quinta-feira, 3 de maio de 2012

"17. A DOUTRINA E AS OBRAS DE DEUS"

"A descrença com que se têm referido à Doutrina Espírita, quando
não é o resultado de uma oposição sistemática interesseira, tem quase
sempre origem no conhecimento incompleto dos fatos, o que não impede
algumas pessoas de abordar e decidir a questão como se a conhecessem
perfeitamente. Pode-se ser muito inteligente, ter muita instrução
e não se ter bom senso; portanto, o primeiro indício de falta de discernimento
quando se julga é acreditar ser infalível. Muitas pessoas também
vêem as manifestações espíritas somente como curiosidade; esperamos
que pela leitura deste livro elas encontrem nesses extraordinários fenômenos
outra coisa além de um simples passatempo.


A ciência espírita compreende duas partes: uma experimental,
sobre as manifestações em geral, e outra filosófica, sobre as manifestações
inteligentes. Todo aquele que somente observou a primeira
está na posição de quem conhece a física apenas por experiências
recreativas, sem ter penetrado a fundo na ciência. A verdadeira Doutrina
Espírita está no ensinamento dado pelos Espíritos, e os conhecimentos
que esse ensinamento comporta são muito sérios para serem
adquiridos de qualquer outro modo que não seja por um estudo atencioso
e contínuo, feito no silêncio e no recolhimento, porque somente
nessa condição pode-se observar um número infinito de fatos e de
detalhes que escapam ao observador superficial e permitem firmar
uma opinião. Se este livro não tivesse outra finalidade que não fosse
mostrar o lado sério da questão e de provocar estudos nesse sentido,
para nós já seria bastante honroso e ficaríamos felizes por ter realizado
uma obra a que não pretendemos, de resto, nos atribuir mérito pessoal,
uma vez que seus princípios não são de nossa criação e o seu
mérito é inteiramente dos Espíritos que a ditaram. Esperamos que ela
tenha um outro resultado: o de guiar os homens desejosos de se
esclarecer, mostrando-lhes nestes estudos um objetivo grande e
sublime: o do progresso individual e social, e de lhes indicar o caminho
a seguir para atingi-lo.


Concluímos com uma última consideração. Os astrônomos, ao
sondar os espaços, encontraram na distribuição dos corpos celestes
lacunas não justificadas e em desacordo com as leis do conjunto. Eles
supuseram que essas lacunas deveriam estar ocupadas por globos
que escapavam à sua observação, mas, ao mesmo tempo, observa-
ram alguns efeitos cuja causa desconheciam e concluíram: “Aí deve
haver um mundo, porque essa lacuna não pode existir e esses efeitos
devem ter uma causa”. Analisando, então, a causa pelo efeito, puderam
calcular os elementos, e mais tarde os fatos vieram justificar suas
previsões. Apliquemos esse mesmo raciocínio a uma outra ordem de
idéias. Se observarmos todas as criaturas, verificaremos que formam
uma cadeia, sem interrupção, desde a matéria bruta até o homem
mais inteligente. Mas entre o homem e Deus, o alfa e o ômega de
todas as coisas, que imensa lacuna! É racional pensar que terminem
no homem os elos dessa cadeia? Ou que ele possa transpor de uma
vez a distância que o separa do infinito? A razão nos diz que entre o
homem e Deus deve haver outros escalões, como disse aos astrônomos
que entre os mundos conhecidos devia haver outros mundos desconhecidos.
Qual é a filosofia que preencheu essa lacuna? O Espiritismo
a mostra ocupada por seres de todas as categorias do mundo
invisível, e esses seres não são outros senão os Espíritos dos homens
que atingiram os diferentes graus que conduzem à perfeição;
então, tudo se liga, tudo se encaixa, desde o alfa até o ômega. Vós
que negais a existência dos Espíritos, preenchei, portanto, o vazio
que eles ocupam; e vós que rides deles, ousai rir das obras de Deus e
de seu grande poder!"


(Allan Kardec)


("O Livro dos Espíritos", Allan Kardec)

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