quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A DOUTRINA E AS OBRAS DE DEUS



"Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita"


"17 – A DOUTRINA E AS OBRAS DE DEUS"

"A descrença com que se têm referido à Doutrina Espírita, quando não é o resultado de uma oposição sistemática interesseira, tem quase sempre origem no conhecimento incompleto dos fatos, o que não impede algumas pessoas de abordar e decidir a questão como se a conhecessem perfeitamente. Pode-se ser muito inteligente, ter muita instrução e não se ter bom senso; portanto, o primeiro indício de falta de discernimento quando se julga é acreditar ser infalível. Muitas pessoas também vêem as manifestações espíritas somente como curiosidade; esperamos que pela leitura deste livro elas encontrem nesses extraordinários fenômenos outra coisa além de um simples passatempo.
A ciência espírita compreende duas partes: uma experimental, sobre as manifestações em geral, e outra filosófica, sobre as manifestações inteligentes. Todo aquele que somente observou a primeira está na posição de quem conhece a física apenas por experiências recreativas, sem ter penetrado a fundo na ciência. A verdadeira Doutrina Espírita está no ensinamento dado pelos Espíritos, e os conhecimentos que esse ensinamento comporta são muito sérios para serem adquiridos de qualquer outro modo que não seja por um estudo atencioso e contínuo, feito no silêncio e no recolhimento, porque somente nessa condição pode-se observar um número infinito de fatos e de detalhes que escapam ao observador superficial e permitem firmar uma opinião. Se este livro não tivesse outra finalidade que não fosse mostrar o lado sério da questão e de provocar estudos nesse sentido, para nós já seria bastante honroso e ficaríamos felizes por ter realizado uma obra a que não pretendemos, de resto, nos atribuir mérito pessoal, uma vez que seus princípios não são de nossa criação e o seu mérito é inteiramente dos Espíritos que a ditaram. Esperamos que ela tenha um outro resultado: o de guiar os homens desejosos de se esclarecer, mostrando-lhes nestes estudos um objetivo grande e sublime: o do progresso individual e social, e de lhes indicar o caminho a seguir para atingi-lo.
Concluímos com uma última consideração. Os astrônomos, ao sondar os espaços, encontraram na distribuição dos corpos celestes lacunas não justificadas e em desacordo com as leis do conjunto. Eles supuseram que essas lacunas deveriam estar ocupadas por globos que escapavam à sua observação, mas, ao mesmo tempo, observaram alguns efeitos cuja causa desconheciam e concluíram: “Aí deve haver um mundo, porque essa lacuna não pode existir e esses efeitos devem ter uma causa”. Analisando, então, a causa pelo efeito, puderam calcular os elementos, e mais tarde os fatos vieram justificar suas previsões. Apliquemos esse mesmo raciocínio a uma outra ordem de idéias. Se observarmos todas as criaturas, verificaremos que formam uma cadeia, sem interrupção, desde a matéria bruta até o homem mais inteligente. Mas entre o homem e Deus, o alfa e o ômega de todas as coisas, que imensa lacuna! É racional pensar que terminem no homem os elos dessa cadeia? Ou que ele possa transpor de uma vez a distância que o separa do infinito? A razão nos diz que entre o homem e Deus deve haver outros escalões, como disse aos astrônomos que entre os mundos conhecidos devia haver outros mundos desconhecidos. Qual é a filosofia que preencheu essa lacuna? O Espiritismo a mostra ocupada por seres de todas as categorias do mundo invisível, e esses seres não são outros senão os Espíritos dos homens que atingiram os diferentes graus que conduzem à perfeição; então, tudo se liga, tudo se encaixa, desde o alfa até o omega. Vós que negais a existência dos Espíritos, preenchei, portanto, o vazio que eles ocupam; e vós que rides deles, ousai rir das obras de Deus e de seu grande poder!"
("O Livro dos Espíritos", Allan Kardec)

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