste o dia recebendo a visita de um amigo, a falar-te da leviandade de um parente que te acusou por faltas que não cometeste.
       Para logo te demandaste na irritação e na revolta.
*
       Em seguida, vieram as compras, segundo  lista de encomendas que formulaste na véspera.
       Alguns artigos, no entanto, não chegaram nas condições esperadas e, sem qualquer hesitação, devolveste o material recebido com ásperas reclamações.
*
       Logo após, observaste que o vizinho, involuntariamente, provocou pequeno defeito no sistema de esgotos, prejudicando-te o banheiro, por alguns minutos.
       De imediato, chamaste às contas o amigo da vizinhança, admoestando-o com severidade agressiva, sem ao menos aceitar-lhe o pedido de desculpas, enunciado com humildade.
*
       Não passou muito tempo, notaste que a governanta não efetuara a limpeza da casa, conforme as minudências de tuas instruções.
       E à frente da senhora que te serve com atenção à vida familiar, dirigiste a ela um sermão esbrazoado de exigências.
*
       Assim atravessaste as horas, lastimando a vida, gritando contra determinadas pessoas, maldizendo parentes, criticando, condenando, ironizando e ferindo aos que te rodeiam.
*
       Em sobrevindo a noite, trazias o corpo abatido, como que vergastado por farpas invisíveis.
       Clamaste contra a doença e te declaraste com os nervos destrambelhados.
*
       Por fim, em certo momento, pediste chorando para que alguém te descobrisse um remédio ou um recurso contra as tuas angústias e contrariedades, amarguras e desesperações.
       É por isso que estamos aqui a rogar-te com respeito:
       — Experimenta o perdão."

(“JÓIA”, Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)

domingo, 18 de janeiro de 2015

"NA TAREFA DE AJUDAR"

Estudos e dissertações em torno de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec. Cap. XIII – Item 11.

       "Auxilie a quem lhe procure a presença, mas não se esqueça de socorrer diretamente quem padece a distância.
-o-
       Transfira a cooperação alheia aos lares menos aquinhoados, porém, não se desobrigue de contribuir com a sua quota de ajuda pessoal.
-o-
       Distribua o que lhe sobre à mesa, tanto quanto no guarda-roupa e na bolsa; contudo, siga além, doando a quem sofre os recursos positivos de seu sentimento.
-o-
       Empreste, com justiça, o que lhe peçam; no entanto, não menospreze transformar os seus empréstimos em dádivas fraternais.
-o-
       Colabore indiscriminadamente para o bem de todos aqueles que lhe estejam próximos; todavia, esforce-se por aprimorar os métodos da sua colaboração para ajudar melhor.
-o-
       Organize a sua vida em disciplina rigorosa no dever cumprido, ainda assim, faça o tempo de persistir no trabalho de assistência aos irmãos em luta maior.
-o-
       Atenda ao estômago faminto e o corpo enfermo do companheiro em provação; entretanto, não recuse favorecê-lo com a palavra consoladora e com o livro nobre.
-o-
       Seja o intermediário entre  distribuidores generosos e corações menos felizes, porém, não deixe de convidar, aos que se beneficiam materialmente, a se beneficiarem, do ponto de vista moral, nas visitas de socorro evangélico e solidariedade humana.
-o-
       Dê o máximo de suas possibilidades no amparo aos semelhantes, mas não se satisfaça com os resultados obtidos, buscando enriquecer os seus dotes de eficiência no plantio da caridade.
-o-
       Exemplifique a beneficência, tanto quanto lhe seja possível, em todas as circunstâncias; contudo, prefira a naturalidade e a discrição para revestir as suas mínimas atitudes.
-o-
       Lembre-se que, na tarefa de ajudar, o bem maior é sempre aquele que ainda está por fazer, à espera da nossa disposição."

(“O ESPÍRITO DA VERDADE”, André Luiz/Waldo Vieira)

sábado, 17 de janeiro de 2015

"A PORTA DA PALAVRA"



“Orando também juntamente por nós para que Deus nos abra a porta da palavra...” — Paulo (Colossenses, 4:3.)

       "A atualidade terrestre dispõe dos mais avançados processos de comunicação entre os homens.
       Num só dia, aviões sobrevoam nações diversas.
       O rádio e a televisão alteram o antigo poder do espaço.
       Quantos milhões de criaturas, porém, se reconhecem profundamente isoladas dentro de si, ainda mesmo quando parte integrante da multidão?
       Quantos seres humanos varam largos trechos da existência, expedindo apelos ao socorro espiritual de outros seres humanos, sem qualquer resposta que lhes asserene o campo emotivo?
       O que mais singulariza o problema é que nem sempre vale a presença material de alguém para o auxílio de que outro alguém se reconhece necessitado. Quem sofre a solidão à companhia daqueles que lhes agravam o sofrimento.
       Todos nós carecemos de alívio na hora da angústia ou de apoio em momentos difíceis, e, para isso, contamos receber daqueles que nos rodeiam a frase compreensiva e conveniente. Entanto, nesse sentido, não bastará que os nossos benfeitores nos manejem corretamente o idioma ou nos identifiquem o grau de cultura. É imperioso nos conheçam os sentimentos e problemas, os ideais e realizações.
       Meditemos, pois, na importância do verbo e roguemos a Deus nos inspire, a fim de encontrarmos a porta adequada à palavra certa e sermos úteis aos outros, tanto quanto esperamos que os outros sejam úteis a nós."

(“Entre irmãos de outras Terras”, Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

"NA SENDA RENOVADORA"

"Disse o Cristo:- “Eu não vim destruir a Lei”.
       Também nós outros, os amigos desencarnados, não nos encontramos entre os homens para guerrear-lhes a fé.
*
       Muita gente aceita a luz da Nova Revelação, conservando-a no vinagre da intemperança, como se a verdade fosse um raio fulminativo para a ruína do mundo, e, usando a lente escura do pessimismo, desfaz-se, cada hora, entre a queixa e o azedume, identificando, em toda parte, males e nuvens, feridas e deserções.
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       Hoje, o Cristianismo Redivivo é sol na alma, auxiliando-nos a ver e a servir.
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       Entre nós, o princípio religioso não se confina à profissão de fé, vazada na confissão labial pura e simples.
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       Além da palavra que exprime o pensamento, será igualmente ação que reflete  vida.
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       É por isso que toda a nossa predicação deve começar em nós mesmos, através do estudo edificante que nos amplie o horizonte mental e através do serviço que nos propicie experiência.
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       Não vale situar a convicção nos conflitos estéreis.
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       Muitas vezes, a ofensiva verbal, culta e brilhante, não passa de frases belas e contundentes, à maneira de granizos, chovendo na plantação promissora.
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       Se já acordaste para a luz do Evangelho redivivo, não olvides que o Céu te convida a entender e auxiliar.
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       Purifica o verbo nas fontes vivas do amor que vertem no coração para que a injustiça não te governe o roteiro.
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       Cristo insculpiu n’Ele próprio a luz da mensagem que trazia, rendendo-se ao amor e à humildade, ao trabalho e ao sacrifício.
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       Também nós, guardando a nossa fé, em qualquer violência para com os outros, busquemos estampá-la na luta de cada dia, conscientes de que o próximo receber-nos-á o apelo renovador pela renovação que brilhe em nós mesmos."
(“Confie e segue”, Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

"HIGIENE ESPIRITUAL"

"Ante os detritos da maledicência, usemos a vassoura das boas palavras.
Ante o lixo do sarcasmo, cavemos a fossa do silêncio.
Ante os vermes da crueldade, mobilizemos os antissépticos do socorro cristão.
Ante o vírus da cólera ou da irritação que nos defrontam nas frases ou nas atitudes alheias, pratiquemos a profilaxia da prece.
Ante os tóxicos do pessimismo negrejante, acendamos a claridade do bom ânimo.
Ante o veneno da ociosidade, mobilizemos os nossos recursos de serviço.
Ante as serpes da incompreensão, realizemos mais vasto plantio de caridade.
Ante os micróbios da desconfiança, incentivemos a nossa sementeira de boa-vontade e fé.
Ante a erva sufocante dos conflitos de opinião, refugiemo-nos na boa vontade para com todos, que procura garantir o bem, acima de tudo.
Ante as perigosas moléstias do amor próprio ferido, a expressar-se no corpo e na alma, através de mil modos, pratiquemos o perdão incondicional e incessante.
Jesus não é somente o nosso Divino Orientador, é também o Divino Médico de nossa vida.

Procuremos, pois, no Evangelho, as Justas Instruções para nossa Higiene Espiritual e alcançaremos a harmonia para sempre."
("Relicário de Luz", Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

"O EVANGELHO NO LAR"

"Trabalhemos pela implantação do Evangelho no lar, quando estiver ao alcance de nossas possibilidades.

A seara depende da sementeira.

Se a gleba sofre o descuido de quem lavra e prepara, se o arado jaz inerte e se o cultivador teme o serviço, a colheita será sempre desengano e necessidade, acentuando o desânimo e a inquietação.

É importante nos unamos todos no lançamento dos princípios cristãos no santuário doméstico.

Trazer as claridades da Boa Nova ao templo da família é aprimorar todos os valores que a experiência terrestre nos pode oferecer.

Não bastará entronizar as relíquias materiais que se reportem ao Divino Mestre, entre os adornos da edificação de pedra e cal, onde as almas se reúnem sob os laços da comunidade ou da atração afetiva. É necessário plasmar o ensinamento de Jesus na própria vida, adaptando-se-lhe o sentimento à beleza excelsa.

Evangelho no Lar é Cristo falando ao coração. Sustentando semelhante luz nas igrejas vivas do lar, teremos a existência transformada na direção do Infinito Bem.

O Céu, naturalmente, não nos reclama a sublimação de um dia para outro nem exige de nós, de imediato, as atitudes espetaculares dos heróis.

O trabalho da evangelização é gradativo, paciente e perseverante. Quem recebe na inteligência a gota de luz da Revelação Cristã, cada dia ou cada semana transforma-se no entendimento e na ação, de maneira imperceptível.

Apaga-se nas almas felicitadas por essa bênção o fogo das paixões, e delas desaparecem os pruridos da irritação inútil que lhe situa o pensamento nos escuros resvaladouros do tempo perdido.

Enquanto isso ocorre, as criaturas despertam para a edificação espiritual com o serviço por norma constante de fé e caridade, nas devoluções a que se afeiçoam, de vez que compreendem, por fim, no Senhor, não apenas o amigo Sublime que ampara e eleva, mas também o orientador que corrige e educa para a felicidade real e para o bem verdadeiro.

Auxiliemos a plantação do cristianismo no santuário familiar, à luz da Doutrina Espírita, se desejamos efetivamente a sociedade aperfeiçoada no amanhã.

Em verdade, no campo vasto do mundo as estradas se bifurcam, mas é no lar que começam os fios dos destinos e nós sabemos que o homem na essência é o legislador da própria existência e o dispensador da paz ou da desesperação, da alegria ou da dor a si mesmo.

Apoiar semelhante realização, estendendo-se nos círculos das nossas amizades, oferecendo-lhe o nosso concurso ativo, na obra de regeneração dos espíritos na época atormentada que atravessamos, é obrigação que nos reaproximará do Mentor Divino, que começou o seu apostolado na Terra, não somente entre os doutores de Jerusalém, mas também nos júbilos caseiros da festa de Caná, quando, simbolicamente, transformou a água em vinho na consagração da paz familiar.

Que a providência Divina nos fortaleça para prosseguirmos na tarefa de reconstrução do lar sobre os alicerces do Cristo, nosso Mestre e Senhor, dentro da qual cumpre-nos colaborar com as nossas melhores forças."

( Bezerra de Menezes, na obra "Temas da Vida", Autores Diversos/Francisco Cândido Xavier)

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

"TENTAÇÃO"

        "Não cedas à tentação que te fustiga.
      Não te compliques por um minuto de concessão ao prazer.
      Quantos, ao teu redor, dariam tudo para retrocederem no passo que lhes precipitou a queda?
      A ilusão da carne é uma sombra que passa.
      Desenvolve os teus sentidos espirituais.
      Faze com que as tuas emoções transcendam o que a matéria te enseja vivenciar.
      Quanto  desencanto na alma de quem não logra
superar as próprias fragilidades!
      Fortalece-te, a cada dia, contra os hábitos infelizes que te dominam.
      Protesta, mentalmente, contra as tuas mazelas de ordem moral.
      Não mais te comprazas no que antes te refestelavas.
      Que a tentação jamais te encontre de vontade débil.
      E não te submetas, sem que te tenhas exaurido na luta."

(“Dias Melhores”, Irmão José/Carlos A. Baccelli)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

"DESAJUSTE APARENTE"

"Há quem afirme que a Doutrina dos Espíritos é viveiro de crentes indisciplinados, pelo excesso das interpretações e pelo arraigado individualismo dos pontos de vista. Outros proclamam que a Nova Revelação desloca a vida mental daqueles que a esposam, compelindo-os à renunciação.

Tais enunciados, porém, não encontram guarida nos fundamentos da verdade.

O Espiritismo, naturalmente, amplia os horizontes do ser.

A visão mais clara do Universo e a mais alta concepção da justiça dilatam na mente a sede de libertação, para mais altos vôos do espírito, e a compreensão mais clara, aliando-se à mais viva noção de responsabilidade, estabelece sublimes sentimentos para a alma, renovando os centros de interesse para o campo íntimo, que se vê, de imediato, atraído para problemas que transcendem a experiência vulgar.

Realmente, para quem estima os padrões convencionalistas, com plena adaptação ao menor esforço, não será fácil manejar caracteres livres, nos domínios da fé, porque os desvairamentos da personalidade invariavelmente nos espreitam, tentando-nos a impor sobre outrem o tacão do nosso modo de ser.

Dentro da Nova Revelação, todavia, não há lugar para qualquer processo de cristalização dogmática ou de tirania intelectual.

A imortalidade desvendada convida o homem a afirmar-se e o centro espiritual do aprendiz desloca-se para interesses que transcendem a esfera comum.

As inteligências de todos os tipos, tanto quanto os mundos, gravitam em torno de núcleos de força, que as influenciam sustentam.

O panorama do infinito, descortinado ao homem pelo nossos ideal, atrai o cérebro e o coração para outros poderes, e a criatura encarnada, imperceptivelmente induzida a operar em serviços diferentes, parece desajustada e sedenta, à procura de valores efetivamente importantes para os seus destinos na vida eterna.

As escolas religiosas oficializadas ou organizadas, presas a imperativos de estabilidade econômicas, habitualmente gravitam em derredor da riqueza perecível ou da autoridade temporal da Terra e jazem magnetizadas pela idéia de domínio e influência que, no mundo, facilitam a solidariedade e a união, de vez que a maioria dos espíritos encarnados, ainda cegos para a divina luz, reúnem-se e obedecem alegremente, ao redor do ouro ou do comando sobre os mais fracos.

Mas no Espiritismo é difícil aglutinar caracteres libertados, sob o estandarte nivelador da convenção.

Assim como aconteceu nos trezentos anos que antecederam a escravização política do Evangelho redentor, o discípulo da nossa Doutrina Consoladora pretende encontrar um caminho de acesso à vida superior.

Aceita as facilidades humanas para dar com largueza e desprendimento da posse.

Disputa o contentamento de trabalhar para servir.

Busca a liberdade para submeter-se às obrigações que lhe cabem.

Adquire luz para ajudar na extinção das trevas.

“Está no mundo sem ser do mundo.”

É alguém que, em negando a si mesmo, busca o Mestre da Verdade, recebendo, de boa vontade, a cruz do próprio sacrifício para a jornada de ressurreição.

E demorando-se cada discípulo, em esfera variada de trabalho, observamos que eles todos, à maneira de viajores, peregrinando escada acima, cada qual contemplando a vida e a paisagem do degrau em que se encontra, oferecem o espetáculo de almas em desajuste e extremamente separadas entre si, porquanto os habitantes do vale ou da planície, acostumados aos mesmos quadros de cada dia, com a repetição das mesmas nuances de claridade solar, não conseguem esquecer, de improviso, as velhas atitudes de muito tempo em nem podem entender o roteiro dos que se desinteressam da ilusão, caminhando, em sentido contrário ao deles, ao encontro de outra luz."
("Roteiro", Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)