quinta-feira, 10 de agosto de 2017

"ENERGIA SEXUAL" - "Canalização de Energia"

Canalização de energia

"O sexo, como qualquer outra função biológica, tem a sua finalidade precípua, que é a continuidade da vida na Terra. Ele se apresenta como um dos nossos mais predominantes instintos primários, aqueles que garantem a nossa preservação.

Para que os seres fossem atraídos uns aos outros, no intuito de realizarem o fenômeno da reprodução, a Natureza permitiu que os hormônios nos proporcionassem as sensações e os sentimentos nos concedessem as emoções. As duas experiências estão na pauta da nossa estrutura mental.

Aqueles que estagiam nas faixas primárias da evolução preferem as sensações que saturam rápido, passando a buscar experiências novas e diferentes que vão desaguar nas aberrações. Os indivíduos que transitam pela faixa evolutiva do equilíbrio, porque encontraram a realidade do espírito, têm mais emoções do que sensações. Nessas pessoas o intercurso sexual é feito de ternura, não é brutal como nos seres primitivos.

A nossa tarefa evolutiva é aprimorar os recursos espirituais de que somos portadores para atingir um estado de sublimação sexual. Essa sublimação não se dá exclusivamente pela abstinência. O indivíduo poderá se abster do uso do sexo, mas permanecer com os quadros mentais dos tormentos. Parceiros que vivem em plena harmonia estão sublimando a função sexual. E quando um dos dois experimenta a viuvez está tão perfeitamente integrado às aspirações superiores que pode dispensar o exercício da função, já que a mente equilibrada proporciona um estado de paz.

Ele preenche os espaços mentais com as lembranças e a gratidão ao ser amado.

Joanna de Ângelis afirma que sublimação não é abandonar a vivência sexual para assumir uma conduta castradora, inibitória. Afinal, muitas pessoas se encontram em castidade não por opção consciente, mas por conflito.

A disciplina mental, que favorece a sublimação sexual, é um hábito que pode ser adquirido mediante o esforço. Se nós selecionarmos os conteúdos que guardamos em nosso psiquismo ficará muito mais fácil alcançar a paz interior que nos preservará de tormentos desnecessários.

 Eu procuro manter uma técnica para não impregnar a mente com cenas deploráveis: não me detenho a olhar tudo aquilo que está ao meu alcance. Seleciono as imagens para diferenciar aquelas que são agradáveis daquelas que não me interessa registrar.

De acordo com o direcionamento da mente a nossa energia sexual será utilizada de formas variadas. Afinal, os fatores diferenciais do sexo (masculino e feminino) podem ser localizados no sistema reprodutor. Mas a sexualidade está localizada em todo o corpo, na mente, na aura e na emanação psíquica que possuímos.

Apoiados nas conclusões do grande cientista francês Lavoisier, compreendemos que em a Natureza nada se perde, pois tudo se transforma e assume outras configurações para se manifestar.
 
Por essa razão o nosso corpo pode ser interpretado como um grande laboratório.

Na área da sexualidade poderemos entender que a energia que não for exteriorizada em uma relação sexual, o organismo irá liberar espontaneamente durante o sono, no fenômeno das poluções noturnas, processos de ejaculação que eliminam os excessos de energia fisiopsíquica.

As glândulas endócrinas, em particular as glândulas sexuais, são fundamentais à nossa vida orgânica e psíquica. Os sábios esotéricos há milênios conhecem o gradiente de energia de que dispõe o nosso sistema genésico. Eles propõem que o ser humano realize o deslocamento das energias sexuais para ampliar a potência de funcionamento cerebral, num processo classificado como a ascensão da kundaline (a serpente de fogo, no idioma sânscrito). É um trabalho que todos poderemos fazer utilizando o recurso da meditação. Não me estou referindo à meditação transcendental exclusivamente, mas à reflexão, à busca da disciplina do pensamento, já que a função sexual atende aos apelos da nossa vida mental. Quando esta função se manifesta à revelia do nosso controle consciente significa que estamos experimentando um transtorno de comportamento.

Muitas pessoas dirão, em uma análise apressada, que a relação sexual desgasta o ser humano e prejudica sua saúde. Na realidade não é a relação sexual em si mesma que desgasta o corpo e
compromete o funcionamento do sistema reprodutor, mas é a mente viciada que lança toxinas psíquicas na estrutura dos órgãos e glândulas sexuais. Quando um casal se ama e se respeita, no momento da relação sexual são liberados também hormônios psíquicos de ternura, que se convertem em verdadeiro nutriente para o corpo e para a mente dos parceiros.

Um Espírito amigo disse-me certa vez:
— Em uma relação sexual feita de ternura ocorre uma transmissão de energia das mais profundas, semelhante a uma aplicação de passe. Na terapia do passe as energias penetram lentamente a aura e os poros do períspirito para depois beneficiar o corpo físico. Durante a intimidade de um casal que se ama a bioenergia sexual penetra com mais intensidade no organismo.

Há um fluxo de bioenergia de fora para dentro, a partir da radiação psíquica absorvida do parceiro, e outro de dentro para fora, que se origina no próprio orgasmo do indivíduo. Os dois fluxos de energia exercem sobre o casal um efeito terapêutico, irradiando-se pelos órgãos e produzindo saúde.

E tudo isso graças ao milagre do amor!

De forma semelhante, nas experiências místicas dos santos, como São Francisco de Assis e Santa Teresa D’Avila, verificamos que no momento culminante do êxtase espiritual eles experimentavam o orgasmo do amor psíquico, no qual o corpo apresentava descargas de orgasmo  idênticas àquelas que têm lugar numa relação sexual. Como a nossa estrutura biológica preserva os mecanismos que são próprios ao reino animal, era natural que no instante do êxtase o organismo daqueles grandes místicos reagisse conforme está biologicamente programado, liberando a energia acumulada por certo tempo. O orgasmo é uma reação do sistema nervoso ao estímulo provocado pela emoção.

Esse fenômeno que descrevemos para os santos da igreja vale para todos os grandes místicos orientais da índia, da China, do Japão e de outros países. São monges do budismo, do taoísmo, das doutrinas esotéricas. Todos eles são Espíritos habitando um corpo.
Além das formas mencionadas para o escoamento da energia sexual, poderemos canalizar essas energias para a nossa vitalidade e a nossa evolução. Os fenômenos mediúnicos também podem requisitar esses recursos fisiopsíquicos, uma vez que o exercício da mediunidade poderá mobilizá-los com grande proveito e sem qualquer prejuízo para o indivíduo.

Em face disso, aqueles que pretendem exercer de forma saudável a sua faculdade mediúnica devem cultivar a educação sexual e afetiva. Mas esta educação precisa estender-se para outros aspectos, pois não adiantará ao médium educar as forças sexuais e cultivar o hábito de ralar da vida alheia, criticando as pessoas e preocupando-se com aquilo que não lhe diz respeito. Também não será equilibrada a mediunidade do indivíduo que experimenta o ódio e guarda ressentimentos.
 
Conheço pessoas muito bem-educadas sexualmente, mas que alimentam a inveja impiedosa e apreciam crucificar os outros, carregando na alma ressenti mentos terríveis. E ainda se arvoram em afirmar: “Eu vivo com pureza de alma, pois tenho uma vida sexual sem maiores comprometimentos!”. Em realidade, uma postura com essa configura um conflito psicológico, mediante o qual a pessoa identifica no semelhante a imagem do que não tem coragem de fazer, um mecanismo de projeção do ego que lhe faz exibir uma falsa pureza para escamotear o seu drama íntimo.

Se uma pessoa é portadora de mediunidade e não trabalha suas energias sexuais para adquirir saúde integral, correrá o risco de ser uma presa fácil dos Espíritos que se obstinam em prejudicá-la.
 
A maturação sexual do adolescente, por exemplo, guarda relação com uma variada gama de fenômenos mediúnicos. A atividade das glândulas sexuais e endócrinas demais modifica os padrões de funcionamento da vida psíquica do jovem, facultando a eliminação de uma grande quantidade de energia que poderá ser canalizada de forma inadequada, caso o jovem não receba uma orientação educacional eficaz.

Por essa razão, na produção de fenômenos de efeito físico, como os fenômenos denominados de poltergeist, a energia sexual funciona como um fator preponderante.

Ao longo das décadas em que tenho viajado para atender aos compromissos de divulgação espírita, testemunhei inúmeras ocorrências de apedrejamento, deslocamento de objetos, combustão espontânea e outros fenômenos mediúnicos de efeito físico. E constato que nos locais onde esses episódios acontecem sempre existe um adolescente na residência ou nas proximidades. 

No momento da puberdade, quando o organismo humano altera o seu funcionamento hormonal e desenvolve os caracteres sexuais secundários, há uma energia fisiopsíquica que eclode no indivíduo e de que os Espíritos levianos se utilizam. Esses desencarnados, normalmente inimigos do passado do médium adolescente, dão curso a dolorosos processos de perseguição. Tenho visto pessoas em cuja pele eles cravam agulhas, produzem cortes profundos ou escrevem palavras na epiderme, fazendo-a sangrar, graças ao passado de delito da vítima e à energia liberada por ela na fase da puberdade.

A abordagem ideal para o atendimento de urgência a esses jovens é o passe, uma transmissão de bioenergia com finalidade terapêutica, que deverá ser seguida pela evangelização. E à medida que este indivíduo for realizando o seu trânsito para a fase adulta, concluindo o período da puberdade e da adolescência, ele deverá aprender técnicas de amadurecimento mental, de educação afetiva e
sexual.

Um dos maiores exemplos de aquisição de disciplina sexual e canalização de energia para o bem é o do apóstolo Paulo de Tarso, que era um Espírito antigo e muito rico de desenvolvimento
intelectual. Porém, antes da sua grande transformação, quando se tornou cristão e trabalhou com afinco pela divulgação dos ensinamentos de Jesus, ainda possuía uma evolução moral bastante precária, pois nessa primeira fase da sua trajetória terrena ele revelou ausência de sentido ético, de respeito à vida. Quando era rabino, foi responsável por inúmeras mortes, como o assassinato de Estêvão a pedradas, caracterizando-se como um homicida cruel. Vários outros cristãos morreram pelas suas mãos. No entanto, quando ia a Damasco para matar e tem o encontro com Jesus, a sua honestidade e lealdade à fé mosaica abre espaço para que ele agora aplique a mesma energia na causa do Cristo. Sua transformação espiritual foi absolutamente extraordinária! Por isso, eu acredito que Paulo, numa só encarnação, atingiu o ápice da evolução que se pode alcançar na Terra.

Ele confessava que muitas vezes não fazia aquilo que queria, mas exatamente o que não desejava, demonstrando ser uma criatura frágil, com dramas emocionais que necessitava superar, como qualquer um de nós. Contudo, era portador de vontade férrea! E neste sentido, como noutros, é um personagem fascinante!
 
Entre os seus dramas evolutivos o apóstolo confessava ter “um espinho na carne”.

Ao longo dos séculos muitos teólogos se questionaram sobre o que seria esse espinho, sem que nenhum estudioso propusesse uma explicação satisfatória. Eu também me perguntei durante vários anos:
Que espinho seria esse na carne de Paulo? O que é que lhe constituía um tormento? Até que cheguei a uma conclusão pessoal.

Reflexionando por um largo período, concluí que aquele homem vigoroso e audaz era um indivíduo com todas as suas funções sexuais em plena vitalidade. Por isso, ele também possuía os impulsos fisiológicos que são normais em qualquer ser humano como decorrência do funcionamento hormonal, ainda mais por ser um homem belo e jovem. Entretanto, Paulo decidiu canalizar as suas energias fisiopsíquicas para entregar-se totalmente ao seu ideal. E isso lhe constituía um espinho, pois essa finalização sempre será um trabalho que exige elevados níveis de disciplina e persistência. Além disso, para a visão mosaica o erro não estava somente em executar o ato equivocado, mas também residia em pensar nele, o que é uma sutileza conceituai que merece reflexão. O próprio Jesus á nos dizia que ao pensar no erro já estaríamos cometendo adultério, isto é já estaríamos de alguma forma assumindo um compromisso negativo.
 
Todas essas reflexões me levaram a entender que o apóstolo sentia om frequência a inclinação biológica para manter relações sexuais, pois todo ser humano experimenta este impulso. Por mais transcendência que a sua vida tenha alcançado, ele permanecia enclausurado num corpo físico, ou seja, mantinha-se na carne que o atormentava com um espinho doloroso. No livro "Paulo e Estevão", Emmanuel confirma de maneira sutil a tese de que o apóstolo Paulo experimentava os tormentos do sexo.

Nesse sentido, sua tarefa era sublimar os impulsos para não ter conflitos, uma vez que ele próprio havia optado por dedicar-se completamente à causa cristã, sem abrir espaço em sua vida para outras preocupações. Pela sua disciplina férrea conseguia superar os obstáculos. Como se dispunha a sublimar todas as funções, comendo pouco, dormindo pouco, trabalhando muito e renunciando aos prazeres imediatos, o organismo se encarregava de eliminar os excessos de energia sexual por meio das poluções noturnas. Era a função biológica, automática, que o caracterizava.

Nos estados oníricos, durante os sonhos, acredito, pessoalmente, ele fazia a catarse dos conteúdos arquivados no inconsciente. Antes de ser Paulo ele foi Saulo. Embora vivesse em castidade possuía libido como qualquer ser humano. E naturalmente, mesmo depois de assumir a identidade de Paulo e realizar exercícios de sublimação apoiados na abstinência, o inconsciente provavelmente liberava clichês sexuais que o faziam despertar aturdido no meio da noite.
Paulo sabia que dirigir as energias para o equilíbrio era uma necessidade imperiosa. Afinal, quando a energia sexual não é bem direcionada, ela desfigura as pessoas, que se transformam em sub-criaturas, aqueles indivíduos insatisfeitos e atormentados que não se relacionam sexualmente, mas são psiquicamente desequilibrados, o que justifica a necessidade de trabalhar essas energias sexuais para transformá-las em forças psíquicas em benefício do próprio indivíduo.

Buda elaborou uma metáfora muito esclarecedora para entendermos as diversas formas como poderemos utilizar as nossas energias. Ele afirmou: “Se nós tomarmos uma vela e acendermos o pavio em uma sala na qual não existam correntes de ar, o combustível que mantém a vela acesa durará, digamos, oito horas. Se abrirmos uma janela que possibilite a entrada de vento, incidindo sobre a chama e fazendo-a gastar mais energia para manter-se acesa, o combustível durará quatro horas. Se acendermos essa mesma vela nas duas extremidades o combustível não durará duas horas”.

Essa metáfora nos informa que quando gastamos o combustível com moderação e bom senso, multiplicamos o tempo de uso da nossa fonte de energia. Mas se consumimos demasiadamente esse  mesmo combustível desperdiçamos energia e reduzimos rapidamente o tempo de uso da nossa fonte.

A vitória ou o insucesso na tentativa de sublimação sexual estará na dependência da nossa conduta mental."

"Sexo e Consciência", Divaldo Franco

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