"Habitualmente, consideramos a
necessidade do perdão apenas quando alvejados por ofensas de caráter público, no
intercurso das quais recebemos tantos testemunhos de solidariedade, na esfera
dos amigos, que nos demoramos hipnotizados pelas manifestações afetivas, a
deixar-nos em mérito duvidoso.
A ciência do perdão, todavia, tão
indispensável ao equilíbrio, quanto o ar é imprescindível à existência, começa
na compreensão e na bondade, perante os diminutos pesares do mundo
íntimo.
Não apenas desculpar todos os
prejuízos e desvantagens, insultos e desconsiderações maiores que nos atinjam a
pessoa, mas suportar com paciência e esquecer completamente, mesmo nos
comentários mais simples, todas as pequeninas injustiças do cotidiano, como
sejam:
a observação
maliciosa;
a referência
pejorativa;
o apelo sem
resposta;
a gentileza
recusada;
o benefício
esquecido;
o gesto
áspero;
a voz
agressiva;
a palavra
impensada;
o sorriso
escarnecedor;
o apontamento
irônico;
a indiscrição
comprometedora;
o conceito
deprimente;
a acusação
injusta;
a exigência
descabida;
a omissão
injustificável;
o comentário
maledicente;
a desfeita
inesperada;
o menosprezo em
família;
a preterição sob qualquer
aspecto;
o recado
impiedoso...
Não nos iludamos em matéria de
indulgência.
Perdão não é recurso tão-somente
aplicável nas grandes dores morais, à feição do traje a rigor, unicamente usado
em horas de cerimônia. Todos os menos suscetíveis de erro e, por isso mesmo,
perdão é serviço de todo instante, mas, assim como o compositor não obtém a
sinfonia sem passar pelo solfejo, o perdão não existe, de nossa parte, ante os
agravos grandes, se não aprendemos a relevar as indelicadezas
pequenas."
(“Estude e Viva”, Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)
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