sábado, 12 de agosto de 2017

"O ANJO SOLITÁRIO"

"Enquanto o Mestre agonizava na cruz, rasgou-se o céu em Jerusalém e entidades angélicas, em grupos extensos, desceram sobre o Calvário doloroso…
Na poeira escura do chão, a maldade e a ignorância expeliam trevas demasiadamente compactas para que alguém pudesse divisar as manifestações sublimes.
Fios de claridade indefinível passaram a ligar o madeiro ao firmamento, embora a tempestade se anunciasse a distância…
O Cristo, de alma sedenta e opressa, contemplava a celeste paisagem, aureolado pela glória que lhe bafejava a fronte de herói, e os emissários do Paraíso chegavam, em bandos, a entoarem cânticos de amor e reconhecimento que os tímpanos humanos jamais poderiam perceber.
Os Anjos da Ternura rodearam-lhe o peito ferido, como a lhe insuflarem energias novas.
Os portadores da Consolação ungiram-lhe os pés sangrentos com suave bálsamo.
Os Embaixadores da Harmonia, sobraçando instrumentos delicados, formaram coroa viva, ao redor de sua atribulada cabeça, desferindo comovedoras melodias a se espalharem por bênçãos de perdão sobre a turba amotinada.
Os Emissários da Beleza teceram guirlandas de rosas e lírios sutis, adornando a cruz ingrata.
Os Distribuidores da Justiça, depois de lhe oscularem as mãos quase hirtas, iniciaram a catalogação dos culpados para chamá-los a esclarecimento e reajuste em tempo devido.
Os Doadores de Carinho, em assembleia encantadora, postaram-se à frente dele e acariciavam-lhe os cabelos empastados de sangue.
Os Enviados da Luz acenderam focos brilhantes nas chagas doloridas, fazendo-lhe olvidar o sofrimento.
Trabalhavam os mensageiros do Céu, em torno do Sublime Condutor dos Homens, aliviando-o e exaltando-o, como a lhe prepararem o banquete da ressurreição, quando um anjo aureolado de intraduzível esplendor apareceu, solitário, descendo do império magnificente da Altura.
Não trazia seguidores e, em se abeirando do Senhor, beijou-lhe os pés, entre respeitoso e enternecido. Não se deteve na ociosa contemplação da tarefa que, naturalmente, cabia aos companheiros, mas procurou os olhos de Jesus, dentro de uma ansiedade que não se observara em nenhum dos outros.
 Dir-se-ia que o novo representante do Pai Compassivo desejava conhecer a vontade do Mestre, antes de tudo. E, em êxtase, elevou-se do solo em que pousara, aos braços do madeiro afrontoso. Enlaçou o busto do Inesquecível Supliciado, com inexcedível carinho, e colou, por um instante, o ouvido atento em seus lábios que balbuciavam de leve.
 Jesus pronunciou algo que os demais não escutaram distintamente.
 O mensageiro solitário desprendeu-se, então, do lenho duro, revelando olhos serenos e úmidos e, de imediato, desceu do monte ensolarado para as sombras que começavam a invadir Jerusalém, procurando Judas, afim de socorrê-lo e ampará-lo.
 Se os homens lhe não viram a expressão de grandeza e misericórdia, os querubins em serviço também lhe não notaram a ausência. Mas, suspenso no martírio, Jesus contemplava-o, confiante, acompanhando-lhe a excelsa missão, em silêncio.
 Esse, era o anjo divino da Caridade."
 
"Estante da Vida", Irmão X/Francisco Cândido Xavier

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

"O MÉDIUM: ECLOSÃO, DESENVOLVIMENTO E EXERCÍCIO DAS SUAS FACULDADES" - "Longa e obstinada vigília"


"1. Longa e obstinada vigília"


"Não dava mais para esperar. Sucediam-se as perplexidades e a
moça estava ficando confusa no meio de todos aqueles estranhos
fenômenos que ocorriam com ela e à sua volta. Sabia, agora, que
o espiritismo tinha um nome adequado para isso: mediunidade.
Ela era, portanto, uma pessoa dotada de faculdades mediúnicas.
Vira isso em um livro básico e elementar que lera de um só fôlego.
E daí? Que caminho escolher entre as diversas alternativas?
A quem recorrer? Com quem se esclarecer e se orientar? Como
aprender a se utilizar corretamente daquele potencial que não
conseguia entender ou controlar?

Uma crônica de jornal, que lera ainda há pouco, dizia maravilhas
de um grupo-padrão mediúnico que funcionava sob responsabilidade
de respeitável instituição. Estava ali a sua oportunidade,
pensou. Recortou a crônica, disposta a falar pessoalmente
com o seu autor. A providência inicial, portanto, consistia em
localizá-lo. Ligou para a instituição, tão animada pela esperança
quanto ingênua e inexperiente. A pergunta foi direta e objetiva:
o que era necessário fazer para qualificar-se como frequentadora
do grupo? A resposta foi educada, mas firme: o grupo era fechado
e seleto. Não admitia ninguém, a não ser por escolha e convite, 
mediante critérios inquestionáveis. Além disso, informou a
voz ao telefone, o grupo era interditado às mulheres. Só homens
poderiam frequentá-lo.

No pouco que lera sobre a doutrina espírita, nada encontrara
que distinguisse o trabalho dos que se encarnam como homens
daqueles que optam pela encarnação feminina; Aliás, o termo
espírita, escolhido para identificar o adepto do espiritismo, a
partir de termo semelhante na língua francesa {spirite), é o que
se chama um adjetivo de duplo gênero, ou seja, tanto serve para
emprego feminino quanto masculino. Diz-se que uma senhora é
espírita da mesma forma que um homem é espírita.
O substantivo espírito, por sua vez, não tem feminino. Seja
homem ou mulher, o termo que identifica o ser é o mesmo - espírito.
Não existe espírito para seres masculinos e espírita para seres
femininos, mesmo porque, segundo consta nas obras básicas.
o espírito não têm sexo.
Entendiam os dirigentes do grupo, ou a tradição ali adotada,
não se sabe por que razões, que a bisonha postulante era uma espírita
(feminino) e não devia frequentar reuniões abertas apenas
aos espíritas masculinos.
Enfim, não lhe cabia discutir o critério. E nem adiantaria fazê-
lo. Deviam ter suas razões para assim proceder. O outro obstá­culo 
que interditava sua admissão no grupo era compreensível,
embora, em sua inexperiência, ela não o tenha considerado impeditivo.

O trabalho mediúnico sério exige, de fato, ambientes
reservados, severos padrões de disciplina, afinidades entre seus
diversos membros, assiduidade e inúmeros outros componentes,
como tivemos oportunidade de estudar em "Diálogo com as sombras",
 no qual o assunto é tratado de maneira específica. 

Em suma: a moça não podia ser admitida no grupo-padrão
por duas indiscutíveis razões. Restava-lhe apelar para a última
alternativa: como falar com o autor da crônica que tantas esperanças
suscitara em seu espírito ?

Isto era mais fácil. (Ou não era?) Ele costumava frequentar as
reuniões de caráter administrativo, aos sábados. A que horas?
Tinha por hábito chegar mais cedo, bem antes da hora marcada
para a reunião, programada para o início da tarde.

Eis porque naquele sábado, pela manhã, a moça partiu do
bairro distante rumo à instituição. Tinha de falar pessoalmente
com aquela pessoa que encarnava, agora, suas esperanças de encontrar
um rumo que lhe permitisse ordenar o verdadeiro emaranhado
de dificuldades em que se metera em consequência de
toda a fenomenologia que a inquietava e começava a assustá-la.
Chegou às dez horas da manhã, subiu as escadas, apresentouse,
fez perguntas, expôs suas intenções e pretensões. E ficou ali,
sentada, aguardando o cronista salvador que, infelizmente, não
compareceu à reunião do dia. Voltou a fazer perguntas. Queria
saber, agora, a quem deveria dirigir-se para obter as informações
de que tanto necessitava para dar um rumo certo à sua vida. Sugeriram-lhe
que falasse com o dirigente da instituição.

Nova espera. A essa altura eram duas horas da tarde.

Finalmente chegou o dirigente, acompanhado de um grupo.
Ela se levantou e pediu ao informante de sempre para indicar
a pessoa, e abordou-a. Nova decepção. Lamentavelmente, disse
ele, não poderia atendê-la no momento, pois já estava atrasado
para a reunião. Concordaria em falar com ela depois de terminada
a reunião? Isto sim era possível, arrematou ele, subindo as
escadas que levavam, provavelmente, à sala de reuniões.


Havia agora duas necessidades pessoais a atender: a fome espiritual
e a material. Uma podia esperar um pouco mais; a outra,
não. A moça desceu, foi à rua, fez um lanche e voltou à sua
vigília, disposta a não arredar pé dali sem ter falado com alguém
acerca de seus anseios espirituais.


A reunião só terminou às seis horas. O dirigente não escondeu
sua surpresa ao encontrar a moça ainda ali, esperando pacientemente.
Imaginara, portanto, que sua atitude inicial a levaria ao
desencorajamento. Levou-a para uma sala, onde sentaram-se, e
ela expôs suas aspirações. Ele escreveu uma pequena apresenta­
ção dirigida ao presidente de um centro espírita de sua confiança.
A essa altura, já anoitecia e a moça precisava voltar para casa."

"Diversidade dos Carismas", Hermínio Miranda

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

"ENERGIA SEXUAL" - "Canalização de Energia"

Canalização de energia

"O sexo, como qualquer outra função biológica, tem a sua finalidade precípua, que é a continuidade da vida na Terra. Ele se apresenta como um dos nossos mais predominantes instintos primários, aqueles que garantem a nossa preservação.

Para que os seres fossem atraídos uns aos outros, no intuito de realizarem o fenômeno da reprodução, a Natureza permitiu que os hormônios nos proporcionassem as sensações e os sentimentos nos concedessem as emoções. As duas experiências estão na pauta da nossa estrutura mental.

Aqueles que estagiam nas faixas primárias da evolução preferem as sensações que saturam rápido, passando a buscar experiências novas e diferentes que vão desaguar nas aberrações. Os indivíduos que transitam pela faixa evolutiva do equilíbrio, porque encontraram a realidade do espírito, têm mais emoções do que sensações. Nessas pessoas o intercurso sexual é feito de ternura, não é brutal como nos seres primitivos.

A nossa tarefa evolutiva é aprimorar os recursos espirituais de que somos portadores para atingir um estado de sublimação sexual. Essa sublimação não se dá exclusivamente pela abstinência. O indivíduo poderá se abster do uso do sexo, mas permanecer com os quadros mentais dos tormentos. Parceiros que vivem em plena harmonia estão sublimando a função sexual. E quando um dos dois experimenta a viuvez está tão perfeitamente integrado às aspirações superiores que pode dispensar o exercício da função, já que a mente equilibrada proporciona um estado de paz.

Ele preenche os espaços mentais com as lembranças e a gratidão ao ser amado.

Joanna de Ângelis afirma que sublimação não é abandonar a vivência sexual para assumir uma conduta castradora, inibitória. Afinal, muitas pessoas se encontram em castidade não por opção consciente, mas por conflito.

A disciplina mental, que favorece a sublimação sexual, é um hábito que pode ser adquirido mediante o esforço. Se nós selecionarmos os conteúdos que guardamos em nosso psiquismo ficará muito mais fácil alcançar a paz interior que nos preservará de tormentos desnecessários.

 Eu procuro manter uma técnica para não impregnar a mente com cenas deploráveis: não me detenho a olhar tudo aquilo que está ao meu alcance. Seleciono as imagens para diferenciar aquelas que são agradáveis daquelas que não me interessa registrar.

De acordo com o direcionamento da mente a nossa energia sexual será utilizada de formas variadas. Afinal, os fatores diferenciais do sexo (masculino e feminino) podem ser localizados no sistema reprodutor. Mas a sexualidade está localizada em todo o corpo, na mente, na aura e na emanação psíquica que possuímos.

Apoiados nas conclusões do grande cientista francês Lavoisier, compreendemos que em a Natureza nada se perde, pois tudo se transforma e assume outras configurações para se manifestar.
 
Por essa razão o nosso corpo pode ser interpretado como um grande laboratório.

Na área da sexualidade poderemos entender que a energia que não for exteriorizada em uma relação sexual, o organismo irá liberar espontaneamente durante o sono, no fenômeno das poluções noturnas, processos de ejaculação que eliminam os excessos de energia fisiopsíquica.

As glândulas endócrinas, em particular as glândulas sexuais, são fundamentais à nossa vida orgânica e psíquica. Os sábios esotéricos há milênios conhecem o gradiente de energia de que dispõe o nosso sistema genésico. Eles propõem que o ser humano realize o deslocamento das energias sexuais para ampliar a potência de funcionamento cerebral, num processo classificado como a ascensão da kundaline (a serpente de fogo, no idioma sânscrito). É um trabalho que todos poderemos fazer utilizando o recurso da meditação. Não me estou referindo à meditação transcendental exclusivamente, mas à reflexão, à busca da disciplina do pensamento, já que a função sexual atende aos apelos da nossa vida mental. Quando esta função se manifesta à revelia do nosso controle consciente significa que estamos experimentando um transtorno de comportamento.

Muitas pessoas dirão, em uma análise apressada, que a relação sexual desgasta o ser humano e prejudica sua saúde. Na realidade não é a relação sexual em si mesma que desgasta o corpo e
compromete o funcionamento do sistema reprodutor, mas é a mente viciada que lança toxinas psíquicas na estrutura dos órgãos e glândulas sexuais. Quando um casal se ama e se respeita, no momento da relação sexual são liberados também hormônios psíquicos de ternura, que se convertem em verdadeiro nutriente para o corpo e para a mente dos parceiros.

Um Espírito amigo disse-me certa vez:
— Em uma relação sexual feita de ternura ocorre uma transmissão de energia das mais profundas, semelhante a uma aplicação de passe. Na terapia do passe as energias penetram lentamente a aura e os poros do períspirito para depois beneficiar o corpo físico. Durante a intimidade de um casal que se ama a bioenergia sexual penetra com mais intensidade no organismo.

Há um fluxo de bioenergia de fora para dentro, a partir da radiação psíquica absorvida do parceiro, e outro de dentro para fora, que se origina no próprio orgasmo do indivíduo. Os dois fluxos de energia exercem sobre o casal um efeito terapêutico, irradiando-se pelos órgãos e produzindo saúde.

E tudo isso graças ao milagre do amor!

De forma semelhante, nas experiências místicas dos santos, como São Francisco de Assis e Santa Teresa D’Avila, verificamos que no momento culminante do êxtase espiritual eles experimentavam o orgasmo do amor psíquico, no qual o corpo apresentava descargas de orgasmo  idênticas àquelas que têm lugar numa relação sexual. Como a nossa estrutura biológica preserva os mecanismos que são próprios ao reino animal, era natural que no instante do êxtase o organismo daqueles grandes místicos reagisse conforme está biologicamente programado, liberando a energia acumulada por certo tempo. O orgasmo é uma reação do sistema nervoso ao estímulo provocado pela emoção.

Esse fenômeno que descrevemos para os santos da igreja vale para todos os grandes místicos orientais da índia, da China, do Japão e de outros países. São monges do budismo, do taoísmo, das doutrinas esotéricas. Todos eles são Espíritos habitando um corpo.
Além das formas mencionadas para o escoamento da energia sexual, poderemos canalizar essas energias para a nossa vitalidade e a nossa evolução. Os fenômenos mediúnicos também podem requisitar esses recursos fisiopsíquicos, uma vez que o exercício da mediunidade poderá mobilizá-los com grande proveito e sem qualquer prejuízo para o indivíduo.

Em face disso, aqueles que pretendem exercer de forma saudável a sua faculdade mediúnica devem cultivar a educação sexual e afetiva. Mas esta educação precisa estender-se para outros aspectos, pois não adiantará ao médium educar as forças sexuais e cultivar o hábito de ralar da vida alheia, criticando as pessoas e preocupando-se com aquilo que não lhe diz respeito. Também não será equilibrada a mediunidade do indivíduo que experimenta o ódio e guarda ressentimentos.
 
Conheço pessoas muito bem-educadas sexualmente, mas que alimentam a inveja impiedosa e apreciam crucificar os outros, carregando na alma ressenti mentos terríveis. E ainda se arvoram em afirmar: “Eu vivo com pureza de alma, pois tenho uma vida sexual sem maiores comprometimentos!”. Em realidade, uma postura com essa configura um conflito psicológico, mediante o qual a pessoa identifica no semelhante a imagem do que não tem coragem de fazer, um mecanismo de projeção do ego que lhe faz exibir uma falsa pureza para escamotear o seu drama íntimo.

Se uma pessoa é portadora de mediunidade e não trabalha suas energias sexuais para adquirir saúde integral, correrá o risco de ser uma presa fácil dos Espíritos que se obstinam em prejudicá-la.
 
A maturação sexual do adolescente, por exemplo, guarda relação com uma variada gama de fenômenos mediúnicos. A atividade das glândulas sexuais e endócrinas demais modifica os padrões de funcionamento da vida psíquica do jovem, facultando a eliminação de uma grande quantidade de energia que poderá ser canalizada de forma inadequada, caso o jovem não receba uma orientação educacional eficaz.

Por essa razão, na produção de fenômenos de efeito físico, como os fenômenos denominados de poltergeist, a energia sexual funciona como um fator preponderante.

Ao longo das décadas em que tenho viajado para atender aos compromissos de divulgação espírita, testemunhei inúmeras ocorrências de apedrejamento, deslocamento de objetos, combustão espontânea e outros fenômenos mediúnicos de efeito físico. E constato que nos locais onde esses episódios acontecem sempre existe um adolescente na residência ou nas proximidades. 

No momento da puberdade, quando o organismo humano altera o seu funcionamento hormonal e desenvolve os caracteres sexuais secundários, há uma energia fisiopsíquica que eclode no indivíduo e de que os Espíritos levianos se utilizam. Esses desencarnados, normalmente inimigos do passado do médium adolescente, dão curso a dolorosos processos de perseguição. Tenho visto pessoas em cuja pele eles cravam agulhas, produzem cortes profundos ou escrevem palavras na epiderme, fazendo-a sangrar, graças ao passado de delito da vítima e à energia liberada por ela na fase da puberdade.

A abordagem ideal para o atendimento de urgência a esses jovens é o passe, uma transmissão de bioenergia com finalidade terapêutica, que deverá ser seguida pela evangelização. E à medida que este indivíduo for realizando o seu trânsito para a fase adulta, concluindo o período da puberdade e da adolescência, ele deverá aprender técnicas de amadurecimento mental, de educação afetiva e
sexual.

Um dos maiores exemplos de aquisição de disciplina sexual e canalização de energia para o bem é o do apóstolo Paulo de Tarso, que era um Espírito antigo e muito rico de desenvolvimento
intelectual. Porém, antes da sua grande transformação, quando se tornou cristão e trabalhou com afinco pela divulgação dos ensinamentos de Jesus, ainda possuía uma evolução moral bastante precária, pois nessa primeira fase da sua trajetória terrena ele revelou ausência de sentido ético, de respeito à vida. Quando era rabino, foi responsável por inúmeras mortes, como o assassinato de Estêvão a pedradas, caracterizando-se como um homicida cruel. Vários outros cristãos morreram pelas suas mãos. No entanto, quando ia a Damasco para matar e tem o encontro com Jesus, a sua honestidade e lealdade à fé mosaica abre espaço para que ele agora aplique a mesma energia na causa do Cristo. Sua transformação espiritual foi absolutamente extraordinária! Por isso, eu acredito que Paulo, numa só encarnação, atingiu o ápice da evolução que se pode alcançar na Terra.

Ele confessava que muitas vezes não fazia aquilo que queria, mas exatamente o que não desejava, demonstrando ser uma criatura frágil, com dramas emocionais que necessitava superar, como qualquer um de nós. Contudo, era portador de vontade férrea! E neste sentido, como noutros, é um personagem fascinante!
 
Entre os seus dramas evolutivos o apóstolo confessava ter “um espinho na carne”.

Ao longo dos séculos muitos teólogos se questionaram sobre o que seria esse espinho, sem que nenhum estudioso propusesse uma explicação satisfatória. Eu também me perguntei durante vários anos:
Que espinho seria esse na carne de Paulo? O que é que lhe constituía um tormento? Até que cheguei a uma conclusão pessoal.

Reflexionando por um largo período, concluí que aquele homem vigoroso e audaz era um indivíduo com todas as suas funções sexuais em plena vitalidade. Por isso, ele também possuía os impulsos fisiológicos que são normais em qualquer ser humano como decorrência do funcionamento hormonal, ainda mais por ser um homem belo e jovem. Entretanto, Paulo decidiu canalizar as suas energias fisiopsíquicas para entregar-se totalmente ao seu ideal. E isso lhe constituía um espinho, pois essa finalização sempre será um trabalho que exige elevados níveis de disciplina e persistência. Além disso, para a visão mosaica o erro não estava somente em executar o ato equivocado, mas também residia em pensar nele, o que é uma sutileza conceituai que merece reflexão. O próprio Jesus á nos dizia que ao pensar no erro já estaríamos cometendo adultério, isto é já estaríamos de alguma forma assumindo um compromisso negativo.
 
Todas essas reflexões me levaram a entender que o apóstolo sentia om frequência a inclinação biológica para manter relações sexuais, pois todo ser humano experimenta este impulso. Por mais transcendência que a sua vida tenha alcançado, ele permanecia enclausurado num corpo físico, ou seja, mantinha-se na carne que o atormentava com um espinho doloroso. No livro "Paulo e Estevão", Emmanuel confirma de maneira sutil a tese de que o apóstolo Paulo experimentava os tormentos do sexo.

Nesse sentido, sua tarefa era sublimar os impulsos para não ter conflitos, uma vez que ele próprio havia optado por dedicar-se completamente à causa cristã, sem abrir espaço em sua vida para outras preocupações. Pela sua disciplina férrea conseguia superar os obstáculos. Como se dispunha a sublimar todas as funções, comendo pouco, dormindo pouco, trabalhando muito e renunciando aos prazeres imediatos, o organismo se encarregava de eliminar os excessos de energia sexual por meio das poluções noturnas. Era a função biológica, automática, que o caracterizava.

Nos estados oníricos, durante os sonhos, acredito, pessoalmente, ele fazia a catarse dos conteúdos arquivados no inconsciente. Antes de ser Paulo ele foi Saulo. Embora vivesse em castidade possuía libido como qualquer ser humano. E naturalmente, mesmo depois de assumir a identidade de Paulo e realizar exercícios de sublimação apoiados na abstinência, o inconsciente provavelmente liberava clichês sexuais que o faziam despertar aturdido no meio da noite.
Paulo sabia que dirigir as energias para o equilíbrio era uma necessidade imperiosa. Afinal, quando a energia sexual não é bem direcionada, ela desfigura as pessoas, que se transformam em sub-criaturas, aqueles indivíduos insatisfeitos e atormentados que não se relacionam sexualmente, mas são psiquicamente desequilibrados, o que justifica a necessidade de trabalhar essas energias sexuais para transformá-las em forças psíquicas em benefício do próprio indivíduo.

Buda elaborou uma metáfora muito esclarecedora para entendermos as diversas formas como poderemos utilizar as nossas energias. Ele afirmou: “Se nós tomarmos uma vela e acendermos o pavio em uma sala na qual não existam correntes de ar, o combustível que mantém a vela acesa durará, digamos, oito horas. Se abrirmos uma janela que possibilite a entrada de vento, incidindo sobre a chama e fazendo-a gastar mais energia para manter-se acesa, o combustível durará quatro horas. Se acendermos essa mesma vela nas duas extremidades o combustível não durará duas horas”.

Essa metáfora nos informa que quando gastamos o combustível com moderação e bom senso, multiplicamos o tempo de uso da nossa fonte de energia. Mas se consumimos demasiadamente esse  mesmo combustível desperdiçamos energia e reduzimos rapidamente o tempo de uso da nossa fonte.

A vitória ou o insucesso na tentativa de sublimação sexual estará na dependência da nossa conduta mental."

"Sexo e Consciência", Divaldo Franco