"Expressiva a diferença entre a dúvida honesta e a
incerteza sistemática.
A
primeira desaparece ante a linguagem evidente do fato, constituindo-se segurança
desta ou daquela qualidade. A segunda, entranhada na tecelagem íntima do caráter
que investiga, transfere-se; muda de situação e insiste,
depreciativa.
A
dúvida não anula a fé, antes atesta-lhe a débil presença, enquanto a incerteza
mórbida despoja a crença das qualidades que a
legitimam.
Por
um natural processo de transferência psicológica, o homem sempre supõe noutro o
que lhe é familiar, o de quanto é capaz.
Desde
que lhe pareça factível ludibriar e mentir, em toda parte e em qualquer pessoa
vê-se refletido, facultando-lhe atormentar pelo espinho da
descrença.
Tais
pessoas, as que descreem por hábito, nas amizades, sentem-se
marginalizadas;
nas
afeições, consideram-se traídas;
nos
negócios, supõem-se ludibriadas;
na
vida social, acreditam-se subestimadas;
na fé
religiosa, receiam ser enganadas...
Fazem-se fiscais do próximo, impenitentes, às vezes
sorrindo, sob falsa superioridade com que ferem, , desatentos, todos, por
saberem-se em rudes conflitos.
Também as há nas lides
espiritistas.
Atormentam-se e atormentam.
Aparentam uma retidão que sabem frágil, banindo a lídima
fraternidade, por desejarem impor-se sempre.
No
conceito de tais atribulados espíritos, todos estão em erro, menos eles. Ocorre
que consideram o próximo conforme se consideram. No fundo, não encontraram
deficiências nos a quem acusam. A contrário, gostariam de descobrir-lhes as
imperfeições, a fim de se darem por compensados, ante a própria
pequenez.
Não
entres em litígio com eles.
Descarta-te gentilmente, se não puderes fazer outra
coisa. Não te envolvas, porém.
Nutrindo sentimento de surda animosidade, que,
conscientemente, desconhecem, são demolidores, fácil interfone para cruéis
perturbadores desencarnados.
-x-
Judas, que se enganou no torvelinho de contínuas e
infelizes incertezas e suspeitas, não era estranho ao Grupo Galileu, antes, fora
membro de eleição e amigo de todos.
Perdoa, de tua parte, aqueles que te duvidam e te
desconsideram, descreem-te e amarguram-te as horas, porquanto, da mesma forma
como darás “contas da tua administração”, também eles serão examinados e
considerados com o mesmo rigor com que se houverem em relação ao
próximo.
De
tua parte, ama e confia, porque, em verdade, quem erra, mente ou trai, a si
próprio prejudica."
(“Celeiro de Bênçãos”, Joanna de Ângelis/Divaldo P. Franco)
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