sábado, 12 de novembro de 2016

"A LEI DE LIBERDADE"

"O homem é, por natureza, dono de si mesmo, isto é, tem o direito de fazer
tudo quanto achar conveniente ou necessário à conservação e ao
desenvolvimento de sua vida.
Essa liberdade, porém, não é absoluta, e nem poderia sé-lo, pela simples
razão de que, convivendo em sociedade, o homem tem o dever de respeitar
esse mesmo direito em cada um de seus semelhantes.
Isto posto, todo e qualquer costume, que torne uma pessoa
completamente sujeita a outra, constitui uma iniquidade contrária à lei de Deus.
Durante muito tempo, aceitou-se, como justa, a escravização dos povos
vencidos em guerras, assim como foi permitido, pelos códigos terrenos, que
homens de certas raças fôssem caçados e vendidos, quais bestas de carga, na
falsa suposição de que eram seres inferiores e, talvez, nem fôssem nossos
irmãos em humanidade.
Coube ao Cristianismo mostrar que, perante Deus, só existe uma espécie
de homens
e que, mais ou menos puros e elevados eles o são, não pela cor da epiderme
ou do sangue, mas pelo espírito, isto é, pela melhor compreensão que tenham
das coisas e principalmente pela bondade que imprimam em seus atos.
Felizmente, de há muito que a escravatura foi abolida e, com ela, o
privilégio que tinha o senhor de poder maltratar impunemente o escravo, ou
mesmo matá-lo, se assim lhe aprouvesse.
Agora, todos somos cidadãos, podendo dispor, livremente, de nossos
destinos.
A liberdade de pensamento e a de consciência, por se inscreverem,
também, entre os direitos naturais do homem, conquanto padeçam, ainda,
aqui, ali e acolá, certas restrições e repressões, vêm alcançando, igualmente,
notáveis progressos.
De século para século, menos dificuldade encontra o homem para pensar
sem peias e, a cada geração que surge, mais amplas se tornam as garantias
individuais no que tange à inviolabilidade do foro íntimo.
O sistema do “crê ou morre”, que alguns retrógrados desejariam ver
restabelecido, está. definitivamente superado e não voltará jamais. de jeito
nenhum.
Vingam e viçam, hoje, idéias bem diferentes.
Nas dissensões religiosas, as chamas das fogueiras foram substituidas
pelas luzes do esclarecimento, e na catequese filosófica ou política, estejamos
certos, daqui para o futuro, buscar-se-á empregar, cada vez mais, a força da
persuasão ao invés da imposição pela força.
Sinais evidentes desta evolução, temo-los:
a) na orientação que os dois últimos papas, João 23 e Paulo 6º, deram à
Igreja Católica, inclinando-a ao liberalismo e à tolerância, como o provam as
decisões tomadas no Concílio Ecumênico recentemente encerrado, entre elas,
a extinção do famigerado “Index Librorum Prohibitorum”, ou seja, o rol dos
livros proibidos pela congregação do Santo Ofício, no qual eram incluídas todas
as obras que, embora edificantes, infirmassem ou contradissessem a sua
doutrina.
b) na linha adotada pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, ao
optar pela propaganda ideológica como o meio mais eficaz de atrair os povos
para o socialismo, em lugar da conquista pelas armas, como o fazia até há
alguns anos.
Sem dúvida, estamos ainda muito distantes de uma vivência mundial de
integral respeito às liberdades humanas; todavia, já as aceitamos como um
ideal a ser atingido, e isso é um grande passo, pois tal concordância há-de
levar-nos, mais dia, menos dia, a esse estado de paz e de felicidade a que
todos aspiramos."

("As Leis Morais", Rodolfo Calligaris)

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