quinta-feira, 15 de agosto de 2013

"O CORPO ESPIRITUAL"

"— Desencarnar!... Parece coisa de açougueiro! — comentava, jocoso, um amigo, católico convicto.
       E eu, no mesmo tom:
       — O açougueiro descarna. A gente desencarna, sai da carne. Aliás, você é tão magro que provavelmente vai desensossar, sair do ossos.
       Curiosa a resistência à expressão desencarnar. Compreensível que o materialista não a aceite. Afinal, para ele tudo termina no túmulo... O mesmo não deveria ocorrer com as pessoas que aceitam a sobrevivência., adeptos de qualquer religião. Se concebemos que a individualidade sobrevive à morte física, ela se impõe para definir o processo que libera o Espírito da carne.
       Imperioso para uma compreensão melhor do assunto considerar a existência do corpo espiritual ou períspirito, conforme explicam as questões 150 e 150-a, de “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”:
       “A alma, após a morte, conserva a sua individualidade?”
       “Sim, jamais a perde. Que seria ela, se não a conservasse?”
       “Como comprova a alma sua individualidade, uma vez que não tem mais corpo material?”
       “Continua a ter um fluido que lhe é próprio, haurido na atmosfera do seu planeta, e que guarda a aparência de sua última encarnação: seu períspirito.”
       Bastante esclarecedoras são, também as questões 135 e 135-a:
       “Há no homem alguma outra coisa além da alma e do corpo?”
       “Há o laço que liga a alma ao corpo.”
       “De que natureza é esse laço?”
       “Semimaterial, isto é, de natureza intermédia entre o Espírito e o corpo. É preciso que seja assim para que os dois de possam comunicar um com o outro. Por meio desse laço é que o Espírito atua sobre a matéria e reciprocamente.”
       Comenta Kardec:
       “O homem é, portanto, formado de três partes essenciais:
       1º - O corpo ou ser material, análogo ao dos animais e animado pelo mesmo princípio vital;
       2º -  A alma, Espírito encarnado que tem no corpo a sua habitação.
       3º  -  O princípio intermediário, ou períspirito, substância Semimaterial que serve de primeiro envoltório ao Espírito e liga a alma ao corpo. Tais, num fruto, o gérmen, o perisperma e a casca.”
       Desde os tempos mais recuados os estudiosos admitem a existência de um corpo extracarnal, veículo de manifestação do Espírito no plano em que atua (no plano físico, ligando-o à carne; no plano espiritual, compatibilizando-o com as características e os seres da região onde se situe).
       O apóstolo Paulo reporta-se ao períspirito quando diz, na II Epístola aos Coríntios (12:2 a 4): “Conheço um homem em Cristo, que há 14 anos (se no corpo não sei, se fora do corpo não sei; Deus o sabe), foi arrebatado até ao terceiro céu. E sei que o tal homem foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, de que ao homem não é lícito falar”.
       Enquanto a máquina física dormia, atendendo aos imperativos de descanso, Paulo, em corpo espiritual, deslocava-se rumo às Esferas Superiores, conduzido por mentores amigos, a fim de receber preciosas orientações. Tentando, talvez, definir a natureza de sua experiência, ele comenta, na I Epístola aos Coríntios (15:40): “Há corpos celestes e corpos terrestres”.
       Semelhantes deslocamentos não constituem privilégio dos santos. Todas as criaturas humanas o fazem, diariamente, durante o sono, com registros fugazes e fragmentários na forma de sonhos. Considere-se, entretanto, que a natureza dessas excursões é determinada pelas atividades na vigília. Por isso, o homem comum, preso a interesses imediatistas, configurando prazeres, vícios e ambições, a par de uma total indiferença pelo auto-aprimoramento espiritual e a disciplina das emoções, não tem a mínima condição para experiências sublimes como a de Paulo.
       Todos “morremos”, diariamente, durante o sono. Mas, para transitar com segurança e lucidez nas regiões além-túmulo, nessas horas, aproveitando integralmente as oportunidades de aprendizado, trabalho e edificação, ´-e preciso cultivar os valore do espírito durante a vigília. Caso contrário estaremos tão à vontade no Plano Espiritual, como peixes fora d’água."
(“Quem tem medo da morte?”, de Richard Simonetti)
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