terça-feira, 12 de abril de 2011

"OS OUTROS"


Cap. XIII – Item 13



"Dizes trazer o deserto no coração; entretanto, pensa nos outros.


Muitos pisam teus rastros, procurando-te as mãos no grande


vazio...


Pára um pouco e perceberá a presença nas sombras da retaguarda.


Enquanto gritas a própria solidão, compreenderás que a voz


deles está morrendo na garganta, através de longos gemidos.


Volta-te e vê.


Compara os teus braços robustos com os ossos descarnados


que ainda lhe servem de suporte às mãos tristes em que os dedos


mirrados são espinhos de dor. Enxuga o teu pranto e observa os


olhos fatigados que te contemplam... Falam-te a história de esperanças


e sonhos que o tempo soterrou na areia da frustração. Referem-


se ao frio cortante do lar perdido e à agonia da ramagem nas


trevas...


Pára e compadece-te.


Deixa que respirem, ainda mesmo por um momento só, no calor


de teu hálito.


Quem poderá medir a extensão da grandeza de uma simples


semente, caída na terra que o arado martirizou?


A beleza de um minuto nos ensina, muita vez, a povoar de alegria


e de luz a existência inteira.


Diz antiga lenda que uma gota de chuva caiu sobre o oceano


que a tormenta encapelara e, aflita, perguntou:– ”Deus de Bondade, que farei, sozinha, neste abismo estarrecedor?”


O Pai não lhe respondeu, mas, tempos depois, a gota singela


era retirada do mar, convertida numa pérola para adornar a coroa


de um rei.


Dá também algo de ti aos que bracejam no torvelinho do sofrimento,


e, mesmo que possas ofertar apenas um pingo de amor


aos que padecem, tua dádiva será filtrada pelas correntes da angústia


humana e subirá, cristalina e luminescente, na direção dos céus,


para enfeitar a glória de Deus."



Meimei


("O Espírito da Verdade", Espíritos Diversos/ Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira)

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