sexta-feira, 26 de abril de 2013

"VOZES DA VIDA"


"Ao Homem que alegou perante os Céus
Que de nada dispunha para dar
Por sentir-se tão pobre quão sozinho,
O Senhor concedeu a bênção de escutar
As migalhas e cousas do caminho!...

Disse-lhe um pão largado a um canto da sacola:
— Dá-me a feliz esmola
De poder amparar!
Passaram hoje aqui dois pequenos sem nome...
Ah!...Quanto desejei arredá-los da fome!...
Para ajudar, porém, necessito, primeiro,
De tuas mãos, meu nobre companheiro,
Porquanto, é lei de Deus, na exaltação do Bem,
Que pessoa nenhuma
Possa melhor servir sem apoio de alguém...

Uma rosa a entreabrir-se, acetinada e bela,
Exclamou da janela:
— O vento da manhã explicou-me que existe
Em vizinho hospital
Uma jovem doente abandonada e triste,
Desejando uma flor...
Quero sair daqui
Para ofertar-lhe ao peito uma nota de amor
Mas para realizar o sonho
Em que, pobre de forças, me agasalho,
Tentando transformar-me em fé, simpatia e trabalho,
Nada posso sem ti!...

Um bloco de papel atirado ao relento
Rogou, a sacudir-lhe o pensamento:
— Vem agora comigo,
O impulso de teu lápis não me cansa,
Anseio ser contigo
A carta mensageira de esperança!...

Antigo cobertor aposentado
Transmitiu-lhe um recado:
—  O irmão enfermo, em frente, pede caridade,
Não me conserves sem utilidade...
Devo entregar-lhe a paz contra a guerra do frio,
Para isso, porém, neste culto de amor,
A fim de que eu lhe dê o amparo do calor,
Tanto ao catre vazio
Quanto ao corpo cansado de exaustão,
Não te dispenso a colaboração...

Pequenina moeda ergueu a voz
E falou-lhe do bolso em que jazia:
— Pobre mão de criança semimorta
Veio hoje e pediu socorro à porta...
Leva-me a trabalhar.
Suplico a Deus para que alguém me aceite,
Preciso converter-me em xícara de leite
Que nutra, reconforte
E arranque essa criança ao domínio da morte!...

O homem renovado
Aguçou a atenção e escutou, mais além...
Sementes, frutos, fontes,
Os legumes do vale e as árvores dos montes...
Tudo era aceno e voz para o convite ao Bem!...
Integralmente transformado,
Ouvindo a Natureza, em derredor,
Viu-se rico e feliz, firme, grande, maior,
E exclamou para os Céus,
Em júbilo profundo:
— Obrigado, meu Deus,
O dom de trabalhar é o tesouro do mundo,
Ensina-me a servir,
Sê louvado, Senhor,
Na grandeza da Vida e na bênção do Amor!..."

(Maria Dolores, na obra “Encontro de Paz”, Espíritos Diversos/ Francisco Cândido Xavier)

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