terça-feira, 26 de outubro de 2010

A IDENTIDADE DOS ESPÍRITOS




"Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita"

"12 – A IDENTIDADE DOS ESPÍRITOS""Um fato que a observação demonstrou e foi confirmado pelos próprios Espíritos é que os Espíritos inferiores apresentam-se, muitas vezes, com nomes conhecidos e respeitados. Quem pode nos assegurar que aqueles que dizem ter sido, por exemplo, Sócrates, Júlio César, Carlos Magno, Fénelon, Napoleão, Washington, etc. tenham realmente animado esses personagens? Essa dúvida existe entre alguns adeptos fervorosos da Doutrina Espírita; admitem a intervenção e a manifestação dos Espíritos, mas se perguntam como comprovar sua identidade. Essa comprovação é, de fato, muito difícil de estabelecer, já que não pode ser apurada de uma maneira tão prática e simples como por meio de um documento de identidade. Pode, entretanto, ser feita por alguns indícios.
Quando o Espírito de alguém que conhecemos pessoalmente se manifesta, seja de um parente ou de um amigo, por exemplo, especialmente se morreu há pouco tempo, ocorre, em geral, que sua linguagem está em perfeita relação com o seu caráter; isso já é um indício de identidade. Mas não há mais dúvida quando esse Espírito fala de coisas particulares, lembra de fatos de família apenas conhecidos pelo interlocutor. Um filho não se equivocaria certamente com a linguagem de seu pai ou de sua mãe, nem os pais com a de seu filho. Algumas vezes, nessas evocações, acontecem coisas surpreendentes, de forma a convencer o mais incrédulo. O cético mais endurecido fica, então, maravilhado com as revelações inesperadas que lhe são feitas.
Uma outra circunstância muito característica vem fundamentar a identidade do Espírito. Dissemos que a letra do médium muda geralmente com o Espírito evocado, e que essa escrita se reproduz exatamente igual a cada vez que o mesmo Espírito se apresenta. Constatou-se, muitas vezes, que para as pessoas mortas há pouco tempo, essa escrita tem uma semelhança marcante com a da pessoa quando viva; têm-se visto assinaturas de uma exatidão perfeita. Estamos longe de dar esse fato, embora observado, como regra e, principalmente, como uma regra constante; nós o mencionamos como algo digno de nota.
Somente os Espíritos que atingiram um certo grau de purificação estão desligados de toda influência corporal. Porém, quando não estão completamente desmaterializados (é essa a expressão da qual se servem), conservam a maior parte das idéias, das tendências e até mesmo das manias que tinham na Terra, o que demonstra o meio de os reconhecermos; como também numa grande quantidade de fatos e detalhes, que somente uma observação atenta e firme pode revelar. Vêem-se escritores discutir suas próprias obras ou suas doutrinas, aprovar ou condenar certas partes; outros Espíritos a lembrar fatos ignorados ou pouco conhecidos de sua vida ou de sua morte; enfim, detalhes que são pelo menos provas morais de identidade, as únicas a que se pode recorrer quando se trata de coisas abstratas, isto é, que estão fora da realidade.
Se, portanto, a identidade do Espírito evocado pode ser, até certo ponto, estabelecida em alguns casos, não há razão para que não o seja em outros, e se, em relação às pessoas cuja morte ocorreu há mais tempo, não há os mesmos meios de controle, tem-se sempre o da linguagem e do caráter que revelam, porque, seguramente, o Espírito de um homem de bem não falará como um perverso ou um devasso. Quanto aos Espíritos que se apresentam exibindo nomes respeitáveis, logo se traem pela linguagem e pelos ensinamentos. Aquele que dissesse ser Fénelon, por exemplo, e embora acidentalmente ofendesse o bom senso e a moral, mostraria, por esse simples fato, a fraude. Se, ao contrário, os pensamentos que exprimisse fossem sempre puros, sem contradições e constantemente à altura do caráter de Fénelon, não haveria motivos para duvidar de sua identidade. De qualquer maneira, seria preciso supor que um Espírito que apenas prega
o bem pode conscientemente empregar a mentira, e isso sem utilidade. A experiência nos ensina que os Espíritos da categoria, do mesmo caráter e animados pelos mesmos sentimentos se reúnem em grupos ou em famílias; que o número de Espíritos é incalculável e estamos longe de conhecê-los todos; e que até mesmo a maior parte deles não tem nome para nós. Um Espírito da mesma categoria de Fénelon pode vir em seu lugar, muitas vezes, enviado a seu pedido; apresentar-se sob seu nome, pois lhe é idêntico, e substituí-lo, porque precisamos de um nome para fixar nossas idéias. Mas o que importa, em definitivo, que um Espírito seja realmente ou não o de Fénelon? A partir do momento que somente diz coisas boas e que fala como o próprio Fénelon falaria, é um bom Espírito; o nome com que se apresenta é indiferente e, muitas vezes, é apenas um meio de fixar nossas idéias. O mesmo não seria admissível nas evocações dos familiares; mas aí, como dissemos, a identidade pode ser estabelecida por provas de alguma forma evidentes.
Contudo, é certo que a substituição dos Espíritos pode ocasionar uma série de enganos e resultar em erros e, muitas vezes, em mistificações; essa é uma dificuldade do Espiritismo prático. Mas nunca dissemos que fosse algo fácil, nem que se pudesse aprendê-lo brincando, como não se faz com qualquer outra ciência. Nunca será demais repetir que ele pede um estudo assíduo e, freqüentemente, bastante prolongado; não podendo provocar os fatos, é preciso esperar que se apresentem por si mesmos e, freqüentemente, são conduzidos por circunstâncias com as quais nem ao menos se sonha. Para o observador atento e paciente, os fatos se produzem e então ele descobre milhares de detalhes característicos que representam fachos de luz. É assim também nas ciências comuns, enquanto o homem superficial vê numa flor apenas uma forma elegante, o sábio descobre nela tesouros para o pensamento."
("O Livro dos Espíritos", Allan Kardec)

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