sábado, 23 de agosto de 2014

"O OUTRO"

Questão Nr. 630 de “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec.

       "Se já recolheste migalha de luz, diminui a sombra no outro.
       Vê-lo-as, em toda parte, esperando-te auxílio.
       Esse apela para teu pão.
       Aquele aguarda a sombra de tua veste.
       Esse esmola bagatela de tua bolsa.
       Aquele roga um minuto de gentileza.
       Entretanto, mais que isso, o outro pede compreensão.
       Estava pressionado e feriu-te.
       Falava sem pensar e disse a palavra que te magoou.
       Superestimou a si mesmo e rolou no charco.
       Enlouqueceu e tenta arrastar-te ao desequilíbrio.
       Ainda quando te faça perder as últimas forças nas últimas lágrimas, compadece-te dele e ampara sempre.
       Se soubesse o que sabes, não seria problema.
       Se pudesse sustentar-se, não cairia.
       Muitas vezes terá tido o propósito de acertar, mas, perdido no nevoeiro da ignorância, tomou o erro pela verdade.
       Estimaria, decerto, sentir como sentes; contudo, ainda não recebeu no caminho as oportunidades que recebeste.
       Se te ironiza, oferece-lhe paciência.
       Se te ofende, consagra-lhe paciência maior.
       Ainda mesmo em se mostrando embaraçado no crime, não lhe roube o testemunho de amizade e esperança, porque amanhã, colhido no esfogueante tribunal do remorso, lembrará teu consolo como gota de bênção.
       Se és a vítima, compadece-te ainda mais, porque não desconheces quanta dor há na conta da vida para o  verbo que amaldiçoa e para a mão que apedreja.
       O outro é pedaço de nossa história, retratista de nossos atos, espelho de nossas aquisições, reflexo de nós mesmos.
       Em casa, é quem te comunga a faixa doméstica.
       No mundo, é o companheiro de experiência, seja na taça da simpatia ou no gral da aversão.
       Desse modo, sempre que impelido ao discernimento do bem, pensa no outro...
       Seja quem seja, será sempre a notícia do bem que vibre em tua alma, porque o bem que lhe ofertes é o bem verdadeiro que a Lei te credita no livro da consciência.
       A árvore é julgada pelos frutos.
       A criatura é vista pelas próprias obras.
       Em todos os sucessos que partilhemos, alguém nos carrega a imagem.
       Aquilo, pois, que fizeste ao outro, a ti mesmo fizeste."

(“Religião dos Espíritos”, Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)

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