"Não é preciso ser versado em psicologia para perceber que a fonte de
todos os vícios que caracterizam a. imperfeição humana. é o egoísmo. Dele
dimanam a ambição, o ciúme, a inveja, o ódio, o orgulho e toda sorte de males
que infelicitam a. Humanidade, pelas mágoas que produzem, pelas díssensões
que provocam e pelas perturbações sociais a que dão ensejo.
Vemo-lo manifesto neste mundo sob as mais variadas formas, a saber:
egoísmo individual,
egoísmo familiar,
egoísmo de classe,
egoísmo de raça,
egoísmo nacional,
egoísmo sectário.
Em seu aspecto individual, funda-se num sentimento exagerado de
interesse pessoal, no cuidado exclusivo de si mesmo, e no desamor a todos os
outros, inclusive os que habitam o mesmo teto, os quais, não raro, são os
primeiros a lhe sofrerem os efeitos.
O egoísmo familiar consiste no amor aos pais, irmãos, filhos, enfim àqueles
que estão ligados pelos laços da consangüinidade, com exclusão dos demais.
Limitados por esse espírito de família, são muitos, ainda, os que desconhecem
que todos somos irmãos (porque filhos de um só Pai celestial), e se furtam a
qualquer expressão de solidariedade fora do círculo restrito da própria
parentela.
O egoísmo de classe se faz sentir através dos movimentos reivindicatórios
tão em voga em nossos dias. Ora é uma classe profissional que entra em
greve, ora é outra que promove dissídio, ou são servidores públicos que pressionam
os governos a fim de forçar o atendimento às suas exigências, agindo
cada grupo tão somente em função de suas conveniências, sem atentar para o
desequilíbrio e os sacrifícios que isso possa custar à coletividade.
O egoísmo de raça é responsável, também, por uma série de dramas e
conflitos dolorosos. Que o digam os pretos, vítimas de cruéis discriminações
em várias partes do mundo, assim como os enamorados que, em tão grande
número, não puderam tornar-se marido e mulher, consoante os anseios de
seus corações, porque os prejuízos raciais de seus familiares falaram mais
alto, impedindo a concretização de seus sonhos de felicidade.
O egoísmo nacional é o que se disfarça ou se esconde sob o rótulo de
“patriotismo”. Ha bitantes de um país, a pretexto de engrandecer sua pátria,
invadem outros países, escravizam-
-lhes as populações, destroem-lhes a nacionalidade, gerando, assim, ódios
insopitáveis que, mais dia menos dia, hão-de explodir em novas lutas
sanguinolentas.
O egoísmo sectário é aquele que transforma crentes em fanáticos, a cujos
olhos só a sua igreja é verdadeira e salvadora, sendo, todas as outras, fontes
de erro e de perdição, fanáticos aos quais se proíbe de ouvir ou ler qualquer
coisa que contrarie os dogmas de sua organização religiosa, aos quais se
interdita auxiliar instituições de assistência social cujos dirigentes tenham
princípios religiosos diversos do seu, e aos quais se inculca ser um dever de
consciência defender tamanha estreiteza de sentimentos.
Esse tipo de egoísmo é, seguramente, o mais funesto, por se revestir de
um fanatismo religioso, obstando que os ingénuos e desprevenidos o
reconheçam pelo que é, na realidade.
Foi esse egoísmo sectário que, no passado, promoveu as chamadas
guerras religiosas e a “santa” Inquisição, de tão triste memória, infligindo
torturas e mortes excruciantes a centenas de milhares de homens, mulheres e
crianças, e, ainda hoje, desperta, acoroçoa e mantém a animosidade entre
milhões de criaturas, retardando o estabelecimento daquela Fraternidade
Universal que o Cristo veio preparar com b seu Evangelho de Amor.
O Espiritismo, pela poderosa influência que exerce no homem, fazendo-o
sentir-se um ser cósmico, destinado a. ascender pelo progresso moral às mais
esplendorosas moradas do Infinito, é o mais eficaz antídoto ao veneno do
egoísmo; praticá-lo é, pois, trilhar o caminho da Evolução e preparar-se um
futuro incomparàvelmente mais feliz!"
("As Leis Morais", Rodolfo Calligaris)
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