"Lázaro, o Espírito autor da comunicação
intitulada A afabilidade e a doçura incluída por Kardec em O Evangelho
Segundo o Espiritismo, começa dizendo que a benevolência para com os
semelhantes é fruto do amor ao próximo, e que se manifesta na afabilidade e na
doçura, desde que sejam sinceras, nascidas no coração, e não pinceladas como uma
camada superficial de verniz.
Gostar das pessoas, aceitá-las e compreendê-las como são
deve ser um dos desafios mais difíceis neste nosso momento evolutivo.
Provavelmente por isso, pelo fato das pessoas serem como são e, não, como
desejaríamos, é que nos tornamos tão irritadiços, rudes, mal humorados em certos
momentos, vivendo o sentimento oposto àquele ao qual Lázaro nos
convida.
Uma
das causas frequentes de nossa falta de boa vontade com algumas pessoas,
inclusive muito próximas de nós, é o apego a ideias de como as coisas e as
pessoas deveriam ser. Temos um sonho a respeito de nossos pais, cônjuge ou
filhos ideais, sobre como nossos colegas deviam nos tratar, sobre o carro que
queríamos dirigir e a casa em que sonhamos morar. De modo que, quando o panorama
geral de nossas vidas contém muito pouco ou nada do que planejamos, sentimo-nos
praticamente no direito de sermos ruins, amargurados,
deprimidos.
Não é
raro que a vida esteja muito diferente do que programamos, mas não quer dizer
que a vida que temos não seja boa. Ninguém tem uma vida totalmente ruim, mesmo
sendo difícil. E mais facilmente identificaríamos as bênçãos se parássemos de
sofrer com nossos devaneios para encontrar a alegria da vida
real.
No
que se refere às pessoas, não existe um ser humano que não tenha uma qualidade.
Pode ser uma que não vemos, porque estamos procurando aquela que melhor nos
serviria, que mais se encaixaria no nosso sonho. Há pessoas que carregam pesados
fardos de revolta toda uma existência, porque seus pais não foram o seu ideal de
pais. E, ainda por cima, culpam esses pais por não terem sido como desejavam, o
que é uma atitude comum.
Culpar o outro por não ser do jeito que eu quero é um
absurdo, que nos faz descarregar nossas frustrações sobre ele e transformar a
vida dele (que nada tem a ver com nossos delírios) numa vida
horrorosa.
Seria
muito mais fácil desenvolver boa-vontade nos relacionamentos, se não tivéssemos
tantas projeções de paraísos ocupando nossa mente. Parar de criar fantasias,
viver a realidade das pessoas e situações como elas são, gera uma atitude íntima
de aceitação e benevolência, sem cobranças nem frustrações, que nos faria um
grande bem.
Raciocine comigo: que vida é a vida boa com que
sonhamos? Um dia ouvi o Gasparetto dizer que ela é apenas um delírio, feito
de fragmentos de vidas de pessoas que imagino que vivam bem, pessoas que parecem
felizes e completas nos momentos em que as observávamos. Mas o que sabemos de
fato sobre o todo, sobre o que acontece com elas nas vinte e quatro horas do
dia? Sobre seus pensamentos, vontades, desafios, família, saúde,
afetos?
O
mais provável é que a vida com que sonhamos nem exista. Em vista disso,
resta-nos a realidade. E quanto mais apagamos de nossas mentes a fantasia,
maiores as chances de descobrir elementos de prazer e alegria espalhados na vida
real. E haverá mais afabilidade e doçura em nossas palavras e gestos, tornando a
vida muitíssimo mais agradável."
(“Forma Interior”, Rita Foelker)
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