"As
ansiedades permaneciam nos corações após os comentários do
Mestre.
Um
estudante da Verdade, ainda emocionado o inqueriu com
respeito:
—
Como poderei conceber a pureza de tal forma que reflita a luz divina em meu
coração? Vivendo em um planeta sombrio e de dificuldades, onde predomina o mal
com o seu séquito de misérias, isto será possível?
O
Amigo relanceou o olhar em volta, e notando o desejo de aprender que a indagação
despertara em todos, respondeu:
“— O
carvão é negro e de aspecto desagradável. A luz solar que o fere, nele não se
reflete, embora o penetre. Silenciosamente, no entanto, ele se vai
transformando, mudando a constituição até que se converte em um diamante estelar
que se deixa atravessar pelo raio luminoso em todas as direções e o devolve
iridescente num incêndio fulgurante.
O
homem é o Espírito que no seu corpo habita. Lentamente, etapa a etapa
reencarnacionista, abandona o limo da terra e se purifica, logrando a
transparência para a captação e irradiação do divino
pensamento.”
— E a
santificação — indagou outro aprendiz interessado — como consegui-la, se a cada
instante se cai e o desânimo toma posse da intenção
superior?
“— O
santo — esclareceu o Sábio — é o combatente que cresceu no solo do erro,
libertando-se da escravidão do vício, sem nunca permitir-se desanimar. Quem erra
e cai, mas não se dá por vencido, avançando sempre, embora devagar, conquista-se
e alcança a vitória total.
Toda
marcha resulta dos incontáveis passos que são dados. Ninguém pretenda as alturas
sem o esforço da ascensão paulatina.”
— E o
paraíso — indagou, ansiosa, uma observadora — é um lugar especial ou não passa
de quimera?
“— O
paraíso — aclarou o Guru, sem enfado — começa na consciência tranquila,
cujos atos estão de acordo com o pensamento reto. Ensejando paz interior
irradia-se como bênção e conduz o triunfador a regiões espirituais, nas quais a
felicidade é total, e a mente gera, para sua própria sublimação, tudo quanto
deseja. Ali não há sombra, nem morte, nem sofrimento, nem ansiedade; só
harmonia.”
—
Como explicar — adiu, respeitável ancião — a vitória dos maus e o fracasso dos
bons, as dores que sofrem os justos e os júbilos que fruem os
impiedosos?
O
Educador compreendeu a extensão da mágoa que feria o interrogante e explicou,
bondosamente:
“Não
há efeito sem causa. O homem, nobre e justo de hoje, é o criminoso arrependido
de ontem que se recupera. Enquanto o frívolo e pervertido de agora, é o semeador
do seu amanhã. A roda das encarnações sempre traz de volta o infrator ao
campo da reabilitação, da mesma forma que o faz com o justo que se liberta das
suas injunções.”
Um
grande silêncio pairou em derredor e a noite desceu sem preâmbulos sobre a
multidão."
(“A um passo da imortalidade”, Eros/Divaldo P. Franco)
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