terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

"O PASSADO"


"Segue. Não te detenhas 
Nas sombras que se foram. 
Angústia e depressão? 
Não desperdices tempo. 

Fita a luz da manhã 
Renovando-te a senda. 
Fazes o bem que puderes, 
Prestigiando as horas. 

Ama, serve e perdoa. 
Foge à tristeza inútil. 
O que passou pertence 
Aos domínios de Deus."

("Algo Mais", Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

"CARNAVAL"

 
"Nenhum espírito equilibrado em face do bom senso, que deve presidir a existência das criaturas, pode fazer apologia da loucura generalizada que adormece as consciências nas festas carnavalescas.

É lamentável que na época atual, quando os conhecimentos novos felicitam a mentalidade humana, fornecendo-lhes a chave maravilhosa dos seus elevados destinos, descerrando-lhes as belezas e os objetivos sagrados da Vida, se verifiquem excessos dessa natureza entre as sociedades que se pavoneiam com os títulos da civilização. Enquanto os trabalhos e as dores abençoadas, geralmente incompreendidos pelos homens, lhes burilam o caráter e os sentimentos prodigalizando-lhes os benefícios inapreciáveis do progresso espiritual, a licenciosidade desses dias prejudiciais opera, nas almas indecisas e necessitadas do amparo moral dos outros espíritos mais esclarecidos, a revivescência de animalidades que só os longos aprendizados fazem desaparecer.

Há nesses momentos de indisciplina sentimental o largo acesso das forças da treva nos corações e às vezes toda uma existência não basta para realizar os reparos precisos de uma hora de insânia e de esquecimento do dever.
É estranho que as administrações e elementos de governos colaborem para que se intensifique a longa série de lastimáveis desvios de espíritos fracos, cujo caráter ainda aguarda o toque miraculoso da dor para aprender as grandes verdades da vida.

Enquanto há miseráveis que estendem as mãos súplices, cheios de necessidades e de fome, sobram as fartas contribuições para que os salões se enfeitem e se intensifique o olvido de obrigações sagradas por parte das almas cuja evolução depende do cumprimento austero dos deveres sociais e divinos.

Ação altamente meritória seria a de empregar todas as verbas consumidas em semelhantes festejos na assistência social aos necessitados de um pão e de um carinho.

Ao lado dos mascarados da pseudoalegria, passam os leprosos, os cegos, as crianças abandonadas, as mães aflitas e sofredoras.

Por que protelar essa ação necessária das forças conjuntas dos que se preocupam com os problemas nobres da vida, a fim de que se transforme o supérfluo na migalha abençoada de pão e de carinho que será a esperança dos que choram e sofrem?

Que os nossos irmãos espíritas compreendam semelhantes objetivos de nossas despretensiosas opiniões, colaborando conosco, dentro de suas possibilidades, para que possamos reconstituir e reedificar os costumes para o bem de todas as almas.

É incontestável que a sociedade pode, com o seu livre arbítrio coletivo, exibir superfluidades e luxos nababescos, mas, enquanto houver um mendigo abandonado junto de seu fastígio e de sua grandeza, ela só poderá fornecer com isso um eloquente atestado de sua miséria moral."
 
(Mensagem de Emmanuel, psicografada por Chico Xavier em julho de 1939.)

sábado, 25 de fevereiro de 2017

"PODER CURATIVO DO MAGNETISMO ESPIRITUAL"

Espírito do Dr. Demeure

(Revista Espírita, abril de 1865)


"Em nosso artigo do mês passado sobre o Dr. Demeure, pres­tamos uma justa homenagem às suas eminentes qualidades como homem e como Espírito. O fato seguinte é uma nova prova de sua benevolência, ao mesmo tempo que constata o poder curativo da magnetização espiritual.
 
Escrevem-nos de Montauban:
 
O Espírito do bom pai Demeure, vindo engrossar o número de nossos amigos invisíveis que cuidam de nossa moral e do nosso físico, quis manifestar-se desde os primeiros dias por um benefício. A notícia de sua morte ainda não era conhecida dos nossos irmãos de Montauban, quando ele empreendeu espontânea e diretamente a cura de um deles por meio do magnetismo espiritual, apenas pela ação fluídica. Vedes que ele não perdia tempo e continuava como Espírito, assim como dizeis, sua obra de alívio da Humanidade sofredora. Entretanto, há aqui uma importante distinção a fazer. Certos Espíritos continuam vinculados às suas ocupações terrenas, sem consciência de seu estado, julgando-se ainda vivos. Isso é próprio dos Espíritos pouco adiantados, ao passo que o Sr. Demeure se reconheceu imediatamente e age voluntariamente como Espírito, com a consciência de ter maior força nesse estado.
Tínhamos ocultado a morte do Sr. Demeure à Sra. G..., médium vidente e sonâmbula muito lúcida, para poupar sua extrema sensibilidade, e o bom doutor, sem dúvida percebendo nosso ponto de vista, tinha evitado manifestar-se a ela. A 10 de fevereiro último, estávamos reunidos a convite de nossos guias que, diziam eles, queriam aliviar a Sra. G... de um entorse de que ela sofria cruelmente desde a véspera. Não sabíamos mais que isto, e estávamos longe de esperar a surpresa que nos preparavam. Imediatamente depois de ter entrado em estado sonambúlico, a dama soltou gritos lancinantes, mostrando o seu pé. Eis o que se passava:
A Sra. G... via um Espírito curvado sobre sua perna, mas as suas feições ficavam ocultas. Ele operava fricções e massagens, fazendo de vez em quando uma tração longitudinal sobre a parte doente, absolutamente como teria feito um médico. A operação era tão dolorosa que a paciente por vezes vociferava e fazia movimentos desordenados. Mas a crise não teve longa duração. Ao cabo de dez minutos todos os traços de entorse haviam desaparecido. Não havia mais inflamação, e o pé tinha retomado sua aparência normal. A Sra. G... estava curada.
Quando se pensa que para curar completamente uma afecção desse gênero, os mais bem dotados magnetizadores e os mais exercitados, sem falar da medicina oficial que ainda não chegou a uma conclusão sobre tais casos, precisam de um tratamento cuja duração nunca é de menos de trinta e seis horas, para isso consagrando três sessões diárias de uma hora, esta cura em dez minutos, pelo fluido espiritual, pode bem ser considerada como instantânea, com tanto mais razão, como diz o próprio Espírito numa comunicação que se encontra a seguir, que era de sua parte uma primeira experiência, feita visando uma aplicação posterior, em caso de êxito.
Entretanto, o Espírito continuava desconhecido da médium e persistia em não mostrar suas feições. Ele dava mesmo a impressão de querer fugir, quando, de um pulo, nossa doente, que minutos antes não podia dar um passo, se lança no meio da sala para apertar a mão do seu médico espiritual. Ainda essa vez, o Espírito havia desviado a face, deixando apenas sua mão na dela. Nesse momento a Sra. G... solta um grito e cai no chão extenuada. Ela acabara de reconhecer o Sr. Demeure no Espírito curador. Durante a síncope, ela recebeu os cuidados dedicados de vários Espíritos simpáticos. Enfim, readquirida a lucidez sonambúlica, ela conversou com os Espíritos, trocando fortes apertos de mão, principalmente com o Espírito do doutor, que respondia a seus testemunhos de afeição, penetrando-a de um fluido reparador.
Não é uma cena empolgante e dramática, na qual parecia serem vistas todas as personagens representando seu papel na vida humana? Não é uma prova entre mil que os Espíritos são seres perfeitamente reais, tendo um corpo e agindo como faziam na Terra? Estávamos felizes por encontrar o nosso amigo espiritualizado, com seu excelente coração e sua delicada solicitude. Em vida ele tinha sido médico da médium; conhecia sua extrema sensibilidade e a tinha conduzido como se fosse sua filha. Esta prova de identidade dada àqueles a quem o Espírito amava não é tocante e apta a fazer encarar a vida futura sob seu aspecto mais consolador? Eis a comunicação recebida do Sr. Demeure, no dia seguinte a esta sessão:

“Meus bons amigos, estou ao vosso lado e vos amo sempre como no passado. Que felicidade poder comunicar-me com os que me são caros! Como fiquei feliz, ontem à noite, por me tornar útil e aliviar nossa cara médium vidente! É uma experiência que me servirá e que porei em prática no futuro, sempre que se apresentar uma ocasião favorável. Hoje seu filho está muito doente, mas espero que logo o curemos. Tudo isto lhe dará coragem para perseverar no estudo do desenvolvimento de sua faculdade. (O filho da Sra. G... realmente foi curado de uma angina inflamatória, com medicação homeopática ordenada pelo Espírito).
“Daqui a algum tempo poderemos fornecer-vos ocasião de testemunhardes fenômenos que ainda não conheceis, e que serão de grande utilidade para a ciência espírita. Ficarei feliz em poder contribuir pessoalmente nessas manifestações, que teria tido muito prazer em ver quando vivo, mas, graças a Deus, hoje as assisto de maneira muito particular e que me prova evidentemente a verdade do que se passa entre vós. Crede, meus bons amigos, que sinto sempre um verdadeiro prazer em me tornar útil aos meus semelhantes, e em ajudá-los a propagar estas belas verdades que devem mudar o mundo, trazendo-o a melhores sentimentos.
“Adeus, meus amigos. Até à vista.
“ANTOINE DEMEURE”

Não é curioso ver um Espírito, já sábio na Terra, como Espí­rito fazer estudos e experiências para adquirir mais habilidade no alívio de seus semelhantes? Há nesta confissão uma louvável modéstia que confere o verdadeiro mérito, ao passo que os Espíritos pseudossábios geralmente são presunçosos.
O último número da Revista cita uma comunicação do Sr. Demeure, como dada em Montauban a 1º de fevereiro. Foi a 26 de janeiro que ele a ditou. Essa data tem, na minha opinião, uma certa importância, porque foi o dia seguinte ao da sua morte. No segundo parágrafo diz ele:... “Gozo de uma lucidez rara nos Espíritos há tão pouco tempo desprendidos da matéria.” Com efeito, essa lucidez prova um rápido desprendimento que é próprio dos Espíritos moralmente muito adiantados.

OBSERVAÇÃO: A cura relatada acima é um exemplo da ação do magnetismo espiritual puro, sem qualquer mistura do magnetismo humano. Por vezes os Espíritos se servem de médiuns especiais, como condutores de seu fluido. São os médiuns curadores propriamente ditos, cuja faculdade apresenta graus muito diversos de energia, conforme sua aptidão pessoal e a natureza dos Espíritos pelos quais são assistidos. Conhecemos em Paris uma pessoa há oito meses atingida de exostoses na anca e no joelho, que lhe causam grandes sofrimentos e a prendem ao leito. Um de seus jovens amigos, dotado dessa preciosa faculdade, lhe deu cuidados pela simples imposição das mãos, durante alguns minutos, sobre a cabeça, e pela prece, que o doente acompanhava com fervor edificante. Este último experimentava, no momento, uma crise muito dolorosa, análoga à sentida pela Sra. G..., logo seguida de uma calma perfeita. Então sentia a impressão enérgica de várias mãos, que massageavam e estiravam a perna, que se via alongar-se de 10 a 12 centímetros. Nele já há uma melhora muito sensível, porque começa a andar, mas a antiguidade e a gravidade do mal necessariamente tornam a cura mais difícil e mais demorada que uma simples entorse.
Faremos observar que a mediunidade curadora ainda não é apresentada, ao que saibamos, com caracteres de generalidade e de universalidade, mas, ao contrário, restrita como aplicação, isto é, que o médium tem uma ação mais poderosa sobre certos indivíduos do que sobre outros, e não cura todas as doenças. Compreende-se que assim deva ser, quando se conhece o papel capital que representam as afinidades fluídicas em todos os fenômenos da mediunidade. Algumas pessoas só gozam dela acidentalmente e para um determinado caso. Seria, pois, um erro crer que, pelo fato de termos obtido uma cura, mesmo difícil, podem ser obtidas todas, pela razão que o fluido próprio de certos doentes é refratário ao fluido do médium. A cura é tanto mais fácil quanto mais naturalmente se opera a assimilação dos fluidos. Assim, é surpreendente que algumas pessoas frágeis e delicadas exerçam uma ação poderosa sobre indivíduos fortes e robustos. É que nesse caso, essas pessoas são bons condutores do fluido espiritual, ao passo que homens vigorosos podem ser maus condutores. Eles têm somente seu fluido pessoal, fluido humano que jamais tem a pureza e o poder reparador do fluido depurado dos bons Espíritos.
De acordo com isto, compreendem-se as causas maiores que se opõem a que a mediunidade curadora se torne uma profissão. Para dela fazer ocupação, seria preciso ser dotado de uma faculdade universal. Ora, só Espíritos encarnados da mais elevada ordem poderiam possuí-la nesse grau. Ter essa presunção, mesmo exercendo-a com desinteresse e por pura filantropia, seria uma prova de orgulho que por si só seria um sinal de inferioridade moral.
A verdadeira superioridade é modesta. Ela faz o bem sem ostentação e apaga-se em vez de procurar o brilho. Aquele que tem renome vai buscá-la e a descobre, ao passo que o presunçoso corre à busca do renome que muitas vezes lhe escapa. Jesus dizia àqueles que ele havia curado: “Ide, dai graças a Deus e não o digais a ninguém.” É uma grande lição para os médiuns curadores.
Lembraremos aqui que a mediunidade curadora está exclusivamente na ação fluídica mais ou menos instantânea; que ela não deve ser confundida com o magnetismo humano, nem com a faculdade que têm certos médiuns de receber dos Espíritos a indicação de remédios. Estes últimos são apenas médiuns receitistas, como outros são médiuns poetas ou desenhistas. Allan Kardec"

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

"ESFERA DE VIGILÂNCIA"


"O homem prudente oculta o conhecimento, mas o coração dos insensatos proclama a estultícia." Pv. 12, v. 23.

        "O homem prudente nunca mostra o que sabe. A verdade, por si, se expande. O insensato proclama por toda a parte até o que não conseguiu ser.
       A sabedoria alimenta a vigilância. A estultícia se encontra ao desamparo, à mercê de todas as investidas do mal.
       O místico tem o máximo cuidado no que pensa, no que diz e no que escreve, para que em nada seja motivo de escândalo.
       Situa-te na esfera de vigilância, pois que serás avaliado pelo que fizeres das oportunidades. Não peças peixe a quem somente te pode dar pedra, e nem pedra a quem tem pão, em abundância.
       A prudência aumenta as virtudes, para que elas se multipliquem no céu da alma. E a invigilância anuncia, antes, qualidades ainda a caminho.
       Faze o que puderes em favor dos que sofrem e choram, dos estropiados e presos, dos famintos e nus, mas com critério,  para que as tuas forças, amanhã, não desfaleçam.
       Pensa nos outros, mas não te esqueças, igualmente, de ti. Pensa m ti, mas nunca abandones o próximo.
       Os homens se completam, quando unidos pelo amor.
       A vigilância é uma esfera luminosa e circula onde está sendo alimentada."

(“Gotas de Paz”,  Carlos/João Nunes Maia)

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

"DO MODO DE AUXILIAR"

  "Qualquer socorro, indiscutivelmente, nasce na fonte da caridade, merecendo gratidão e respeito; no entanto, em amparando a alguém, não olvides o modo de dar para que a tua dádiva seja na Terra uma luz do Céu.
*
       Muita gente arremessa a bolsa ao semblante do irmão em prova, com tanta dureza de sentimento que, em lugar das flores da alegria, apenas lhe oferta ao coração as raízes envenenadas da angústia.
*
       Muitos estendem o pão ao faminto, revestindo-o de tantas reprimendas, que o alimento lhe alcança a boca com ressaibos de fel.
*
       E muitos, ainda, oferecem a palavra de fé e orientação, aos desesperados do caminho terrestre, com tantas anotações de escárnio que o prato do conselho edificante surge condimentado em vinagre de crítica, à maneira de manjar celeste misturado de lodo e lama.
*
       Analisa a intenção com que socorres para que a leviandade não te desfigures o gesto amigo.
*
       Considera a inflexão de tua voz para que teu verbo não se transforme em azorrague esfogueante.
*
       Observa a maneira que adotas no auxílio ao companheiro de luta, a fim de que a intolerância não te comande os movimentos, distribuindo humilhação e pesar, ao invés de esperança e consolação.
*
       Muitos dão.
       Raros, no entanto, sabem dar, porque para estender o culto do amor fraterno por sublime virtude, é imprescindível que a humildade nos ilumine por dentro, a fim de que a ausência do perdão e da paciência, do entendimento e da bondade não nos converta em censores de nossos próprios irmãos, sedentos de solidariedade e carinho.
*
       Não nos esqueçamos de que auxiliando aos outros como Jesus auxiliou — oferecendo ao mundo quanto possui de si, sem cogitar de si mesmo — realmente faremos da caridade comum não apenas o refúgio da esmola mas o divino santuário da educação."

(“Seguindo Juntos”, Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

"O BARRO DESOBEDIENTE"

"Houve um oleiro que chegou ao pátio de serviço e reparou com alegria em pequeno bloco de barro. Contemplou-o, enlevado, em face da cor viva com que se apresentava e falou:
- Vamos! Farei de ti delicado pote de labo­ratório. O analista alegrar-se-á com teu con­curso valioso.
Imensamente surpreendido, porém, notou que o barro retrucava:
- Oh! não, não quero! Eu, num laborató­rio, tolerando precipitações químicas? por favor, não me toques para semelhante fim!
O oleiro, espantado, considerou:
- Desejo dar-te forma por amor, não por ódio. Sofrerás o calor de forno para que te faças belo e útil... Entretanto, porque te recusas ao que proponho, transformar-te-ei numa caprichosa ânfora destinada a depósito de perfumes.
- Oh! nunca! nunca!... - exclamou o barro - isto não! Estaria exposto ao prazer dos inconscientes. Não estou inclinado a suportar essências, através de peregrinações pelos móveis de luxo.
O dono do serviço meditou muito na desobe­diência da lama orgulhosa, mas, entendendo que tudo devia fazer por não trair a confiança do Céu, ponderou:
- Bem, converter-te-ei, então, num prato honrado e robusto. Comparecerás à mesa de meu lar. Ficarás conosco e serás companheiro de meus filhinhos. - Jamais! - bradou o barro, na indisciplina - isto seria pesada humilhação... Trans­portar arroz cozido e agüentar caldos gordurosos na face? assistir, inerme, às cenas de glutonaria em tua casa? não, não me submetas!...
O trabalhador dedicado perdoou-lhe a ofensa e acrescentou:
- Modificaremos o programa ainda uma vez. Serás um vaso amigo, em que a límpida água repouse. Ajudarás aos sedentos que se apro­ximarem de ti. Muita gente abençoar-te-á a co­operação. Despertarás o contentamento e a gra­tidão nas criaturas!... - Não, não! - protestou a argila - não quero! Seria condenar-me a tempo indefinido nas cantoneiras poeirentas ou nas salas escuras de pessoas desclassificadas. Por favor, poupa-me! poupa-me!...
O oleiro cuidadoso considerou, preocupado:
- Que será de ti quando te conduzirem ao forno? Não passarás de matéria endurecida e informe, sem qualquer utilidade ou beleza. Sem sacrifício e sem disciplina, ninguém se eleva aos planos da vida superior.
O barro, todavia, recusou a advertência, bra­dando:
- Não aceito sacrifício, nem disciplina...
Antes que pudesse prosseguir, passou o en­fornador arrebanhando a argila pronta, e o barro desobediente foi também conduzido ao forno em brasa.
Decorrido algum tempo, a lama vaidosa foi retirada e - ó surpresa! - não era pote de laboratório, nem ânfora de perfume, nem prato de refeição, nem vaso para água e, sim, feio pedaço de terra requeimada e morta, sem qual­quer significação, sendo imediatamente atirada ao pântano.
Assim acontece a muitas criaturas no mun­do. Revoltam-se contra a vontade soberana do Senhor que as convida ao trabalho de aperfei­çoamento, mas, depois de levadas pela experiên­cia ao forno da morte, se transformam em ver­dadeiros fantasmas de desilusão e sofrimento, necessitando de longo tempo para retornarem às bênçãos da vida mais nobre."
("Alvorada Cristã". Neio Lúcio/Francisco Cândido Xavier)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

"O VENCEDOR"

"E Eu, quando levantado da terra, atrairei todos a mim." (João:12-32)
"Jesus veio para inaugurar na terra o reino do amor. Encontrou dificuldades de toda natureza, porque os homens daqueles dias em que ele viveu entre nós, estavam acostumados ao poder e à força.
As criaturas se encontravam divididas entre senhores e escravos, poderosos e os sem valor nenhum.
A vida não era respeitada, porque a guerra destruía as esperanças e submetia os que não podiam vencer, deles fazendo infelizes sem liberdade.
Quando Jesus ensinou que todos os homens são iguais e que as diferenças se fazem somente através das conquistas morais, houve aborrecimentos por parte dos que governavam e queriam manter o estado de coisas no ritmo em que se encontrava.
Ele, porém, continuou a ensinar o amor a todos os seres, o perdão a todas as ofensas e a humildade como formas de crescimento para Deus. Vivia cercado pelos pobres, pelos sofredores, pelos que eram desprezados e não mereciam nenhuma consideração.
Em qualquer lugar em que ele aparecia, as multidões se aproximavam para o ouvir e receber das suas mãos o alimento da paz, a esperança de felicidade e a saúde. Nada conseguia perturbar Jesus. Ele convidou doze homens para que se tornassem seus discípulos, porque era o mais sábio do mundo, assim fazendo-se mestre de todos.
Esses amigos o amavam, mas não compreendiam a missão dele, o reino que fundava. Porque sofriam, e eram pobres, esperavam que ele se tornasse rei do país onde todos eles haviam nascido, e que se chamava Israel.
Ele demonstrava não ter interesse pelas coisas do mundo, nem pelas posições de destaque social na terra. Renunciava a tudo: aos aplausos, às gratidões, aos jogos humanos.
Mas, os companheiros não entendiam a sua atitude e ficavam inquietos. Eles amavam a Deus, mas queriam a felicidade no mundo. Jesus, no entanto, ensinou-lhes, dizendo:
- Eu sou o caminho para Deus, que e a verdade e a vida, e ninguém consegue compreender essa realidade, senão por meu intermédio.
Cada vez que ele apresentava lições tão profundas, que contrariavamos religiosos da época, aumentavam os ódios contra a sua vida.
Foi durante a sua visita a Jerusalém, que era a capital de Israel, como ainda hoje, durante umas festas chamadas de Páscoa, que Ele foi preso e levado a um julgamento injusto.
Judas, que era também seu discípulo, o vendeu aos sacerdotes, traindo o seu amor. E pedro, que igualmente o amava muito, quando foi apontado como sendo seu amigo, respondeu com medo, por três vezes:
- Eu nunca vi esse homem!
Os dois se arrependeram, quando o viram, depois de condenado, ser crucificado, no alto de um monte que era conhecido pelo nome de Calvário. Judas, atormentado, suicidou-se, envergonhado do que fizera, cometendo, com esse ato, um crime muito grave diante de Deus.
Pedro procurou recuperar-se, também arrependido, vivendo totalmente dedicado a pregar e a viver a doutrina que ele havia ensinado. E, de fato, foi na cruz, erguido da terra, que todos compreenderam que Jesus era o verdadeiro vencedor do mundo.
Embora houvesse morrido, ele ressuscitou, três dias depois, e voltou a conviver com os amigos, aparecendo até aos estranhos, num lugar onde estavam quase quinhentas pessoas, num monte, escutando João, que era o seu discípulo amado, falando a respeito dele.
O verdadeiro vencedor não é aquele que domina os outros, mas quem consegue dominar os seus ímpetos, amando sem qualquer rancor de ninguém, nem mesmo daqueles que o persigam e maltratem."
("O Vencedor", Amélia Rodrigues/Divaldo Franco)

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

"BUSCA INCESSANTE"

"Uma das formas de ser feliz é buscar a Verdade sempre, não estacionando no já conseguido, e seguindo além.
Não tenhas, porém, a pretensão de obrigar os outros a aceitarem o que hajas conquistado.
As criaturas estacionam e progridem em faixas de valores diferentes, não podendo ser padronizadas mediante a mesma escala.
Além disso, a Verdade absoluta não será conseguida pelo homem finito.
Assim, ela se apresenta com matizes variados que atendem aos diversos graus da evolução humana, sem imposições constrangedoras.
Conquista sem humilhar; submete sem ferir; domina, libertando.
Quem a encontra, modifica-se inteiramente, alterando, para melhor, o padrão do comportamento.
Livre, com ela faz-se mais sábio e paciente, apaziguado e feliz.
Como não gostas que te cerceiem a faculdade de pensar e eleger o que te parece melhor, não te imponhas nem as tuas aquisições intelecto-morais a ninguém.
*
Através do exemplo leciona a verdade, nunca revidando mal por mal, desculpando a ignorância e olvidando toda ofensa.
Com uma visão mais clara e perfeita da vida, entendes melhor os homens e suas debilidades, sendo paciente com eles e conquistando-os para o clima de bem-estar que desfrutas.
O sábio não é aquele que conhece, mas quem aplica o conhecimento na vivência diária.
A verdade é manifestação de Deus, que a pouco e pouco o homem penetra.
Por isso, ensinou Jesus que todos buscássemos a verdade, pois que ela, expressando o amor em plenitude, liberta e torna feliz o ser."
("Episódios Diários", Joanna de Ângelis/Divaldo Franco)

domingo, 19 de fevereiro de 2017

"BALADA MATERNAL"

"Age buscando o bem, alma querida!
Passa na vida a semear dulçores...
Colherás flores em quaisquer caminhos,
Terás carinhos em crisóis de dores!

Tu que não crês no mal, segue cantando,
Bênçãos plantando nos sendais agrestes...
Se tuas vestes mil espinhos rasgam,
Teu peito afagam vibrações celestes!

Se lágrimas rebrilham-te nos olhos,
Vence os abrolhos com gentil sorriso...
Guarda no aviso o coração desperto,
Pois fulge perto o Sol do Paraíso!

Entre os acúleos da escarpada via,
Doce alegria os passos te conduz...
A cruz é a porta de esplendentes eras,
Nas primaveras da celeste luz!

Segue, portanto, coração querido,
sem dar ouvido a mágoas ou temores...
Após as dores da escalada ingente,
Terás somente o amor dos teus amores!"

 (Letícia - Poema psicografado por Hernani T. Sant’Anna, na Federação Espírita Brasileira, no Rio de Janeiro-RJ, na noite de 8 de dezembro de 1977.) Fonte: Reformador de maio de 2004)

sábado, 18 de fevereiro de 2017

"FACES DO DINHEIRO"

"O dinheiro assume em nossa experiência variados aspectos.
Temo-lo em diversas modalidades, auxiliando ou prejudicando, iluminando ou denegrindo...
Encontramos o dinheiro-alegria que se transforma em alimento na boca das crianças desamparadas...
Dinheiro-tranqüilidade que consegue pacificar o coração desditoso do homem de bem, cujas mãos chagadas no dever cumprido não podem atender às exigências do lar...
Dinheiro-fraternidade que acende o estímulo de viver nos corações amarfanhados pelo infortúnio...
Dinheiro-luz que incentiva o estudo nobre, a fim de que o próximo se liberte das teias da ignorância...
Dinheiro-progresso que distribui as bênçãos do trabalho com milhares de pessoas, conjugadas no serviço da indústria e da educação...
Dinheiro-caridade que nutre as energias das mães sofredoras e protege o corpo engelhado de velhinhos sem esperança...
Mas vemos igualmente o dinheiro-usura, criando indiferença e crueldade naqueles que o entesouram...
Dinheiro-sofrimento, gerando amargura e tédio naqueles que o amontoam, à custa das lágrimas de seus irmãos...
Dinheiro-treva, envolvendo em nevoeiro de perturbações e de mágoas todos aqueles que o acumulam, ao preço da alheia infelicidade...
Dinheiro-remorso, estabelecendo aflição e pesar nas almas desprevenidas que o amealham nos espinheiros do crime...
Dinheiro-angústia, trazendo tempestade de pranto naqueles que o entravam, em deplorável cegueira, perante a necessidade dos semelhantes...
Dinheiro!... Dinheiro!...
Sim, é possível guardar o dinheiro que conduz ao Céu, entretanto, quase todas as criaturas não sabem construir com ele senão o inferno a que se arrojam, no dia em que a morte lhes abre o caminho da grande transição.
Roguemos ao Senhor nos auxilie a compreender os bens da vida e a movimentá-los, segundo os ditames do Seu Amor."

("Comandos do Amor", Olívia/Francisco Cândido Xavier)

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

"A FAMA DE RICO"

"O coronel Manoel Rabelo, influente fazendeiro no Brasil Central, fora acometido de paralisia nas pernas.
Vivia no leito, rodeado pelos filhos atentos. Muito carinho. Assistência contínua.
No decurso da doença veio a conhecer a Doutrina Espírita, que lhe abriu novos horizontes à vida mental.
Pouco a pouco desprendia-se da idéia de posse.
Para que morrer com fama de rico?
Queria agora a paz, a bênção da paz.
Viúvo, dono de expressiva fortuna e prevendo a desencarnação próxima, chamou os quatro filhos adultos e repartiu entre eles os seus bens.
Terras, sítios, casas e animais, avaliados em seis milhões de cruzeiros, foram divididos escrupulosamente.
Com isso, porém, veio a reviravolta.
Donos de riqueza própria, os filhos se fizeram distantes e indiferentes.
Muito embora as rogativas paternas, as visitas eram raras e as atenções inexistentes.
Rabelo, muito triste e quase completamente abandonado, perguntava a si mesmo se não havia cometido precipitação ou imprudência.
Os filhos não eram espíritas e mostravam irresponsabilidade completa.
Nessa conjuntura, apareceu-lhe antigo e inesperado devedor. O Coronel Antônio Matias, seu amigo da mocidade, veio desobrigar-se de empréstimo vultuoso, que havia tomado sob palavra, e pagou-lhe dois milhões de cruzeiros em cédulas de contado.
Na presença de dois filhos, Rabelo colocou o dinheiro em cofre forte, ao pé da cama. Sobreveio o imprevisto.
Os quatro filhos voltaram às antigas manifestações de ternura. Revezavam-se junto dele.
Papas de aveia. Caldos de galinha. Frutas e vitaminas.
Mantinham os cobertores quentes e fiscalizavam a passagem do vento pelas janelas.
Raramente Rabelo ficava algumas horas sozinho.
E, assim, viveu ainda dois anos, desencarnando em grande serenidade.
Exposto o cadáver à visitação pública, fecharam-se os filhos no quarto do morto e, abrindo aflitamente o cofre, somente encontraram lá um bilhete escrito e assinado pela vigorosa letra paterna, entre as páginas de surrado exemplar de "O Evangelho segundo o Espiritismo".
O papel assim dizia:
"Meus filhos,
Deus abençoe vocês todos.
O dinheiro que me restava distribuí entre vários amigos para obras espíritas de caridade. Lego, porém, a vocês, o capítulo décimo quarto de "O Evangelho segundo o Espiritismo". E os quatro, extremamente desapontados, leram a legenda que se seguia:
"Honrai a vosso pai e a vossa mãe. - Piedade filial."
("Almas em Desfile", Hilário Silva/Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira)

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

"FACCIOSISMO"

"Mas se tendes amarga inveja e sentimento faccioso, em vosso coração, não vos glorieis nem mintais contra a verdade." - (TIAGO, 3:14.)
"Toda escola religiosa apresenta valores inconfundíveis ao homem de boa-vontade.
Não obstante os abusos do sacerdócio, a exploração inferior do elemento humano e as fantasias do culto exterior, o coração sincero beneficiar-se-á amplamente, na fonte da fé, iluminando-se para encontrar a Consciência Divina em si mesmo.
Mas, em todo instituto religioso, propriamente humano, há que evitar um perigo - o sentimento faccioso, que adia, indefinidamente, as mais sublimes edificações espirituais.
Católicos, protestantes, espiritistas, todos eles se movimentam, ameaçados pelo monstro da separação, como se o pensamento religioso traduzisse fermento da discórdia.
Infelizmente, é muito grande o número de orientadores encarnados que se deixam dominar por suas garras perturbadoras. Espessos obstáculos impedem a visão da maioria.
Querem todos que Deus lhes pertença, mas não cogitam de pertencer a Deus.
Que todo aprendiz do Cristo esteja preparado a resistir ao mal; é imprescindível, porém, que compreenda a paternidade divina por sagrada herança de todas as criaturas, reconhecendo que, na Casa do Pai, a única diferença entre os homens é a que se mede pelo esforço nobre de cada um."
("Vinha de Luz", Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

"JOVENS"

"No estudo das idéias inatas, pensemos nos jovens, que somam às tendências do passado as experiências recém-adquiridas.
Com exceção daqueles que renasceram submetidos à observação da patologia mental, todos vieram da estação infantil para o desempenho de nobre destino.
Entretanto, quantas ansiedades e quantas flagelações quase todos padecem, antes de se firmarem no porto seguro do dever a cumprir!...
Ao mapa de orientação respeitável que trazem das Esferas Superiores, a transparecer-lhes do sentimento, na forma de entusiasmos e sonhos juvenis, misturam-se as deformações da realidade terrestre que neles espera a redenção do futuro.
Muitos saem da meninice moralmente mutilados pelas mãos mercenárias a que foram confiados no berço, e outros tantos acordam no labirinto dos exemplos lamentáveis, partidos daqueles mesmos de quem contavam colher as diretrizes do aprimoramento interior.
Muitos são arremessados aos problemas da orfandade, quando mais necessitavam de apoio amigo, junto de outros que transitam na Terra, à feição das aves de ninho desfeito, largados, sem rumo, à tempestade das paixões subalternas.
Alguns deles, revoltados contra o lodo que se lhes atira à esperança, descem aos mais sombrios volutabros do crime, enquanto outros muitos, fatigados de miséria, se refugiam em prostíbulos dourados para morrerem na condição de náufragos da noite.
Pede-se-lhes o porvir, e arruína-se-lhes o presente.
Engrinalda-se-lhes a forma, e perverte-se-lhes a consciência.
Ensina-se-lhes o verbo aprimorado em lavor acadêmico, e dá-se-lhes na intimidade a palavra degradada em baixo calão.
Ergue-se-lhes o ideal à beleza da virtude, e zomba- se deles toda vez que não se revelem por tipos acabados de animalidade inferior.
Fala-se-lhes de glorificação do caráter, e afoga- -se-lhes a alma no delírio do álcool ou na frustração dos entorpecentes.
Administra-se-lhes abandono, e critica-se-lhes a conduta.
Não condenes a mocidade, sempre que a vejas dementada ou inconseqüente.
Cada menino e moço no mundo é um plano da Sabedoria Divina para serviço à Humanidade, e todo menino e moço transviado é um plano da Sabedoria Divina que a Humanidade corrompeu ou deslustrou.
Recebamos os jovens de qualquer procedência por nossos próprios filhos, estimulando neles o amor ao trabalho e a iniciativa da educação.
Diante de todos os que começam a luta, a senha será sempre - "velar e compreender" -, a fim de que saibamos semear e construir, porque, em todos os tempos, onde a juventude é desamparada, a vida perece."
("Religião dos Espíritos", Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

"CASAMENTO E FAMÍLIA"

"Diante das contestações que se avolumam, na atualidade, pregando a reforma dos hábitos e costumes, surgem os demolidores de mitos e de Instituições, assinalando a necessidade de uma nova ordem que parece assentar as suas bases na anarquia.
A onda cresce e o tresvario domina, avassalador, ameaçando os mais nobres patrimônios da cultura, da ética e da civilização, conquistados sob ônus pesados, no largo processo histórico da evolução do homem.
Os aficionados de revolução destruidora afirmam que os valores ora considerados, são falsos, quando não falidos, e que os mesmos vêm comprimindo o indivíduo, a sociedade e as massas, que permanecem jungidos ao servilismo e à hipocrisia, gerando fenômenos alucinatórios e mantendo, na miséria de vários matizes, grande parte da humanidade.
Entre as Instituições que, para eles, se apresentam ultrapassadas, destacam o matrimônio e a família, propondo a promiscuidade sexual, que disfarçam com o nome de "amor livre", e a independência do jovem, imaturo e inconseqüente, sob a justificativa de liberdade pessoal, que não pode nem deve ser asfixiada sob os impositivos da ordem, da disciplina, da educação...
Excedendo-se, na arbitrariedade das propostas ideológicas ainda não confirmadas pela experiência social nem pela convivência na comunidade, afirmam que a criança e o jovem não são dependentes quanto parecem, podendo defender-se e realizar-se, sem a necessidade da estrutura familiar, o que libera os pais negligentes de manterem os vínculos conjugais, separando-se tão logo enfrentam insatisfações e desajustes, sem que se preocupem com a prole.
Não é necessário que analisemos os problemas existenciais destes dias, nem que façamos uma avaliação dos comportamentos alienados, que parecem resultar da insatisfação, da rebeldia e do desequilíbrio, que grassam em larga escala.
A monogamia é conquista de alto valor moral da criatura humana, que se dignifica pelo amor e respeito ao ser elegido, com ele compartindo alegrias e dificuldades, bem-estar e sofrimentos, dando margem às expressões da afeição profunda, que se manifesta sem a dependência dos condimentos sexuais, nem dos impulsos mais primários da posse, do desejo insano.
Utilizando-se da razão, o homem compreende que a vida biológica é uma experiência muito rápida, que ainda não alcançou biótipos de perfeição, graças ao que, é frágil, susceptível de dores, enfermidades, limitações, sendo, os estágios da infância como o da juventude, preparatórios para os períodos do adulto e da velhice.
Assim, o desgaste e o abuso de agora tornam-se carência e infortúnio mais tarde, na maquinaria que deve ser preservada e conduzida com morigeração.
Aprofundando o conceito sobre a vida, se lhe constata a anterioridade ao berço e a continuidade após o túmulo, numa realidade de interação espiritual com objetivos definidos e inamovíveis, que são os mecanismos inalienáveis do progresso, em cujo contexto tudo se encontra sob impositivos divinos expressos nas leis universais.
Desse modo, baratear, pela vulgaridade, a vida e atirá-la a situações vexatórias, destrutivas, constitui crime, mesmo quando não catalogado pelas leis da justiça, exaradas nos transitórios códigos humanos.
O matrimônio é uma experiência emocional que propicia comunhão afetiva, da qual resulta a prole sob a responsabilidade dos cônjuges, que se nutrem de estímulos vitais, intercambiando hormônios preservadores do bem estar físico e psicológico. Não é, nem poderia ser, uma incursão ao país da felicidade, feita de sonhos e de ilusões.
Representa um tentame, na área da educação do sexo, exercitando a fraternidade e o entendimento, que capacitam as criaturas para mais largas incursões na área do relacionamento social. Ao mesmo tempo, a família constitui a célula experimental, na qual se forjam valores elevados e se preparam os indivíduos para uma convivência salutar no organismo universal, onde todos nos encontramos fixados.
A única falência, no momento, é a do homem, que se perturba, e, insubmisso, deseja subverter a ordem estabelecida, a seu talante, em vãs tentativas de mudar a linha do equilíbrio, dando margem às alienações em que mergulha.
Certamente, muitos fatores sociológicos, psicológicos, religiosos e econômicos contribuíram para este fenômeno. Não obstante, são injustificáveis os comportamentos que investem contra as Instituições objetivando demoli-las, ao invés de auxiliar de forma edificante em favor da renovação do que pode ser recuperado, bem como da transformação daquilo que se encontre ultrapassado.
O processo da evolução é inevitável. Todavia, a agressão, pela violência, contra as conquistas que devem ser alteradas, gera danos mais graves do que aqueles que se buscam corrigir. O lar, estruturado no amor e no respeito aos direitos dos seus membros, á a mola propulsionadora do progresso geral e da felicidade de cada um, como de todos em conjunto.
Para esse desiderato, são fixados compromissos de união antes do berço, estabelecendo-se diretrizes para a família, cujos membros se voltam a reunir com finalidades específicas de recuperação espiritual e de crescimento intelecto-moral, no rumo da perfeição relativa que todos alcançarão.
Esta é a finalidade primeira da reencarnação.
A precipitação e desgoverno das emoções respondem pela ruptura da responsabilidade assumida, levando muitos indivíduos ao naufrágio conjugal e á falência familiar por exclusiva responsabilidade deles mesmos.
Enquanto houver o sentimento de amor no coração do homem --- e ele sempre existirá, por ser manifestação de Deus ínsita na vida --- o matrimônio permanecerá, e a família continuará sendo a célula fundamental da sociedade.
Envidar esforços para a preservação dos valores morais, estabelecidos pela necessidade do progresso espiritual, é dever de todos que, unidos, contribuirão para uma vida melhor e uma humanidade mais feliz, na qual o bem será a resposta primeira de todas as aspirações."

("Antologia Espiritual", Benedita Fernandes/Divaldo Franco)