terça-feira, 31 de maio de 2016

"ORAÇÃO NOSSA"

"Senhor,
ensina-nos a orar sem esquecer o trabalho,
a dar sem olhar a quem,
a servir sem perguntar até quando,
a sofrer sem magoar seja a quem for,
a progredir sem perder a simplicidade,
a semear o bem sem pensar nos resultados,
a desculpar sem condições,
a marchar para a frente sem contar os obstáculos,
a ver sem malícia,
a escutar sem corromper os assuntos,
a falar sem ferir,
a compreender o próximo sem exigir entendimento,
a respeitar os semelhantes sem reclamar consideração,
a dar o melhor de nós, além da execução do próprio dever sem cobrar taxas de reconhecimento.
Senhor,
fortalece em nós a paciência para com as dificuldades dos outros, assim como precisamos da paciência dos outros para com as nossas próprias dificuldades.
Ajuda-nos para que a ninguém façamos aquilo que não desejamos para nós.
Auxilia-nos sobretudo a reconhecer que a nossa felicidade mais alta será invariavelmente aquela de cumprir-Te os desígnios, onde e como queiras, hoje, agora e sempre."

"À Luz da Oração", Emmanuel/Francisco Cândido Xavier

segunda-feira, 30 de maio de 2016

"O BEM É INCANSÁVEL"

"E vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem.” Paulo (II Tessalonicenses, 3:13)  

"É muito comum encontrarmos pessoas que se declaram cansadas de praticar  o bem. Estejamos, contudo, convictos de que semelhantes alegações não procedem de fonte pura. 

Somente aqueles que visam determinadas vantagens aos interesses particularistas, na zona do imediatismo, adquirem o tédio vizinho da desesperação, quando não podem atender a propósitos egoísticos. 

É indispensável muita prudência quando essa ou aquela circunstância nos induz a refletir nos males que nos assaltam, depois do bem que julgamos haver  semeado ou nutrido. 

O aprendiz sincero não ignora que Jesus exerce o seu ministério de amor  sem exaurir­-se, desde o princípio da organização  planetária. Relativamente aos nossos casos pessoais, muita vez terá o Mestre sentido o espinho de nossa ingratidão, identificando­-nos o recuo aos trabalhos da nossa própria iluminação; todavia, nem mesmo verificando-­nos os desvios voluntários e criminosos, jamais se esgotou a paciência do Cristo que nos corrige, amando, e tolera, edificando, abrindo­  nos misericordiosos braços para a atividade renovadora. 

Se Ele nos tem suportado e esperado através de tantos séculos, por que não  poderemos experimentar  de ânimo firme algumas pequenas decepções durante alguns dias? 

A observação de Paulo aos tessalonicenses, portanto, é muito justa. Se nos entediarmos na prática do bem, semelhante desastre expressará em verdade que ainda nos não foi possível a emersão do mal de nós mesmos."
("Pão Nosso", Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)

domingo, 29 de maio de 2016

"Resposta à réplica do abade Chesnel"



"Em seu número de 28 de maio último, o jornal L’Univers inseriu a resposta que demos ao artigo do Abade Chesnel sobre o Espiritismo, fazendo-a seguir de uma réplica do abade. A esse segundo artigo, que reedita os argumentos do primeiro, sem a urbanidade da forma a que todo mundo concordou em fazer justiça, não poderíamos responder senão repetindo quanto já tínhamos dito, o que nos parece completamente inútil. O Abade Chesnel não mede esforços para provar que o Espiritismo é, deve ser e não pode deixar de ser senão um religião nova, porque dele decorre uma filosofia e porque nele nos ocupamos da constituição física e moral dos mundos. Sob esse aspecto, todas as filosofias seriam religiões. Ora, como são abundantes os sistemas e que têm partidários mais ou menos numerosos, isto restringiria singularmente o círculo do catolicismo. Não sabemos até que ponto seria imprudente e perigoso proclamar uma tal doutrina, porque seria provocar uma cisão que não existe. É pelo menos dar a ideia. Observai bem a que consequências chegais. Quando a Ciência contestou o sentido do texto bíblico dos seis dias da Criação, lançaram anátemas; disseram que era um ataque à religião. Hoje, que os fatos deram razão à Ciência; que já não há meios de contestá-los, a não ser negando a luz, a Igreja se pôs de acordo com a Ciência.

Suponhamos que então se tivesse dito que aquela teoria científica era uma religião nova, uma seita, porque parecia em contradição com os livros sagrados; porque destruía uma interpretação dada há séculos. Disso resultaria que não era possível ser católico e adotar essas ideias novas.
 
Pensemos, pois, a que se reduziria o número dos católicos, se fossem excluídos todos os que não acreditam que Deus tenha feito a Terra em seis vezes vinte e quatro horas.
 
Dá-se o mesmo com o Espiritismo. Se o considerardes como uma religião nova, é que aos vossos olhos ele não é católico. Ora, acompanhai o meu raciocínio. De duas uma: ou é uma realidade, ou é uma utopia. Se for uma utopia, não há preocupação, porque cairá por si mesmo. Se for uma realidade, nem todos os raios o impedirão de ser, do mesmo modo que outrora a Terra não foi impedida de girar. Se há verdadeiramente um mundo invisível que nos circunda; se podemos comunicar-nos com esse mundo e dele obter ensinamentos sobre o estado de seus habitantes - e nisto está todo o Espiritismo - em pouco tempo isto parecerá tão natural como ver o Sol ao meio-dia ou encontrar milhares de seres vivos e invisíveis numa gota de água cristalina. Essa crença será tão vulgarizada que sereis forçados a vos render à evidência. Se aos vossos olhos essa crença é uma religião nova, ela está fora do catolicismo, pois não pode ser simultaneamente a religião católica e uma religião nova. Se pela força das coisas e da evidência ela se generaliza, e não pode deixar de ser assim, pois se trata de uma lei da Natureza, do vosso ponto de vista não haverá mais católicos e vós mesmos não sereis mais católico, porque sereis forçado a agir como todos.

Eis, senhor abade, o terreno para o qual nos arrasta a vossa doutrina, e ela é tão absoluta que já me gratificais com o título de sumossacerdote dessa religião, honra de que, realmente, eu não suspeitava. Mas ides mais longe. Na vossa opinião, todos os médiuns são os sacerdotes dessa religião. Aqui eu vos detenho em nome da lógica. Até aqui me havia parecido que as funções sacerdotais eram facultativas; que se era sacerdote apenas por um ato da própria vontade; que não se era malgrado seu e em virtude de uma faculdade natural. Ora, a faculdade dos médiuns é uma faculdade natural que depende da sua organização, como a faculdade sonambúlica; que não requer sexo, nem idade, nem instrução, pois a encontramos nas crianças, nas senhoras e nos velhos; entre os sábios, como entre os ignorantes. Seria compreensível que rapazes e moças fossem sacerdotes sem o querer e sem o saber?

Realmente, senhor abade, é abusar do direito de interpretar as palavras. Como eu disse, o Espiritismo está fora de todas as crenças dogmáticas, com as quais não se preocupa. Nós o consideramos uma ciência filosófica, que nos explica uma porção de coisas que não compreendemos e, por isto mesmo, em vez de abafar as ideias religiosas, como certas filosofias, fá-las brotar naqueles em que elas não existem. Se, entretanto, quiserdes elevá-lo a todo custo ao plano de uma religião, vós o atirais num caminho novo. É o que compreendem perfeitamente muitos eclesiásticos que, longe de empurrar para o cisma, esforçam-se por conciliar as coisas, em virtude deste raciocínio: se há manifes­tações do mundo invisível, isto não pode ser senão pela vontade de Deus e nós não podemos ir contra a sua vontade, a menos se dissermos que neste mundo acontece alguma coisa sem a sua permissão, o que seria uma impiedade. Se eu tivesse a honra de ser sacerdote, disso me serviria em favor da religião. Faria disso uma arma contra a incredulidade e diria aos materialistas e ateus: Pedis provas? Ei-las, é Deus que as manda.”

("Revista Espírita", Julho de 1859)

sábado, 28 de maio de 2016

"AS PAIXÕES"

"A Doutrina Espírita nos ensina que todas as paixões têm como princípio
originário uma necessidade ou um sentimento natural, colocados em nosso
âmago com o fim de estimular-nos ao trabalho e à conquista da felicidade.
“Deus é Amor” e, ao criar-nos, fêz-nos participantes de Sua natureza, isto
é, dotados dessa virtude por excelência; carecendo apenas que a
desenvolvamos e a depuremos, até a sublimaçâo.
Houve por bem, então, tornar-nos sensíveis ao prazer para que cada um
de nós, buscando-o, cultivasse o amor a si mesmo, para, numa outra etapa, ser
capaz de estender esse amor aos semelhantes.
Pode parecer que a busca do prazer pessoal seja uma forma errônea, por
sumamente egoísta, para que possa conduzir-nos à efetivação desse
grandioso desiderato. Deus, porém, em Sua Onisciência, sempre escolhe os
melhores caminhos possíveis para o nosso progresso, e se assim há
determinado é porque sabe que, sem experimentarmOs, antes, quanto é bom o
amor que nos devotamos e ao qual tudo sacrificamos, jamais chegaríamos ao
extremo oposto, de sacrificar-nos por amor a outrem.
Os gozos que o mundo nos proporciona, entretanto, são regulados por leis
divinas, que lhes estabelecem limites em função das reais necessidades de
nosso corpo físico e dos justos anseios de nossa alma, e transpô-los ocasiona
consequências tanto mais funestas quanto maiores sejam os desmandos
cometidos.
Nisto, como em todo aprendizado que lhe cumpra fazer, seja de um ofício,
de uma arte, ou do exercício de um poder qualquer, o homem começa
causando, a si mesmo e ao próximo, mais prejuízos que benefícios.
É que, em sua imensa ignorância, não sabe distinguir o uso do abuso,
exagera suas necessidades e sentimentos, e é aí, no excesso, que aquelas e
estes se transformam em paixões, provocando perturbações danosas ao seu
organismo e ao seu psiquismo.
Apresentemos alguns exemplos: Alimentar-nos é um imperativo da natureza,
cujo atendimento é coisa que nos dá grande satisfação. Quantos,
entretanto, façam dos “prazeres da mesa” a razão de sua existência, rendendo-se à glutonaria, mais dias, menos dias, terão que pagar, com a enfermidade,
senão mesmo com a morte, o preço desse mau hábito.
Muito natural o nosso desejo de preparar dias melhores para nós e a nossa
família, bem assim as lutas a que nos entregamos e os sacrifícios que nos
impomos, visando a tal objetivo. Todavia, é preciso que essa preocupação pelo
futuro não ultrapasse os limites do razoável, para que não se converta em
obsessão.
A recreação, por outro lado, é uma exigência de nosso espírito, e os
entretenimentos ocasionais valem por excelentes fatores de higiene mental.
Infelizes, no entanto, os que, seduzidos pelas emoções de uma partida de baralho
ou de víspora, pelo lucro fácil de um lance na roleta, ou quejandos, se
deixem dominar pelo jogo! A desgraça não tardará a abatê-los, como abatidos
têm sido todos quantos se escravizam a essa terrível viciação.
Calor excessivo ou frio intenso podem forçar-nos, vez por outra, a um
refrigerante gelado ou a uma dose alcoólica, com o que nos dessedentamos,
ou nos reconfortamos gostosamente. Mas todo cuidado será pouco para não
descambarmos para a bebedice, pois seus malefícios, provam-no as
estatísticas, assumem características de verdadeiro flagelo social.
Todos nós sentimos necessidade de dar e receber carinho, já que ninguém
consegue ser feliz sem isso. É de todo conveniente, entre tanto, repartir nosso
afeto com os que pertencem ao nosso círculo familiar, estendê-lo a amigos e
outros semelhantes, evitando concentrá-lo em uma só pessoa, fazendo
depender unicamente dela o nosso interesse pela vida, pois, ao perder esse
alguém, poderemos sofrer um golpe doloroso demais para ser suportado sem
perda do equilíbrio espiritual.
Não há quem não deseje autoafirmar-se, mediante a realização de algo
que corresponda às suas tendências dominantes, e daí porque alguns se
atiram, com inusitado entusiasmo, a determinados estudos, outros se
empolgam na procura ou no apuramento de uma nova técnica com que
sonham projetar-se na especialidade de sua predileção, e outros ainda descuidam de tudo e de todos para devotar-se, inteiramente, às atividades
artísticas ou científicas que os abrasam. Importa, porém, acautelar-nos com o
perigo do monoideísmo, responsável por neuroses ou insânias de difícil
recuperação.
Como se vê, o princípio das paixões nada tem de mau, visto que “assenta
numa das condiçôes providenciais de nossa existência”, podendo inclusive, em
certos casos e enquanto governadas, levar o homem a feitos nobilitantes.
Todo mal, repetimo-lo, reside no abuso que delas se faz.
Urge, portanto, que, na procura do melhor, do que nos traga maior soma
de gozo, aprendamos a respeitar as leis da Vida, para que elas, inexoráveis
como são, não se voltem contra nós, compelindo-nos a penosos processos de
reajuste e reequilíbrio."
("As Leis Morais", Rodolfo Calligaris)

sexta-feira, 27 de maio de 2016

"Vida Feliz"


       




"Os maus pensamentos intoxicam a alma.
       Atraem o pessimismo e as presenças doentias dos Espíritos perturbados e maus.
       Mantém a tua mente presa às ideias positivas, iluminativas, aos programas de enobrecimento, de cuja conduta te advirá o bem-estar íntimo e a alegria de viver.
       O que pensares com insistência, hoje ou mais tarde se concretizará.
       Os fatos se corporificam, de início, no campo mental, para depois se tornarem realidade no corpo físico.
       Pensa no bem e banha-te com a luz do amor."

(“Vida Feliz”, Joanna de Ângelis/Divaldo P. Franco)

quinta-feira, 26 de maio de 2016

"SOLIDÃO"

"A necessidade de relacionamento humano, como meca­nismo de afirmação pessoal, tem gerado vários distúrbios de comportamento, nas pessoas tímidas, nos indivíduos sensí­veis e em todos quantos enfrentam problemas para um inter­câmbio de ideias, uma abertura emocional, uma convivência saudável.
Enxameiam, por isso mesmo, na sociedade, os solitários por livre opção e aqueloutros que se consideram marginalizados ou são deixados à distância pelas conveniências dos grupos.
A sociedade competitiva dispõe de pouco tempo para a cordialidade desinteressada, para deter-se em labores a bene­fício de outrem.
O atropelamento pela oportunidade do triunfo impede que o indivíduo, como unidade essencial do grupo, receba consi­deração e respeito ou conceda ao próximo este apoio que gostaria de fruir.
O homem, no entanto, sem ideal, mumifica-se. O ideal é-lhe de vital importância, como o ar que respira.
O sucesso social não exige, necessariamente, os valores intelecto-morais, nem o vitalismo das ideias superiores, an­tes cobra os louros das circunstâncias favoráveis e se apoia na bem urdida promoção de mercado, para vender imagens e ilusões breves, continuamente substituídas, graças à rapidez com que devora as suas estrelas.
Quem, portanto, não se vê projetado no caleidoscópio mágico do mundo fantástico, considera-se fracassado e recua para a solidão, em atitude de fuga de uma realidade mentiro­sa, trabalhada em estúdios artificiais.
Parece muito importante, no comportamento social, rece­ber e ser recebido, como forma de triunfo, e o medo de não ser lembrado nas rodas bem sucedidas, leva o homem a esta­dos de amarga solidão, de desprezo por si mesmo.
Há uma terrível preocupação para ser visto, fotografado, comentando, vendendo saúde, felicidade, mesmo que fictí­cia.
A conquista desse triunfo e a falta dele produzem soli­dão.
O irreal, que esconde o caráter legítimo e as lídimas aspi­rações do ser, conduz à psiconeurose de autodestruição.
Há terrível ânsia para ser-se amado, não para conquistar o amor e amar, porém para ser objeto de prazer, mascarado de afetividade. Dessa forma, no entanto, a pessoa se desama, não se torna amável nem amada realmente.
O silêncio, o isolamento espontâneo são muito saudáveis para o indivíduo, podendo permitir-lhe reflexão, estudo, autoaprimoramento, revisão de conceitos perante a vida e a paz interior.
O sucesso, decantado como forma de felicidade, é, tal­vez, um dos maiores responsáveis pela solidão profunda.
Os campeões de bilheteria nos shows, nas rádios, televi­sões e cinemas, os astros invejados, os reis dos esportes, dos negócios cercam-se de fanáticos e apaixonados, sem que se vejam livres da solidão.
A neurose da solidão é doença contemporânea, que ame­aça o homem distraído pela conquista dos valores de peque­na monta, porque transitórios.
Resolvendo-se por afeiçoar-se aos ideais de engrandeci­mento humano, por contribuir com a hora vazia em favor dos enfermos e idosos, das crianças em abandono e dos ani­mais, sua vida adquiriria cor e utilidade, enriquecendo-se de um companheirismo digno, em cujo interesse alargar-se-ia a esfera dos objetivos que motivam as experiências vivenciais e inoculam coragem para enfrentar-se, aceitando os desafios naturais.
O homem solitário, todo aquele que se diz em solidão, exceto nos casos patológicos, é alguém que se receia encon­trar, que evita descobrir-se, conhecer-se, assim ocultando a sua identidade na aparência de infeliz, de incompreendido e abandonado.
A velha conceituação de que todo aquele que tem amigos não passa necessidades, constitui uma forma desonesta de estimar, ocultando o utilitarismo sub-reptício, quando o pra­zer da afeição em si mesma deve ser a meta a alcançar-se no inter-relacionamento humano, com vista à satisfação de amar.
O medo da solidão, portanto, deve ceder lugar, à confian­ça nos próprios valores, mesmo que de pequenos conteúdos, porém significativos para quem os possui.
Possivelmente, o homem que caminha a sós se encontre mais sem solidão, do que outros que, no tumulto, inseguros, estão cercados, mimados, padecendo disputas, todavia sem paz nem fé interior.
A fé no futuro, a luta por conseguir a paz íntima — eis os recursos mais valiosos para vencer-se a solidão, saindo do arcabouço egoísta e ambicioso para a realização edificante onde quer que se esteja."
 
"O Homem Integral", Joanna de Ângelis/ Divaldo Pereira Franco)

quarta-feira, 25 de maio de 2016

"QUE BUSCAIS?"

“E Jesus, voltando-se e vendo que eles o seguiam, disse-lhes: Que buscais?” — (JOÃO, capítulo 1, versículo 38.) 

"A vida em si é conjunto divino de experiências. 

Cada existência isolada oferece ao homem o proveito de novos conhecimentos. A aquisição de valores religiosos, entretanto, é a mais importante de todas, em virtude de constituir o movimento de iluminação definitiva da alma para Deus. 

Os homens, contudo, estendem a esse departamento divino a sua viciação de sentimentos, no jogo inferior dos interesses egoísticos. 

Os templos de pedra estão cheios de promessas injustificáveis e de votos absurdos. 

Muitos devotos entendem encontrar na Divina Providência uma força subornável, eivada de privilégios e preferências. Outros se socorrem do plano espiritual com o propósito de solucionar problemas mesquinhos. 

Esquecem-se de que o Cristo ensinou e exemplificou. 

A cruz do Calvário é símbolo vivo. 

Quem deseja a liberdade precisa obedecer aos desígnios supremos. Sem a compreensão de Jesus, no campo íntimo, associada aos atos de cada dia, a alma será sempre a prisioneira de inferiores preocupações. 

Ninguém olvide a verdade de que o Cristo se encontra no umbral de todos os templos religiosos do mundo, perguntando, com interesse, aos que entram: “Que buscais?”

("Caminho, Verdade e Vida", Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)

terça-feira, 24 de maio de 2016

"ANTE O SUBLIME"

"Não faças tu comum o que Deus purificou". (Atos, 10:15).

"Existem expressões no Evangelho que, à maneira de flores a se
salientarem num ramo divino, devem ser retiradas do conjunto para
que nos deslumbremos ate o seu brilho e perfume peculiares.
A voz celeste, que se dirige a Simão Pedro, nos Atos, abrange
horizontes muito mais vastos que o problema individual do apóstolo.
O homem comum está rodeado de glórias na Terra, entretanto,
considera-se num campo de vulgaridades, incapaz de valorizar as
riquezas que o cercam.
Cego diante do espetáculo soberbo da vida que lhe emoldura o
desenvolvimento, tripudia sobre as preciosidades do mundo, sem
meditar no paciente esforço dos séculos que a Sabedoria Infinita
utilizou no aperfeiçoamento e na seleção dos valores que o rodeiam.
Quantos milênios terá exigido a formação da rocha?
Quantos ingredientes se harmonizam na elaboração 
de um simples raio de sol?
Quantos óbices foram vencidos para que a flor se materializasse?
Quanto esforço custou a domesticação das árvores e dos animais?
Quantos séculos terá empregado a Paciência do Céu na estruturação
complexa da máquina orgânica em que o Espírito encarnado se manifesta?
A razão é luz gradativa, diante do sublime.
Não te esqueças, meu irmão, de que o Senhor te situou a experiência
terrestre num verdadeiro paraíso, onde a semente minúscula retribui
na média do infinito por um e onde águas e flores, solo e atmosfera te
convidam a produzir, em favor da multiplicação dos Tesouros Eternos.
Cada dia, louva o Senhor que te agraciou com as oportunidades
valiosas e com os dons divinos. . .
Pensa, estuda, trabalha e serve.
Não suponhas comum o que Deus purificou e engrandeceu."

("Fonte Viva", Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)

segunda-feira, 23 de maio de 2016

"ANTAGONISTAS"

"O adversário em que você julga encontrar um modelo de perversidade talvez seja apenas um doente necessitado de compreensão.
Reconheçamos o fato de que, muitas vezes, a pessoa se nos torna indigna simplesmente por não nos adotar os pontos de vista.
Nunca despreze o opositor, por mais ínfimo que pareça.
Respeitemos o inimigo, porque é possível seja ele portador de verdades que ainda desconhecemos, até mesmo em relação a nós.
Se alguém feriu a você, perdoe imediatamente, 
frustrando o mal no nascedouro.
A crítica dos outros só poderá trazer-lhe prejuízos se você consentir.
A melhor maneira de aprender a desculpar os erros alheios é reconhecer que também somos humanos, capazes de errar
talvez ainda mais desastradamente que os outros.
O adversário, antes de tudo, deve ser entendido por irmão 
que se caracteriza por opiniões diferentes das nossas.
Deixe os outros viverem a sua própria vida e eles deixarão
você viver a existência de sua própria escolha.
Quanto mais avança, a ciência médica mais compreende que o ódio 
em forma de vingança, condenação, ressentimento, inveja ou hostilidade está na raiz de numerosas doenças e que o único remédio eficaz contra semelhantes calamidades da alma é o específico
do perdão no veículo do amor."

("Sinal Verde", André Luiz/Francisco Cândido Xavier)

domingo, 22 de maio de 2016

"NÂO GRITES"








" Não grites.
        Nenhuma situação exige a gritaria, que confunde e mais perturba.
        Se falares em tom adequado, os barulhentos silenciarão para ouvir-te.
        Se desejares competir com eles em altura de voz, ficarás rouco e não serás escutado.
        A voz caracteriza o comportamento e a emoção das pessoas.
        Não nos referimos às técnicas de prosódia, que têm a sua finalidade, porém à tonalidade natural, audível, sem agressividade.
        Já te escutaste num gravador, especialmente quando em desequilíbrio? Faze a experiência."
(“Vida Feliz”, Joanna de Ângelis/Divaldo P. Franco)

sábado, 21 de maio de 2016

"CURA DE OBSESSÕES"

"Escreveram-nos de Cazères, a 7 de janeiro de 1866:

“Eis um segundo caso de obsessão que assumimos e levamos a bom termo no mês de julho último. A obsedada tinha vinte e dois anos; gozava de saúde perfeita; apesar disso, de repente foi acometida de um acesso de loucura. Seus pais a trataram com médicos, mas inutilmente, pois o mal, em vez de desaparecer, tornava-se cada vez mais intenso, a ponto de, durante as crises, ser impossível contê-la. Vendo isso, os pais, a conselho dos médicos, obtiveram sua internação num hospício, onde seu estado não apresentou qualquer melhora. Nem eles nem a doente jamais haviam cogitado do Espiritismo, que nem mesmo conheciam; mas, tendo ouvido falar na cura de Jeanne R..., de que vos falei, eles vieram procurar-nos e saber se poderíamos fazer alguma coisa por sua filha infeliz. Respondemos nada poder garantir antes de conhecer a verdadeira causa do mal. Consultados em nossa primeira sessão, os guias disseram que a jovem era subjugada por um Espírito muito rebelde, mas que acabaríamos trazendo-o ao bom caminho e que a cura consequente nos daria a prova dessa afirmação. Assim, escrevi aos pais, residentes a 35 quilômetros de nossa cidade, dizendo que a moça seria curada e que a cura não demoraria muito, sem, contudo, precisarmos a época.

Evocamos o Espírito obsessor durante oito dias seguidos e fomos bastante felizes para mudar suas más disposições e fazê-lo renunciar a seu propósito de atormentar a vítima. Com efeito, a doente ficou curada, como nossos guias haviam anunciado.

Os adversários do Espiritismo repetem incessantemente que a prática desta doutrina conduz ao hospício. Ora! Nós lhes podemos dizer, nesta circunstância, que o Espiritismo dele faz sair aqueles que lá haviam entrado.

Entre mil outros, este fato é uma nova prova da existência da loucura obsessional, cuja causa é totalmente diferente da causa da loucura patológica, e ante a qual a Ciência falhará enquanto se obstinar em negar o elemento espiritual e sua influência sobre a organização fisiológica. Aqui o caso é bem evidente: Eis uma jovem, de tal modo apresentando os caracteres da loucura, a ponto de se enganarem os médicos, que é curada a léguas de distância por pessoas que jamais a viram, sem nenhum medicamento ou tratamento médico, apenas pela moralização do Espírito obsessor.
 
Há, pois, Espíritos obsessores cuja ação pode ser perniciosa à razão e à saúde. Não é certo que se a loucura tivesse sido ocasionada por uma lesão orgânica qualquer, esse meio teria sido impotente? Se objetassem que essa cura espontânea pode ser devida a uma causa fortuita, responderíamos que se tivéssemos somente um fato para citar, sem dúvida seria temerário daí deduzir a afirmação de um princípio tão importante, mas os exemplos de curas semelhantes são muito numerosos. Eles não são privilégio de um indivíduo e se repetem todos os dias em diversos lugares, sinais indubitáveis de que repousam sobre uma lei da Natureza.
 
Citamos várias curas do mesmo gênero, notadamente em fevereiro de 1864 e janeiro de 1865,que contêm dois relatos completos eminentemente instrutivos.
 
Eis outro fato, não menos característico, obtido no grupo de Marmande:

Numa aldeia a algumas léguas desta cidade, havia um camponês atingido por uma loucura tão furiosa, que perseguia as pessoas a golpes de forcado para matá-las, e que, na falta de pessoas, atacava os animais no pátio. Corria incessantemente pelos campos e não voltava mais para casa. Sua presença era perigosa; assim, foi fácil obter autorização para interná-lo no hospício de Cadilac. Não foi sem vivo pesar que sua família se viu obrigada a tomar essa atitude. Antes de levá-lo, tendo um dos parentes ouvido falar das curas obtidas em Marmande, em casos semelhantes, foi procurar o Sr. Dombre e lhe disse:

- Senhor, disseram-me que curais os loucos, por isso vim vos procurar.

Depois contou-lhe de que se tratava, acrescentando:

- Como vedes, dá tanta pena separarmo-nos desse pobre J..., que antes eu quis ver se não havia um meio de evitar essa separação.

- Meu bravo homem, disse-lhe o Sr. Dombre, não sei quem me dá esta reputação; é verdade que algumas vezes consegui dar a razão a pobres insensatos, mas isto depende da causa da loucura. Embora não vos conheça, não obstante verei se vos posso ser útil.

Tendo ido imediatamente com o indivíduo à casa do seu médium habitual, obteve do guia a certeza de que se tratava de uma obsessão grave, mas que com perseverança ela chegaria a termo. Então disse ao camponês:

- Esperai ainda alguns dias, antes de levar o vosso parente a Cadilac; vamos ocupar-nos do caso; voltai de dois em dois dias para dizer-nos como ele se acha.

No mesmo dia puseram-se em ação. A princípio, como em casos semelhantes, o Espírito mostrou-se pouco tratável; pouco a pouco acabou por humanizar-se e finalmente renunciou ao propósito de atormentar aquele infeliz. Um fato muito particular é que declarou não ter qualquer motivo de ódio contra aquele homem; que, atormentado pela necessidade de fazer o mal, havia se agarrado a ele como a qualquer outro; que agora reconhecia estar errado, pelo que pedia perdão a Deus.

O camponês voltou depois de dois dias, e disse que o parente estava mais calmo, mas ainda não tinha voltado para casa e se ocultava nas sebes.

Na visita seguinte, ele tinha voltado para casa, mas estava sombrio e mantinha-se afastado; já não procurava bater em ninguém.

Alguns dias depois ia à feira e fazia seus negócios, como de hábito. Assim, oito dias haviam bastado para trazê-lo ao estado normal, e sem nenhum tratamento físico.

É mais que provável que se o tivessem encerrado com os loucos ele teria perdido a razão completamente.

Os casos de obsessão são tão frequentes que não é exagero dizer que nos hospícios de alienados mais da metade apenas têm a aparência de loucura e que, por isto mesmo, a medicação vulgar não faz efeito.

O Espiritismo nos mostra na obsessão uma das causas perturbadoras da saúde física, e, ao mesmo tempo, nos dá o meio de remediá-la; é um de seus benefícios. Mas, como foi reconhecida essa causa, senão pelas evocações? Assim, as evocações servem para alguma coisa, digam o que disserem os seus detratores.

É evidente que os que não admitem nem a alma individual nem a sua sobrevivência, ou que, admitindo-a, não se dão conta do estado do Espírito após a morte, devem olhar a intervenção de seres invisíveis em tais circunstâncias como uma quimera; mas o fato brutal dos males e das curas aí está.
 
Não poderiam ser levadas à conta da imaginação as curas operadas à distância, em pessoas que jamais foram vistas, sem o emprego de qualquer agente material. A doença não pode ser atribuída ao Espiritismo, porque ela atinge também os que nele não acreditam, bem como crianças que dele não têm qualquer ideia. Entretanto, aqui nada há de maravilhoso, mas efeitos naturais que existiram em todos os tempos, que então não eram compreendidos, e que se explicam do modo mais simples, agora que se conhecem as leis em virtude das quais se produzem.

Não se veem, entre os vivos, seres maus atormentando outros mais fracos, até deixá-los doentes e mesmo até matá-los, e isto sem outro motivo senão o desejo de fazer o mal?
 
Há dois meios de levar paz à vítima: subtraí-la à autoridade de sua brutalidade, ou neles desenvolver o sentimento do bem. O conhecimento que agora temos do mundo invisível no-lo mostra povoado dos mesmos seres que viveram na Terra, uns bons, outros maus. Entre estes últimos, uns há que se comprazem ainda no mal, em consequência de sua inferioridade moral e ainda não se despojaram de seus instintos perversos; eles estão em nosso meio, como quando vivos, com a única diferença que em vez de terem um corpo material visível, eles têm um corpo fluídico invisível; mas não deixam de ser os mesmos homens, com o senso moral pouco desenvolvido, buscando sempre ocasiões de fazer o mal, encarniçando-se sobre os que lhes são presa e que conseguem submeter à sua influência. Obsessores encarnados que eram, são obsessores desencarnados, tanto mais perigosos quanto agem sem ser vistos. Afastá-los pela força não é fácil, visto que não se pode apreender-lhes o corpo. O único meio de dominá-los é o ascendente moral, com cuja ajuda, pelo raciocínio e sábios conselhos, chega-se a torná-los melhores, ao que são mais acessíveis no estado de Espírito do que no estado corporal. A partir do instante em que são convencidos a voluntariamente deixar de atormentar, o mal desaparece, quando causado pela obsessão. Ora, compreende-se que não são as duchas nem os remédios administrados ao doente que podem agir sobre o Espírito obsessor. Eis todo o segredo dessas curas, para as quais não há palavras sacramentais nem fórmulas cabalísticas: conversamos com o Espírito desencarnado, moralizamo-lo, educamo-lo, como teríamos feito enquanto ele era vivo. A habilidade consiste em saber tomá-lo pelo seu caráter, em dirigir com tato as instruções que lhe são dadas, como o faria um instrutor experimentado. Toda a questão se reduz a isto: Há ou não Espíritos obsessores? A isto respondemos o que dissemos acima: Os fatos materiais aí estão.

Por vezes perguntam por que Deus permite que os maus Espíritos atormentem os vivos. Poderíamos igualmente perguntar por que ele permite que os vivos se atormentem entre si. Perdemos muito de vista a analogia, as relações e a conexão que existem entre o mundo corporal e o mundo espiritual, que se compõem dos mesmos seres em dois estados diferentes. Aí está a chave de todos esses fenômenos considerados sobrenaturais.

Não nos devemos admirar mais das obsessões do que das doenças e outros males que afligem a Humanidade. Eles fazem parte das provas e das misérias devidas à inferioridade do meio onde nossas imperfeições nos condenam a viver, até que estejamos suficientemente melhorados para merecer dele sair. Os homens sofrem aqui as consequências de suas imperfeições, porque se fossem mais perfeitos, aqui não estariam."

("Revista Espírita", Fevereiro de 1866)

sexta-feira, 20 de maio de 2016

"A SEMENTE"

“E,  quando  semeias,  não  semeias  o  corpo  que  há  de  nascer,  mas  o  simples  grão  de  trigo  ou  de  outra  qualquer  semente.” Paulo (I Coríntios, 15:37)  

"Nos serviços da Natureza, a semente reveste­-se, aos nossos olhos, do  sagrado papel de sacerdotisa do Criador e da Vida. 

Gloriosa herdeira do poder divino, coopera na evolução  do  mundo e transmite silenciosa e sublime lição, tocada de valores infinitos, à criatura. 

Exemplifica sabiamente a necessidade dos pontos de partida, as requisições justas de trabalho, os lugares próprios, os tempos adequados. 

Há homens inquietos e insaciados que ainda não conseguiram compreendê­ - la. Exigem as grandes obras de um dia para outro, impõem medidas tirânicas pela força das ordenações ou das armas ou pretendem trair as leis profundas da Natureza; aceleram os processos da ambição, estabelecem domínio  transitório, alardeiam mentirosas conquistas, incham-­se e caem, sem nenhuma edificação  santificadora para si ou para outrem. 

Não souberam aprender com a semente minúscula que lhes dá trigo ao pão  de cada dia e lhes garante a vida, em todas as regiões de luta planetária. 

Saber começar constitui serviço muito importante. 

No esforço redentor, é indispensável que não se percam de vista as possibilidades pequeninas: um gesto, uma palestra, uma hora, uma frase pode representar sementes gloriosas para edificações imortais. Imprescindível, pois, jamais desprezá-­las."
("Pão Nosso", Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)

quinta-feira, 19 de maio de 2016

"ONDE ESTIVER JESUS"

"Onde estiver Jesus, alma querida e boa —
Ilusão, erro, falha apareçam embora,
Inda mesmo se o mal, em torno, desarvora —,
Esclarece, ilumina, ampara, aperfeiçoa.

Onde estiver Jesus, nada se diz à-toa;
O engano pede luz onde a verdade mora;
A caridade reina; a esperança, hora a hora,
Alteia-se mais bela; o trabalho abençoa.

Onde estiver Jesus, humilhado ou sozinho,
Nas desfigurações e aleives do caminho,
Inflama-te de amor — sol ardente e fecundo!...

Onde estiver Jesus... Eis que Jesus te espera
A bondade, o perdão, a paz e a fé sincera
Para a glória da vida e redenção do mundo!"

(“Antologia da Espiritualidade”, Maria Dolores/Francisco Cândido Xavier)

quarta-feira, 18 de maio de 2016

"O EGOÍSMO"

"Não é preciso ser versado em psicologia para perceber que a fonte de
todos os vícios que caracterizam a. imperfeição humana. é o egoísmo. Dele
dimanam a ambição, o ciúme, a inveja, o ódio, o orgulho e toda sorte de males
que infelicitam a. Humanidade, pelas mágoas que produzem, pelas díssensões
que provocam e pelas perturbações sociais a que dão ensejo.
Vemo-lo manifesto neste mundo sob as mais variadas formas, a saber:
egoísmo individual,
egoísmo familiar,
egoísmo de classe,
egoísmo de raça,
egoísmo nacional,
egoísmo sectário.
Em seu aspecto individual, funda-se num sentimento exagerado de
interesse pessoal, no cuidado exclusivo de si mesmo, e no desamor a todos os
outros, inclusive os que habitam o mesmo teto, os quais, não raro, são os
primeiros a lhe sofrerem os efeitos.
O egoísmo familiar consiste no amor aos pais, irmãos, filhos, enfim àqueles
que estão ligados pelos laços da consangüinidade, com exclusão dos demais.
Limitados por esse espírito de família, são muitos, ainda, os que desconhecem
que todos somos irmãos (porque filhos de um só Pai celestial), e se furtam a
qualquer expressão de solidariedade fora do círculo restrito da própria
parentela.
O egoísmo de classe se faz sentir através dos movimentos reivindicatórios
tão em voga em nossos dias. Ora é uma classe profissional que entra em
greve, ora é outra que promove dissídio, ou são servidores públicos que pressionam
os governos a fim de forçar o atendimento às suas exigências, agindo
cada grupo tão somente em função de suas conveniências, sem atentar para o
desequilíbrio e os sacrifícios que isso possa custar à coletividade.
O egoísmo de raça é responsável, também, por uma série de dramas e
conflitos dolorosos. Que o digam os pretos, vítimas de cruéis discriminações
em várias partes do mundo, assim como os enamorados que, em tão grande
número, não puderam tornar-se marido e mulher, consoante os anseios de
seus corações, porque os prejuízos raciais de seus familiares falaram mais
alto, impedindo a concretização de seus sonhos de felicidade.
O egoísmo nacional é o que se disfarça ou se esconde sob o rótulo de
“patriotismo”. Ha bitantes de um país, a pretexto de engrandecer sua pátria,
invadem outros países, escravizam-
-lhes as populações, destroem-lhes a nacionalidade, gerando, assim, ódios
insopitáveis que, mais dia menos dia, hão-de explodir em novas lutas
sanguinolentas.
O egoísmo sectário é aquele que transforma crentes em fanáticos, a cujos
olhos só a sua igreja é verdadeira e salvadora, sendo, todas as outras, fontes
de erro e de perdição, fanáticos aos quais se proíbe de ouvir ou ler qualquer
coisa que contrarie os dogmas de sua organização religiosa, aos quais se
interdita auxiliar instituições de assistência social cujos dirigentes tenham
princípios religiosos diversos do seu, e aos quais se inculca ser um dever de
consciência defender tamanha estreiteza de sentimentos.
Esse tipo de egoísmo é, seguramente, o mais funesto, por se revestir de
um fanatismo religioso, obstando que os ingénuos e desprevenidos o
reconheçam pelo que é, na realidade.
Foi esse egoísmo sectário que, no passado, promoveu as chamadas
guerras religiosas e a “santa” Inquisição, de tão triste memória, infligindo
torturas e mortes excruciantes a centenas de milhares de homens, mulheres e
crianças, e, ainda hoje, desperta, acoroçoa e mantém a animosidade entre
milhões de criaturas, retardando o estabelecimento daquela Fraternidade
Universal que o Cristo veio preparar com b seu Evangelho de Amor.
O Espiritismo, pela poderosa influência que exerce no homem, fazendo-o
sentir-se um ser cósmico, destinado a. ascender pelo progresso moral às mais
esplendorosas moradas do Infinito, é o mais eficaz antídoto ao veneno do
egoísmo; praticá-lo é, pois, trilhar o caminho da Evolução e preparar-se um
futuro incomparàvelmente mais feliz!"
("As Leis Morais", Rodolfo Calligaris)

terça-feira, 17 de maio de 2016

"NOSSO IRMÃO"

"Se alguém te fala na rua,
Deitando lamentação,
Não passes despercebido,
Escute, que é nosso irmão.

Ouviste o parente em casa,
Gritando em voz de trovão,
Não te aborreças por isso,
Tolera, que é nosso irmão.

Transformou-se o companheiro...
Agora, rixa, brigão.
Não te afastes, nem censures,
Suporta, que é nosso irmão.

O amigo a quem mais estimas
Ofendeu-te sem razão...
Não te dês ao derrotismo;
Perdoa, que é nosso irmão.

Padece e chora o vizinho
Problemas em profusão.
Não te demores no auxílio;
Coopera que é nosso irmão.

Enxergaste o pequenino,
Sem roupa, sem lar, sem pão.
Não permaneças de longe,
Acolhe, que é nosso irmão.
Viste o doente sozinho
No braseiro da aflição;
Não percas tempo em conversa,
Socorre, que é nosso irmão.

Tiveste do adversário
Pedradas de ingratidão...
Calando, sempre servindo;
Desculpa, que é nosso irmão.

A quem te faça um favor,
Embora dizendo “não”,
Sem grita e sem aspereza,
Atende, que é nosso irmão.

Diante de todo aquele
Que sofre na provação,
O Cristo pede em silêncio:
— “Ampara, que é nosso irmão”."
  
(“Caridade”, Casimiro Cunha/Francisco Cândido Xavier)

segunda-feira, 16 de maio de 2016

"HÁ ESPÍRITOS?"

     "1. A dúvida, no que concerne à existência dos Espíritos, tem como causa primária a ignorância acerca da verdadeira natureza deles. Geralmente, são figurados como seres à parte na criação e de cuja existência não está demonstrada a necessidade. Muitas pessoas, mais ou menos como as que só conhecem a História pelos romances, apenas os conhecem através dos contos fantásticos com que foram acalentadas em criança.
Sem indagarem se tais contos, despojados dos acessórios ridículos, encerram algum fundo de verdade, essas pessoas unicamente se impressionam com o lado absurdo que eles revelam. Sem se darem ao trabalho de tirar a casca amarga, para achar a amêndoa, rejeitam o todo, como fazem, relativamente à religião, os que, chocados por certos abusos, tudo englobam numa só condenação.
Seja qual for a idéia que dos Espíritos se faça, a crença neles necessariamente se funda na existência de um princípio inteligente fora da matéria. Essa crença é incompatível com a negação absoluta deste princípio. Tomamos, conseguintemente, por ponto de partida, a existência, a sobrevivência e a individualidade da alma, existência, sobrevivência e individualidade que têm no Espiritualismo a sua demonstração teórica e dogmática e, no Espiritismo, a demonstração positiva. Abstraiamos, por um momento, das manifestações propriamente ditas e, raciocinando por indução, vejamos a que consequências chegaremos.
2. Desde que se admite a existência da alma e sua individualidade após a morte, forçoso é também se admita: 1º, que a sua natureza difere da do corpo, visto que, separada deste, deixa de ter as propriedades peculiares ao corpo; 2º, que goza da consciência de si mesma, pois que é passível de alegria, ou de sofrimento, sem o que seria um ser inerte, caso em que possuí-la de nada nos valeria. Admitido isso, tem-se que admitir que essa alma vai para alguma parte. Que vem a ser feito dela e para onde vai?
Segundo a crença vulgar, vai para o céu, ou para o inferno. Mas, onde ficam o céu e o inferno? Dizia-se outrora que o céu era em cima e o inferno embaixo. Porém, o que são o alto e o baixo no Universo, uma vez que se conhecem a esfericidade da Terra, o movimento dos astros, movimento que faz com que o que em dado instante está no alto esteja, doze horas depois, embaixo, e o infinito do espaço, através do qual o olhar penetra, indo a distâncias consideráveis? Verdade é que por lugares inferiores também se designam as profundezas da Terra. Mas, que vêm a ser essas profundezas, desde que a Geologia as esquadrinhou? Que ficaram sendo, igualmente, as esferas concêntricas chamadas céu de fogo, céu das estrelas, desde que se verificou que a Terra não é o centro dos mundos, que mesmo o nosso Sol não é único, que milhões de sóis brilham no Espaço, constituindo cada um o centro de um turbilhão planetário? A que ficou reduzida a importância da Terra, mergulhada nessa imensidade? Por que injustificável privilégio este quase imperceptível grão de areia, que não avulta pelo seu volume, nem pela sua posição, nem pelo papel que lhe cabe desempenhar, seria o único planeta povoado de seres racionais? A razão se recusa a admitir semelhante nulidade do infinito e tudo nos diz que os diferentes mundos são habitados. Ora, se são povoados, também fornecem seus contingentes para o mundo das almas. Porém, ainda uma vez, que terá sido feito dessas almas, depois que a Astronomia e a Geologia destruíram as moradas que se lhes destinavam e, sobretudo, depois que a teoria, tão racional, da pluralidade dos mundos, as multiplicou ao infinito?
Não podendo a doutrina da localização das almas harmonizar-se com os dados da Ciência, outra doutrina mais lógica lhes assina por domínio, não um lugar determinado e circunscrito, mas o espaço universal: formam elas um mundo invisível, em o qual vivemos imersos, que nos cerca e acotovela incessantemente. Haverá nisso alguma impossibilidade, alguma coisa que repugne à razão? De modo nenhum; tudo, ao contrário, nos afirma que não pode ser de outra maneira.
Mas, então, que vem a ser das penas e recompensas futuras, desde que se lhes suprimam os lugares especiais onde se efetivem? Notai que a incredulidade, com relação a tais penas e recompensas, provam geralmente de serem umas e outras apresentadas em condições inadmissíveis. Dizei, em vez disso, que as almas tiram de si mesmas a sua felicidade ou a sua desgraça; que a sorte lhes está subordinada ao estado moral; que a reunião das que se votam mútua simpatia e são boas representa para elas uma fonte de ventura; que, de acordo com o grau de purificação que tenham alcançado, penetram e entrevêem coisas que almas grosseiras não distinguem, e toda gente compreenderá sem dificuldade. Dizei mais que as almas não atingem o grau supremo, senão pelos esforços que façam por se melhorarem e depois de uma série de provas adequadas à sua purificação; que os anjos são almas que galgaram o último grau da escala, grau que todas podem atingir, tendo boa-vontade; que os anjos são os mensageiros de Deus, encarregados de velar pela execução de seus desígnios em todo o Universo, que se sentem ditosos com o desempenho dessas missões gloriosas, e lhes tereis dado à felicidade um fim mais útil e mais atraente, do que fazendo-a consistir numa contemplação perpétua, que não passaria de perpétua inutilidade. Dizei, finalmente, que os demônios são simplesmente as almas dos maus, ainda não purificadas, mas que podem, como as outras, ascender ao mais alto cume da perfeição e isto parecerá mais conforme à justiça e à bondade de Deus, do que a doutrina que os dá como criados para o mal e ao mal destinados eternamente. Ainda uma vez: aí tendes o que a mais severa razão, a mais rigorosa lógica, o bom-senso, em suma, podem admitir.
Ora, essas almas que povoam o Espaço são precisamente o a que se chama Espíritos. Assim, pois, os Espíritos não são senão as almas dos homens, despojadas do invólucro corpóreo. Mais hipotética lhes seria a existência, se fossem seres à parte. Se, porém, se admitir que há almas, necessário também será se admita que os Espíritos são simplesmente as almas e nada mais. Se se admite que as almas estão por toda parte, ter-se-á que admitir, do mesmo modo, que os Espíritos estão por toda parte. Possível, portanto, não fora negar a existência dos Espíritos, sem negar a das almas.
3. Isto não passa, é certo, de uma teoria mais racional do que a outra. Porém, já é muito que seja uma teoria que nem a razão, nem a ciência repelem. Acresce que, se os fatos a corroboram, tem ela por si a sanção do raciocínio e da experiência. Esses fatos se nos deparam no fenômeno das manifestações espíritas, que, assim, constituem a prova patente da existência e da sobrevivência da alma. Muitas pessoas há, entretanto, cuja crença não vai além desse ponto; que admitem a existência das almas e, conseguintemente, a dos Espíritos, mas que negam a possibilidade de nos comunicarmos com eles, pela razão, dizem, de que seres imateriais não podem atuar sobre a matéria. Esta dúvida assenta na ignorância da verdadeira natureza dos Espíritos, dos quais em geral fazem idéia muito falsa, supondo-os erradamente seres abstratos, vagos e indefinidos, o que não é real.
Figuremos, primeiramente, o Espírito em união com o corpo. Ele é o ser principal, pois que é o ser que pensa e sobrevive. O corpo não passa de um acessório seu, de um invólucro, uma veste, que ele deixa, quando usada. Além desse invólucro material, tem o Espírito um segundo, semimaterial, que o liga ao primeiro. Por ocasião da morte, despoja-se deste, porém não do outro, a que damos o nome de perispírito. Esse invólucro semimaterial, que tem a forma humana, constitui para o Espírito um corpo fluídico, vaporoso, mas que, pelo fato de nos ser invisível no seu estado normal, não deixa de ter algumas das propriedades da matéria. O Espírito não é, pois, um ponto, uma abstração; é um ser limitado e circunscrito, ao qual só falta ser visível e palpável, para se assemelhar aos seres humanos. Por que, então, não haveria de atuar sobre a matéria? Por ser fluídico o seu corpo? Mas, onde encontra o homem os seus mais possantes motores, senão entre os mais rarificados fluidos, mesmo entre os que se consideram imponderáveis, como, por exemplo, a eletricidade? Não é exato que a luz, imponderável, exerce ação química sobre a matéria ponderável? Não conhecemos a natureza íntima do perispírito. Suponhamo-lo, todavia, formado de matéria elétrica, ou de outra tão sutil quanto esta: por que, quando dirigido por uma vontade, não teria propriedade idêntica à daquela matéria?
4. A existência da alma e a de Deus, consequência uma da outra, constituindo a base de todo o edifício, antes de travarmos qualquer discussão espírita, importa indaguemos se o nosso interlocutor admite essa base. Se a estas questões:
Credes em Deus?
Credes que tendes uma alma?
Credes na sobrevivência da alma após a morte?
ele responder negativamente, ou, mesmo, se disser simplesmente: Não sei; desejara que assim fosse, mas não tenho a certeza disso, o que, quase sempre, eqüivale a uma negação polida, disfarçada sob uma forma menos categórica, para não chocar bruscamente o a que ele chama preconceitos respeitáveis, tão inútil seria ir além, como querer demonstrar as propriedades da luz a um cego que não admitisse a existência da luz. Porque, em suma, as manifestações espíritas não são mais do que efeitos das propriedades da alma. Com semelhante interlocutor, se se não quiser perder tempo, ter-se-á que seguir muito diversa ordem de idéias.
Admitida que seja a base, não como simples probabilidade, mas como coisa averiguada, incontestável, dela muito naturalmente decorrerá a existência dos Espíritos.
5. Resta agora a questão de saber se o Espírito pode comunicar-se com o homem, isto é, se pode com este trocar idéias. Por que não? Que é o homem, senão um Espírito aprisionado num corpo? Por que não há de o Espírito livre se comunicar com o Espírito cativo, como o homem livre com o encarcerado?
Desde que admitis a sobrevivência da alma, será racional que não admitais a sobrevivência dos afetos? Pois que as almas estão por toda parte, não será natural acreditarmos que a de um ente que nos amou durante a vida se acerque de nós, deseje comunicar-se conosco e se sirva para isso dos meios de que disponha? Enquanto vivo, não atuava ele sobre a matéria de seu corpo? Não era quem lhe dirigia os movimentos? Por que razão, depois de morto, entrando em acordo com outro Espírito ligado a um corpo, estaria impedido de se utilizar deste corpo vivo, para exprimir o seu pensamento, do mesmo modo que um mudo pode servir-se de uma pessoa que fale, para se fazer compreendido?
6. Abstraiamos, por instante, dos fatos que, ao nosso ver, tornam incontestável a realidade dessa comunicação; admitamo-la apenas como hipótese. Pedimos aos incrédulos que nos provem, não por simples negativas, visto que suas opiniões pessoais não podem constituir lei, mas expendendo razões peremptórias, que tal coisa não pode dar-se. Colocando-nos no terreno em que eles se colocam, uma vez que entendem de apreciar os fatos espíritas com o auxílio das leis da matéria, que tirem desse arsenal qualquer demonstração matemática, física, química, mecânica, fisiológica e provem por a mais b, partindo sempre do princípio da existência e da sobrevivência da alma:
1º que o ser pensante, que existe em nós durante a vida, não mais pensa depois da morte;
2º que, se continua a pensar, está inibido de pensar naqueles a quem amou;
3º que, se pensa nestes, não cogita de se comunicar com eles;
4º que, podendo estar em toda parte, não pode estar ao nosso lado;
5º que, podendo estar ao nosso lado, não pode comunicar-se conosco;
6º que não pode, por meio do seu envoltório fluídico, atuar sobre a matéria inerte;
7º que, sendo-lhe possível atuar sobre a matéria inerte, não pode atuar sobre um ser animado;
8º que, tendo a possibilidade de atuar sobre um ser animado, não lhe pode dirigir a mão para fazê-lo escrever;
9º que, podendo fazê-lo escrever, não lhe pode responder às perguntas, nem lhe transmitir seus pensamentos.

Quando os adversários do Espiritismo nos provarem que isto é impossível, aduzindo razões tão patentes quais as com que Galileu demonstrou que o Sol não é que gira em torno da Terra, então poderemos considerar-lhes fundadas as dúvidas. Infelizmente, até hoje, toda a argumentação a que recorrem se resume nestas palavras: Não creio, logo isto é impossível. Dir-nos-ão, com certeza, que nos cabe a nós provar a realidade das manifestações. Ora, nós lhes damos, pelos fatos e pelo raciocínio, a prova de que elas são reais. Mas, se não admitem nem uma, nem outra coisa, se chegam mesmo a negar o que vêem, toca-lhes a eles provar que o nosso raciocínio é falso e que os fatos são impossíveis."
("O Livro dos Médiuns", Allan Kardec - Primeira Parte - Noções preliminares, cap. I)