sexta-feira, 30 de setembro de 2016

"CARTAZES DA VIDA"






"Calúnia - tormento vão -
Em que a sombra se atropela.
Injúria é sempre a razão
Daquele que está sem ela.

             ***

A quem te ofenda na vida,
Coração, ama e perdoa!...
Terra magoada e ferida
Faz o pão que te abençoa."

("Trovas do outro mundo", Marcelo Gama/Francisco Cândido Xavier)

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

"Eugénie Colombe - Precocidade fenomenal"

(Revista Espírita, Fevereiro de 1867 - Variedades)

"Vários jornais reproduziram o seguinte fato:

“A Sentinelle, de Toulon, fala de um jovem fenômeno que é admirado no momento nessa cidade.
É uma menina de dois anos e onze meses, chamada Eugénie Colombe.
Essa menina já sabe ler e escrever perfeitamente; além do mais, está em condições de sustentar o mais sério exame sobre os princípios da religião cristã, sobre gramática francesa, Geografia, História da França e sobre as quatro operações da Aritmética.
Ela conhece a rosa dos ventos e sustenta perfeitamente uma discussão científica sobre qualquer assunto.
Essa admirável menina começou a falar muito distintamente com a idade de quatro meses.
Apresentada nos salões da prefeitura marítima, Eugénie Colombe, dotada de um rosto encantador, obteve um sucesso magnífico.”

Este artigo nos tinha parecido, como para muitas outras pessoas, marcado de tal exagero, que não lhe tínhamos atribuído nenhuma importância. Não obstante, para saber positivamente a que nos atermos, pedimos a um dos nossos correspondentes, oficial de marinha em Toulon, a bondade de se informar do fato. Eis o que ele nos respondeu:

“Para me assegurar da verdade, fui à casa dos pais da menina mencionada pela Sentinelle Toulonnaise de 19 de novembro, e vi essa encantadora criança, cujo desenvolvimento físico corresponde à sua idade. Ela tem apenas três anos. Sua mãe é professora e é ela que dirige a sua instrução. Em minha presença interrogou-a sobre o catecismo, a história sagrada, desde a criação do mundo até o dilúvio, os oito primeiros reis da França e diversas circunstâncias relativas a seus reinados e ao de Napoleão I. Quanto à Geografia, a menina citou as cinco partes do mundo, as capitais dos países que as compõem e várias capitais de Departamentos da França. Também respondeu perfeitamente às primeiras noções de gramática francesa e do sistema métrico. Ela deu todas as respostas sem a menor hesitação, divertindo-se com os brinquedos que tinha nas mãos. Sua mãe me disse que ela sabe ler desde dois anos e meio e assegurou-me que pode responder do mesmo modo a mais de quinhentas perguntas.”

Livre do exagero do relato dos jornais e reduzido às proporções acima, o fato não é menos notável e importante em suas consequências. Ele forçosamente chama a atenção sobre fatos análogos de precocidade intelectual e conhecimentos inatos. Involuntariamente procuramos sua explicação, e com a ideia da pluralidade das existências, que circula, não se chega a nela achar uma solução racional senão numa existência anterior. Há que colocar esses fenômenos no número dos que são anunciados como devendo, por sua multiplicidade, confirmar as crenças espíritas, e contribuir para o seu desenvolvimento.
No presente caso, certamente a memória parece desempenhar um papel importante. Sendo professora a mãe da menina, sem dúvida a menina encontrava-se habitualmente na sala de aula, e teria retido as lições dadas aos alunos por sua mãe, ao passo que se veem certos alunos possuírem, por intuição, conhecimentos de certo modo inatos e independentes de qualquer ensinamento. Mas por que nela e não nos outros, essa facilidade excepcional para assimilar o que ouvia e que provavelmente não pensavam em lhe ensinar? É que aquilo que ela ouvia apenas lhe despertava a lembrança do que ela já soubera. A precocidade de certas crianças para as línguas, a música, as matemáticas, etc., todas as ideias inatas, numa palavra, igualmente não passam de lembranças. Elas se lembram do que souberam, como se veem certas pessoas lembrar-se, mais ou menos vagamente, do que fizeram ou do que lhes aconteceu. Conhecemos um menino de cinco anos que, estando à mesa, onde nada da conversa poderia ter provocado uma ideia a esse respeito, pôs-se a dizer: “Eu fui casado, e me lembro bem. Eu tinha uma mulher, pequena, jovem e linda, e tive vários filhos.” Certamente não temos nenhum meio de controlar sua asserção, mas nos perguntamos de onde lhe pode vir semelhante ideia, quando nenhuma circunstância tinha podido provocá-la.
Devemos disto tirar a conclusão que as crianças que só aprendem à custa de muito esforço foram ignorantes ou estúpidas em sua precedente existência? Certamente não. A faculdade de recordar é uma aptidão inerente ao estado psicológico, isto é, ao mais fácil desprendimento da alma em certos indivíduos do que em outros, uma espécie de visão espiritual retrospectiva que lhes lembra o passado, ao passo que naqueles que não a possuem, esse passado não deixa qualquer traço aparente. O passado é como um sonho, do qual a gente se lembra mais ou menos exatamente, ou do qual se perdeu totalmente a lembrança. (Ver a Revue Spirite de julho de 1860, página 205, e também a de novembro de 1864, página 328).
No momento de remeter a Revista para a gráfica, recebemos de um dos correspondentes da Argélia, que, de passagem por Toulon, viu a pequena Eugénie Colombe, uma carta contendo o relato seguinte, que confirma o precedente, e acrescenta detalhes que não deixam de ser interessantes:

“Essa menina, de uma beleza notável, é de uma vivacidade extrema, mas de uma suavidade angélica. Sentada nos joelhos de sua mãe, respondeu a mais de cinquenta perguntas sobre o Evangelho. Interrogada sobre Geografia, designou-me todas as capitais da Europa e de diversos países da América; todas as capitais dos Departamentos da França e da Argélia; explicou-me o sistema decimal e o sistema métrico. Em gramática, os verbos, os particípios e os adjetivos. Conhece, ou pelo menos define, as quatro operações básicas. Escreveu meu ditado, mas com tal rapidez que sou levado a crer que escrevia mediunicamente. Na quinta linha ela largou a pena, olhou-me fixamente com seus grandes olhos azuis, e me disse bruscamente: ‘Senhor, é bastante’. Depois desceu da cadeira e correu para os brinquedos.
Essa criança certamente é um Espírito muito adiantado, porque se vê que responde e cita sem o menor esforço de memória. Sua mãe me disse que desde os 12 ou 15 meses ela sonha à noite e parece conversar, mas numa língua incompreensível. É caridosa por instinto; chama sempre a atenção de sua mãe quando avista um pobre; não suporta que batam nos cães, nos gatos, nem em qualquer animal. Seu pai é operário do arsenal marítimo.”

Somente espíritas esclarecidos, como os nossos dois correspondentes, poderiam apreciar o fenômeno psicológico que apresenta essa criança e sondar-lhe a causa, porque, assim como para julgar um mecanismo é preciso ser mecânico, para julgar fatos espíritas é preciso ser espírita. Ora, em geral, a quem encarregam da constatação e da explicação dos fenômenos deste gênero? Precisamente a pessoas que não os estudaram e que, negando a causa primeira, não podem admitir-lhes as consequências."

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

"DESEJOS"

"Desejo é realização antecipada.
Querendo, mentalizamos; mentalizando, agimos; 
agindo, atraímos; e atraindo, realizamos.
Como você pensa, você crê, e como você crê, será.
Cada um tem hoje o que desejou ontem
e terá amanhã o que deseja hoje.
Campo do desejo, no terreno do espírito, é semelhante ao campo 
de cultura na gleba do mundo, na qual cada lavrador é livre 
na sementeira e responsável na colheita.
O tempo que o malfeitor gastou para agir em oposição à Lei, é igual 
ao tempo que o santo despendeu para trabalhar sublimando a vida.
Todo desejo, na essência, 
é uma entidade tomando a forma correspondente.
A vida é sempre o resultado de nossa própria escolha.
O pensamento é vivo e depois de agir sobre o objetivo a que
se endereça, reage sobre a criatura que o emitiu,
tanto em relação ao bem quanto ao mal.
A sentença de Jesus: “procura e achará”, equivale a dizer:
“encontrarás o que desejas”."

("Sinal Verde", André Luiz/Francisco Cândido Xavier)

terça-feira, 27 de setembro de 2016

"NA OBRA REGENERATIVA"

"Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa,
vós, que sois espirituais, orientai-o com espírito de mansidão,
velando por vós mesmos para que não sejais igualmente tentados." 
- Paulo. (Gálatas, 6:1).


"Se tentamos orientar o irmão perdido nos cipoais do erro, com aguilhões de cólera, nada mais fazemos que lhe despertar a ira contra nós mesmos.
Se lhe impusermos golpes, revidará com outros tantos.
Se lhe destacamos as falhas, poderá salientar os nossos gestos menos felizes.
Se opinamos para que sofra o mesmo mal com que feriu a outrem,
apenas aumentamos a percentagem do mal, em derredor de nós.
Se lhe aplaudimos a conduta errônea, aprovamos o crime.
Se permanecemos indiferentes, sustentamos a perturbação.
Mas se tratarmos o erro do semelhante, como quem cogita de afastar
a enfermidade de um amigo doente, estamos, na realidade,
concretizando a obra regenerativa.
Nas horas difíceis, em que vemos um companheiro despenhar-se nas
sombras interiores, não olvidemos que, para auxiliá-lo, é tão
desaconselhável a condenação, quanto o elogio.
Se não é justo atirar petróleo às chamas, com o propósito de apagar
a fogueira, ninguém cura chagas com a projeção de perfume.
Sejamos humanos, antes de tudo.
Abeiremo-nos do companheiro infeliz, com os valores da
compreensão e da fraternidade.
Ninguém perderá, exercendo o respeito que devemos a todas as
criaturas e a todas as coisas.
Situemo-nos na posição do acusado e reflitamos se, nas condições dele, teríamos resistido às sugestões do mal. Relacionemos as nossas vantagens
e os prejuízos do próximo, com imparcialidade e boa intenção.
Toda vez que assim procedermos, 
o quadro se modifica nos mínimos aspectos.
De outro modo será sempre fácil zurzir e condenar, para cairmos,
com certeza, nos mesmos delitos, quando formos, por nossa vez,
visitados pela tentação."


("Fonte Viva", Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

"O MELHOR"

"Muitos sonhos nutriste
Que não se realizaram.

Pediste aos Céus a paz
E tiveste mais lutas.

Rogavas a abastança
E a carência te segue.

Achaste o Grande Amor
Em rude desencontro.

Seja qual for a prova,
Não chores. Agradece.

Não duvides da Lei,
Deus faz sempre o melhor."

(“O Essencial”, Emmanuel/Francisco Cândido
Xavier)

domingo, 25 de setembro de 2016

"PALAVRAS DE ESPERANÇA"

"Se não admites a sobrevivência, depois de morte, interroga aqueles que viram partir os entes mais caros.
       Inquire os que afagaram as mãos geladas de pais afetuosos, nos últimos instantes do corpo físico; sonda a opinião das viúvas que abraçaram os esposos, na longa despedida, derramando as agonias do coração, no silêncio das lágrimas; informa-te com os homens sensíveis que sustentaram nos braços as companheiras emudecidas, tentando, em vão, renovar-lhes o hálito na hora extrema; procura  palavra das mães que fecharam os olhos dos próprios filhos, tombados inertes nas primaveras da juventude ou nos brincos da infância... Pergunta aos que carregaram um esquife como quem sepulta sonhos e aspirações no gelo do desalento, e indaga dos que choram sozinhos, junto às cinzas de um túmulo, perguntando por quê...
       Eles sabem, por intuição, que os mortos vivem, e reconhecem que, apenas por amor deles, continuam igualmente a viver.
       Sentem-lhes a presença, no caminho solitário em que jornadeiam, escutam-lhes a voz inarticulada com os ouvidos do pensamento e prosseguem lutando e trabalhando, simplesmente por esperarem os supremos regozijos do reencontro.
-+-
       Se um dia tiveres fome de maior esperança, não temas, assim, rogar a inspiração e a assistência dos corações amados que te precederam na grande viagem. Estarão contigo, a sustentarem-te as energias, nas tarefas humanas, quais estrelas no céu noturno da saudade, a fim de que saibas aguardar, pacientemente, as luzes da alva.
       Busca-lhes o clarão de amor, nas asas da prece, e, se nos templos veneráveis do Cristianismo, alguém te fala de Moisés, reprimindo as invocações abusivas de um povo desesperado, lembra-te de Jesus, ao regressar do sepulcro para a intimidade dos amigos desfalecentes, exclamando, em transportes de júbilo: "A paz seja convosco.”

(“Justiça Divina”, Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)

sábado, 24 de setembro de 2016

"CONVERSAS FAMILIARES DE ALÉM-TÚMULO"

"Goëthe"


"Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, 25 de março de 1856".


       "1. Evocação.
       - Estou convosco.

       2. Qual a vossa situação como Espírito: errante ou reencarnado?
       - Errante.

       3. Sois mais feliz do que quando vivo?
       - Sim, pois estou desvencilhado do corpo grosseiro e vejo o que não via antes.
     
       4. Parece-me que em vida não tínheis uma situação infeliz. Onde, pois, a superioridade de vossa situação atual?
       - Acabo de dizê-lo. Vós, adeptos do Espiritismo, deveis compreender tal situação.
     
       5. Qual a vossa opinião atual sobre o Fausto?
       - É uma obra que tinha por objetivo mostrar a vaidade e o vazio da Ciência humana e, por outro lado, exaltar o sentimento do amor, naquilo que ele tinha de belo e de puro, e condená-lo no que tinha de imoral e de mau.

       6. Foi por uma espécie de intuição do Espiritismo que descrevestes a influência dos maus Espíritos sobre o homem? Como fostes levado a fazer uma tal descrição?
       - Eu tinha a recordação quase exata de um mundo onde via exercer-se a influência dos Espíritos sobre os seres materiais.

       7. Tínheis, então, a recordação de uma existência precedente?
       - Sim, por certo.

       8. Poderíeis dizer se essa existência se passou na Terra?
       - Não, porque aqui não se veem os Espíritos agindo. Foi mesmo num outro mundo.

       9. Mas, então, já que podíeis ver os Espíritos em ação, deveria ser um mundo superior à Terra. Como é que viestes depois para um mundo inferior? Caístes? Tende a bondade de explicar.
       - Era um mundo superior até certo ponto, mas não como o entendeis. Nem todos os mundos têm a mesma organização, sem que, por isto, tenham uma grande superioridade. Além do mais, sabeis muito bem que entre vós eu cumpria uma missão que não podeis ignorar, pois ainda representais as minhas obras. Não houve queda, desde que servi, e ainda sirvo para a vossa moralização. Eu aplicava aquilo que podia haver de superior naquele mundo precedente para melhorar as paixões dos meus heróis.

       10. Sim, vossas obras ainda são representadas. Agora mesmo o Fausto acaba de ser adaptado para ópera. Assististes à sua representação?
       - Sim.

       11. Podeis dar-nos a vossa opinião sobre a maneira por que o Sr. Gounod interpretou o vosso pensamento através da música?
       - Gounod evocou-me sem o saber. Compreendeu-me muito bem. Como músico alemão eu não teria feito melhor. Talvez ele pense como músico francês.

       12. Que pensais do Werther?
       - Agora lhe reprovo o desenlace.

       13. Não teria essa obra feito muito mal, exaltando paixões?
       - Fez, e causou desgraças.

       14. Foi a causa de muitos suicídios. Sois por isso responsável?
       - Desde que houve uma influência maléfica espalhada por mim, é exatamente por isso que sofro ainda e de que me arrependo.

       15. Parece-me que em vida tínheis grande antipatia pelos franceses. Ainda a tendes hoje?
       - Sou muito patriota.

       16. Ainda vos ligais mais a um país do que a outro?
       - Amo a Alemanha por seu pensamento e por seus costumes quase patriarcais.

       17. Quereis dar-nos a vossa opinião sobre Schiller?
       - Somos irmãos pelo Espírito e pelas missões. Schiller tinha uma grande e nobre alma, de que eram reflexos as suas obras. Fez menos mal do que eu. É-me superior, porque era mais simples e mais verdadeiro.

       18. Poderíeis dar-nos a vossa opinião sobre os poetas franceses em geral, comparando-os aos alemães? Não se trata de vão sentimento de curiosidade, mas de nossa instrução. Consideramos os vossos sentimentos muito elevados para nos privarmos de vos pedir imparcialidade, deixando de lado qualquer preconceito nacional.
       - Sois curiosos, mas quero satisfazer-vos.
       Os franceses modernos escrevem muitas vezes belos poemas, mas empregam mais belas palavras do que bons pensamentos. Deveriam aplicar-se mais ao coração e menos ao espírito. Falo em geral, mas faço exceções em favor de alguns: um grande poeta pobre, entre outros.

       19. Um nome é sussurrado na assembleia. - É deste que falais?
       - Pobre, ou que simula pobreza.

       20. Gostaríamos de obter uma vossa dissertação sobre assunto de vossa escolha, para nossa instrução. Teríeis a bondade de nos ditar alguma coisa?
       - Fá-lo-ei mais tarde, por outros médiuns. Evocai-me em outra ocasião."

(Revista Espírita, Junho de 1859)

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

"COLHEITA"

"Se consegues guardar o coração
Sem queixumes em vão,
Além das nuvens densas,
Feitas em vibrações de sarcasmos e ofensas,
Sem que a força da fé se te degrade,
Quando rugem, lembrando tempestade...

Se olhas pare o mal que te rodeia,
Respeitando, em silêncio, a luta alheia,
Se não te fere ouvir
A expressão que te espanca ou te censura,
No verbo avinagrado da amargura,
Sem alterar teu sonho de servir...

Se Logras conservar a luz no pensamento,
Ante os assaltos do tufão violento,
Que se forme da injúria que atraiçoa,
E trabalhas sem mágoa e ajudas sem tristeza,
Plantando o reconforto, a bondade e a beleza,
Sem perder a esperança na alma boa...

Se já podes, enfim,
Converter toda lama em trato de jardim
E criar alegria em tua própria dor,
Para auxílio a quem chora ou socorro de alguém,
Então terás chegado à compreensão do bem,
Para viver em paz, na vitória do amor!..."


("Antologia da Espiritualidade", Maria Dolores/Francisco Cândido Xavier)

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

"ITENS DA IRRITAÇÃO"

 "Enquanto no clima da serenidade, consideremos que a Irritação não é recurso de auxílio, sejam quais sejam as circunstâncias.
          O primeiro prejuízo que a intemperança mental nos impõe é aquele de afastar-nos a confiança dos outros.
          A cólera é sempre sinal de doença ou de fraqueza.
          As manifestações de violência podem estabelecer o regime do medo, ao redor de nós, mas não mudam o íntimo das pessoas.
          Sempre que nos encolerizamos, complicamos os problemas que nos preocupam, ao invés de resolvê-los.
          O azedume que venhamos a exteriorizar é, invariavelmente, a causa de numerosas perturbações para os entes queridos que pretendemos ajudar ou defender.
          Caindo em fúria, adiamos comumente o apoio mais substancial daqueles companheiros que se propõem a prestar-nos auxílio.
          A cólera é quase sempre a tomada de ligação para tramas obsessivas, das quais não nos será fácil a liberação precisa.
          A aspereza no trato pessoal cria ressentimento, e o ressentimento é sempre fator de enfermidade e desequilíbrio.
          Em qualquer assunto, de apaziguamento e aprendizado, trabalho e influência, aquisição ou simpatia, irritar-se contra alguém ou contra alguma coisa será sempre o processo inevitável de perder."

("Encontro de Paz", Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

"SE FORMOS JUSTOS"

 "Deixa que a justiça te clareie a visão para que o egoísmo te não imponha a loucura e a cegueira.
*
       Se formos justos, não nos inclinaremos à censura e à reprovação, ante os erros dos semelhantes, porquanto, conheceremos, de sobra, nossas próprias fraquezas.
*
       Se formos justos, esqueceremos a queixa e a reclamação, porque, notaremos, ao nosso lado, aqueles que caminham no mundo, suportando fardos mais agressivos e mais pesados que o nosso.
*
       Se formos justos, não exigiremos dos outros demonstrações prematuras de bondade e compreensão, de vez que sabemos quanto nos custa o próprio equilíbrio no escabroso acesso às conquistas morais.
*
       Se formos justos, não nos confinaremos ao círculo doméstico, cristalizando-nos nas vantagens particulares, porquanto aprenderemos que as dores do vizinho são iguais às nossas, cultivando, por isso, a fraternidade que nos aquinhoará de alegrias e bênçãos.
*
       Sejamos justos e entenderemos a riqueza dos bens que o Senhor nos empresta, sabendo enxergar a indigência e o infortúnio que nos pedem simpatia e socorro.
*
       Sejamos justos e perceberemos, enfim, que o trabalho infatigável no bem comum é a única fórmula de paz, suscetível de garantir-nos a felicidade e a segurança, porque os cultivadores da justiça, pelo serviço incessante a todos, conhecem o supremo valor do tempo, convertendo o presente na gloriosa preparação do futuro."

(“Passos da Vida”, Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)

terça-feira, 20 de setembro de 2016

"DÁ DE GRAÇA O QUE DE GRAÇA RECEBESTE"

"Antes de aprendermos a usar nossa mediunidade e de merecermos o título
de médiuns, meditemos sobre o seguinte: Não julguemos que a
mediunidade nos foi concedida para simples passatempo ou para satisfação
de nossos caprichos. Em circunstância alguma, façamos dela o nosso
ganha-pão.
Infeliz do médium que utiliza sua mediunidade visando aos seus interesses
terrenos! Mal-aventurado quem procura trocar por dinheiro os dons de
Deus!
A mediunidade é coisa santa e com ela devemos suavizar os sofrimentos
alheios. É a maneira mais simples de praticarmos a verdadeira caridade: a
caridade espiritual.
Cooperando com os espíritos curadores, concorremos para o alívio
daqueles que sofrem. E como instrumentos dos espíritos educadores,
contribuímos para o adiantamento moral de nossos irmãos. Ao
desenvolvermos nossa mediunidade lembremo-nos de que ela nos é dada
como um arrimo para mais fàcilmente conseguirmos a Perfeição e
para mais suavemente liquidarmos os pesados débitos que contraímos em
existências passadas e para servirmos de guias a irmãos mais atrasados.
Vamos dar de graça o que Deus nos conceder, conforme nos ensinou Jesus.
Nunca troquemos por algumas moedas o que a bondade de nosso Pai que
está nos céus quer distribuir a seus filhos necessitados. Onde há interesse,
por pequenino que seja, não há caridade."

("A Mediunidade sem Lágrimas", Eliseu Rigonatti)

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

"AFIRMAÇÃO ESCLARECEDORA"


"E não quereis vir a mim para terdes vida." - Jesus. (João, 5:40).

"Quantos procuram a sublimação da individualidade precisam
entender o valor supremo da vontade no aprimoramento próprio.
Os templos e as escolas do Cristianismo permanecem repletos de
aprendizes que vislumbram os poderes divinos de Jesus e lhe reconhecem
a magnanimidade, caminhando, porém, ao sabor de vacilações cruéis.
Crêem e descrêem, ajudam e desajudam, organizam e perturbam,
iluminam-se na fé e ensombram-se na desconfiança...
É que esperam a proteção do Senhor para desfrutarem o contentamento imediato no corpo, mas não querem ir até ele para se
apossarem da vida eterna.
Pedem o milagre das mãos do Cristo, mas não lhe aceitam as
diretrizes. Solicitam-lhe a presença consoladora, entretanto, não lhe
acompanham os passos. Pretendem ouvi-lo, à beira do lago sereno,
em preleções de esperança e conforto, todavia, negam-se a partilhar
com ele o serviço da estrada, através do sacrifício pela vitória do bem. Cortejam-no em Jerusalém, adornada de flores, mas fogem aos
testemunhos de entendimento e bondade, à frente da multidão
desvairada e enferma. Suplicam-lhe as bênçãos da ressurreição, no
entanto, odeiam a cruz de espinhos que regenera e santifica.
Podem ir na vanguarda edificante, mas não querem.
Clamam por luz divina, entretanto, receiam abandonar as sombras.
Suspiram pela melhoria das condições em que se agitam, todavia,
detestam a própria renovação.
Vemos, pois, que é fácil comer o pão multiplicado pelo infinito amor
do Mestre Divino ou; regozijar-se alguém com a sua influência
curativa, mas, para alcançar a Vida Abundante de que ele se fez o
embaixador sublime, não basta a faculdade de poder e o ato de crer,
mas também a vontade perseverante de quem aprendeu a trabalhar
e servir, aperfeiçoar e querer."

("Fonte Viva", Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)

domingo, 18 de setembro de 2016

"MELINDRES"

"Não permita que as suscetibilidades lhe conturbem o coração.

Dê aos outros a liberdade de pensar, tanto quanto você
é livre para pensar o que deseja.

Cada pessoa vê os problemas da vida em ângulo diferente.

Uma opinião diversa da sua pode ser de grande auxílio em sua experiência ou negócio, se você se dispuser a estudá-la.

Melindres arrasam as melhores plantações de amizade.

Quem reclama, agrava as dificuldades.

Não cultive ressentimentos.

Melindrar-se é um modo de perder as melhores situações.

Não se aborreça, coopere.

Quem vive de se ferir, acaba na condição de espinheiro."

("Sinal Verde", André Luiz/Francisco Cândido Xavier)

sábado, 17 de setembro de 2016

"ESTA NOITE !..."



“Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?”
Jesus (Lucas, 12:20)

       "Não basta ajuntar valores materiais para a garantia da felicidade.
       A supercultura consegue atualmente na Terra feitos prodigiosos em todos os reinos da Natureza física, desde o controle das forças atômicas às realizações da astronáutica. No entanto, entre os povos mais adiantados do Planeta avançam duas calamidades morais do materialismo corrompendo-lhe as forças: o suicídio e a loucura, ou, mais propriamente, a angústia e a obsessão.
       É que o homem não se aprovisiona de reservas espirituais à custa de máquinas. Para suportar os átrios necessários à evolução e aos conflitos resultantes da luta regenerativa, precisa alimentar-se com recursos da alma e apoiar-se neles.
       Nesse sentido, vale recordar o sensato comentário de Allan Kardec no item 14 do Capítulo V de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, sob a epígrafe “O Suicídio e a Loucura”:
       “A calma e a resignação hauridas da maneira de considerar a vida terrestre e da confiança no futuro dão ao Espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra a loucura e o suicídio. Com efeito, é certo que a maioria dos casos de loucura se deve à comoção produzida pelas vicissitudes que o homem não tem a coragem de suportar. Ora, se encarando as coisas deste mundo da maneira por que o Espiritismo faz que ele as considere, o homem recebe com indiferença, mesmo com alegria, os reveses e as decepções que o houveram desesperado noutras circunstâncias, evidente se torna que essa força o coloca acima dos acontecimentos, lhe preserva de abalos a razão, os quais, se não fora isso, a conturbariam”.
       Espíritas, amigos! Atendamos à caridade que suprime a penúria do corpo, mas não menosprezemos o socorro às necessidades da alma! Divulguemos as luzes da Doutrina Espírita! Auxiliemos o próximo a discernir e pensar."

(“Segue-me!...”, Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

"EM HONRA A KARDEC"

"Na Doutrina Espírita, não se dirá que Allan Kardec foi ultrapassado, de vez que os nossos princípios avançam com o fluxo evolutivo da própria vida e, à maneira da árvore que para mostrar a excelência do fruto não dispensa a raiz, tanto quanto o edifício vulgar para crescer em nova pavimentação não prescinde do alicerce, o Espiritismo não fugirá das diretrizes primeiras, a fim de ampliar-se em construções mais elevadas, com a segurança precisa.
Superam-se técnicas e processos de luta material.
A Revelação Divina, porém, desenvolve-se com a própria alma do homem, porque a Infinita Sabedoria não nos esmaga com sua Grandeza, nem nos enceguece com a sua Luz, esperando que nós mesmos, ao preço de esforço e trabalho, na escola do progresso, nos habilitemos a suportar o conhecimento superior, estendendo-lhe a claridade e realizando-lhe os objetivos.
Em razão disso, foi o próprio Codificador quem definiu em nossa Doutrina um Templo de Postulados que a evolução se incumbiria de honorificar em constante expansão, nela plasmando não apenas o altar da fé renovadora que nos religa ao Cristo de Deus, mas também o acesso ao campo aberto da indagação filosófica e científica, para que não estejamos confinados ao dogmatismo enregelante e destruidor. 
Não edificaremos por nossa vez, no Santuário Espírita, senão aquele desdobramento necessário a todo serviço de luz e fraternidade, que iniciado a benefício das criaturas, a todas elas deve atingir no justo momento em obediência às Leis da Evolução, de que Kardec foi Emérito Defensor.
Cabe-nos Hoje tanto quanto Ontem, Estudar-lhe a Obra Regeneradora e Vitalizante, a fim de que não nos percamos à distância da lógica e da simplicidade que lhe ditaram o ensinamento, e não nos empenharemos no cipoal da inutilidade ou da sombra porquanto, Nele, o Apóstolo do Princípio, encontramos o Roteiro Seguro para a Integração com Jesus, Nosso Mestre e Senhor."
("Doutrina e Vida", Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

"MÉDIUNS INSPIRADOS"

"Médiuns inspirados são aqueles aos quais os espíritos sugerem
pensamentos.
Nas outras mediunidades nós reconhecemos fàcilmente a ação dos espíritos
sobre os médiuns. Porém, com relação aos médiuns inspirados, tal não se
dá; a ação dos espíritos sobre eles é tão oculta, tão sutil que mesmo o
próprio médium não a sente, apenas percebe que está sendo ajudado em
suas idéias.
À pessoa que possui a mediunidade de inspiração, se quiser tirar o máximo
proveito dela, precisa estudar muito. É dever de todo o médium estudar;
mas, para o médium inspirado, o estudo é uma necessidade imperiosa.
Repetimos que é uma necessidade imperiosa, porque os médiuns inspirados
transmitem seus próprios pensamentos que os espíritos avivam, despertam
e ajudam a dar forma. Eis porque se não estudarem ativamente não poderão
servir de instrumentos eficazes aos espíritos que lutam por difundir as luzes
espirituais em nosso planeta.
Foi através de uma magnífica mediunidade inspirada que Allan Kardec
codificou o Espiritismo."
("A Mediunidade sem Lágrimas", Eliseu Rigonatti)

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

"PERSEVERANÇA"

"Jamais desistamos de perseguir os nossos objetivos no bem.
A Natureza é uma prova evidente do que pode a perseverança. Milênios foram gastos para que a Vida na Terra se mostrasse tal qual é hoje.
Quem desiste de caminhar nunca chegará ao ponto que se propõe alcançar.
Muitos desertaram da luta quando estavam prestes a vencê-la.
Perseveremos no cumprimento de nossas obrigações, mesmo que isto nos custe muitas lágrimas.
Não sejamos nós os responsáveis pelo fracasso dos empreendimentos nos quais participamos.
Não esperemos resultados positivos com base na lei do menor esforço, mormente no que se refere à nossa própria renovação.
Ainda que somente seja um passo a cada dia, avancemos para diante.
As diminutas vitórias morais no campo íntimo antecedem as grandes conquistas da alma.
Mesmo que estejamos lavrando em solo considerado ingrato, perseveremos na semeadura que nos compete, convictos de que a boa semente jamais se perderá.
Perseverança significa determinação, e só o espírito determinado consegue transformar o sonho em realidade."

("Lições da Vida", Irmão José/Carlos A. Baccelli)

terça-feira, 13 de setembro de 2016

"PERGUNTAS"

"Observe as próprias indagações, antes de formulá-las, adotando 
o silêncio sempre que não tiverem finalidade justa.
Valiosa demonstração de entendimento e de afeto visitar amigos
ou recebê-los sem perguntas quaisquer.
Ampare quantos lhes compartilham a vida, sem vascolejar-lhes o coração com interrogatórios desnecessários.
Arrede da boca as inquirições sem proveito 
sobre a família do próximo.
Não faça questionários quanto à vida íntima de ninguém.
Entretecer apontamentos sem necessidade, com relação à idade 
física de alguém, não é apenas falta de tato e gentileza, 
mas também ausência de caridade e de educação.
Se você nutre realmente amizade por essa ou aquela pessoa, 
sem qualquer expectativa de tomar-lhe a companhia para 
a convivência mais íntima, aceite-a tal qual é sem pedir-lhe 
certidão do estado civil em que se encontra.
Indiscrição, leviandade, curiosidade vazia ou malícia afastam de quem as cultiva as melhores oportunidades de elevação e progresso.
O amor verdadeiro auxilia sem perguntar.
Respeite as necessidades e provações dos outros, para que 
os outros respeitem as suas provações e necessidades."

("Sinal Verde", André Luiz/Francisco Cândido Xavier)

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

"ESTENDAMOS O BEM"

"Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem." 
- Paulo. (Romanos, 12 :21).


"Repara que, em plena casa da Natureza, todos os elementos, em face
do mal, oferecem o melhor que possuem para o reajustamento da
harmonia e para a vitória do bem.
Quando o temporal parece haver destruído toda a paisagem, congregam-se as forças divinas da vida para a obra do refazimento.
O Sol envia luz sobre o lamaçal, curando as chagas do chão.
O vento acaricia o arvoredo e enxuga-lhe os ramos.
O cântico das aves substitui a voz do trovão.
A planície recebe a enxurrada, sem revoltar-se, e converte-a em adubo precioso.
O ar que suporta o peso das nuvens e o choque da faísca destruidora,
torna à leveza e à suavidade.
A árvore de frondes quebradas ou feridas regenera-se, em silêncio, a
fim de produzir novas flores e novos frutos.
A terra, nossa mãe comum, sofre a chuva de granizos e o banho de
Iodo, periodicamente, mas nem por isso deixa de engrandecer
o bem cada vez mais.
Por que conservaremos, por nossa vez, o fel e o azedume do mal, 
na intimidade do coração?
Aprendamos a receber a visita da adversidade, educando-lhe as
energias para proveito da vida.
A ignorância é apenas uma grande noite que cederá lugar ao sol da sabedoria.
Usa o tesouro de teu amor, em todas as direções,  e estendamos o bem por toda parte.
A fonte, quando tocada de lama, jamais se dá por vencida. 
Acolhe os detritos no próprio seio e, continuando a fluir, transforma-os  em bênçãos, no curso de suas águas que prosseguem correndo,  com brandura e humildade, para benefício de todos."

("Fonte Viva", Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)

domingo, 11 de setembro de 2016

"RECORDAÇÃO DE UMA VIDA ANTERIOR"


 
(Sociedade Espírita, 25 de maio de 1860)


 
           "Um dos nossos assinantes nos envia uma carta de um de seus amigos, da qual extraímos o seguinte:
       Perguntastes a minha opinião, ou antes, se acredito na presença ou não, junto a nós, das almas dos que amamos. Pedis ainda explicações relativas à minha convicção de que nossas almas mudam de envoltório muito rapidamente.

       Por mais ridículo que pareça, direi que minha convicção sincera é a de ter sido assassinado durante os massacres de São Bartolomeu. Eu era muito criança quando tal lembrança veio ferir-me a imaginação. Mais tarde, quando li essa triste página de nossa História, pareceu que muitos detalhes me eram conhecidos, e ainda creio que se a velha Paris fosse reconstruída eu reconheceria essa velha aleia sombria onde, fugindo, senti o frio de três punhaladas dadas pelas costas. Há detalhes desta cena sangrenta em minha memória que jamais desapareceram. Por que tinha eu essa convicção antes de saber o que tinha sido o São Bartolomeu? Por que, lendo o relato desse massacre eu me perguntei: é sonho, esse sonho desagradável que tive em criança, cuja lembrança me ficou tão viva? Por que, quando quis consultar a memória, forçar o pensamento, fiquei como um pobre louco ao qual surge uma ideia e que parece lutar para lhe descobrir a razão? Por que? Nada sei. Certo me achareis ridículo, mas nem por isso guardarei menos a lembrança, a convicção.
       Se eu vos dissesse que tinha sete anos quando tive um sonho e que ele era assim: Eu tinha vinte anos, era um rapaz bem posto e parece que era rico. Vim bater-me em duelo e fui morto. Se eu vos dissesse que a saudação que se faz com a arma antes de se bater, eu a fiz na primeira vez que tive um florete na mão; se eu vos dissesse que cada preliminar mais ou menos graciosa que a educação ou a civilização pôs na arte de se matar me era conhecida antes de minha educação nas armas, certamente diríeis que sou louco ou maníaco. Bem pode ser, mas às vezes me parece que um clarão atravessa essa névoa e tenho a convicção de que a lembrança do passado se restabelece em minha alma.
       Se me perguntásseis se creio na simpatia entre as almas, em seu poder de se porem em contato entre elas, a despeito da distância, apesar da morte, eu vos responderia: Sim, e este sim seria pronunciado com toda a força de minha convicção. Aconteceu de encontrar-me a vinte e cinco léguas de Lima, após vinte e seis dias de viagem, e de despertar em lágrimas, com uma verdadeira dor no coração. Uma tristeza mortal apoderou-se de mim o dia todo. Registrei o fato em meu diário. Àquela hora, na mesma noite, meu irmão tinha sido atingido por um ataque de apoplexia, que comprometeu gravemente a sua vida. Confrontei o dia e a hora. Tudo exato. Eis um fato; as pessoas existem. Direis que eu sou louco?
       Não li qualquer autor tratando de tal assunto. Fá-lo-ei em minha volta. Talvez dessa leitura jorre alguma luz para mim.”

       O. Sr. V..., autor desta carta, é oficial de marinha e atualmente está em viagem. Poderia ser interessante ver se, evocando-o, confirmaria suas lembranças, mas havia a impossibilidade de preveni-lo de nossa intenção e, por outro lado, à vista de seu serviço, poderia ser difícil achar um momento propício. Contudo, disseram-nos que chamássemos o seu anjo da guarda, quando quiséssemos evocá-lo, e ele nos diria se poderíamos fazê-lo.

       1. Evocação do anjo da guarda do Sr. V...
       - Atendo ao vosso chamado.
     
       2. Conheceis o motivo que nos leva a querer evocar o vosso protegido. Não se trata de satisfazer a uma vã curiosidade, mas de constatar, se possível, um fato interessante para a ciência espírita, o da recordação de sua vida anterior.
       - Compreendo o vosso desejo, mas no momento seu Espírito não está livre. Ele está ocupado ativamente pelo corpo e numa inquietude moral que o impede de repousar.
     
       3. Ele ainda está no mar?
       - Está em terra. Mas poderei responder a algumas das vossas perguntas, porque aquela alma foi sempre confiada à minha guarda.
     
       4. Desde que tendes a bondade de responder, perguntaremos se a lembrança que ele julga conservar de sua morte numa existência anterior é uma ilusão.
       - É uma intuição muito real. Essa pessoa estava muito bem na Terra, nessa época.

       5. Por que motivo essa lembrança lhe é mais precisa do que para outros? Há nisso alguma causa fisiológica ou alguma utilidade particular para ele?
       - Essas lembranças vivas são muito raras. Deve-se um pouco ao gênero de morte que de tal modo o impressionou que está, por assim dizer, encarnado em sua alma. Contudo, muitas outras pessoas tiveram morte tão terrível e não lhes ficou a lembrança. Só raramente Deus o permite.

       6. Depois dessa morte no São Bartolomeu, teve ele outras existências?
       - Não.

       7. Que idade tinha quando morreu?
       - Uns trinta anos.

       8. Pode-se saber o que era ele?
       - Ele era ligado à casa de Coligny.
     
       9. Se tivéssemos podido evocá-lo teríamos perguntado se recorda o nome da rua onde foi assassinado, a fim de ver se, indo a esse lugar, quando ele voltar a Paris, a lembrança da cena lhe seria ainda mais precisa.
       - Foi no cruzamento de Bucy.

       10. A casa onde ele foi morto ainda existe?
       - Não. Ela foi reconstruída.

       11. Com o mesmo objetivo teríamos perguntado se ele se recorda do nome que tinha.
       - Seu nome não é conhecido na História, pois era simples soldado. Chamava-se Gaston Vincent

       12. Seu amigo, aqui presente, desejaria saber se ele recebeu suas cartas?
       - Ainda não.

       13. Éreis o seu anjo da guarda nessa época?
       - Sim. Naquela época e agora.

       OBSERVAÇÃO: Céticos, antes mais trocistas do que sérios, poderiam dizer que o anjo da guarda o guardou mal e perguntar por que não desviou a mão que o feriu. Posto tal pergunta mal mereça uma resposta, talvez algumas palavras a respeito não sejam inúteis.
       Para começar diremos que, se morrer pertence à natureza humana, nenhum anjo de guarda tem o poder de opor-se ao curso das leis da Natureza. Do contrário, razão não haveria para que não impedissem a morte natural, tanto quanto a acidental. Em segundo lugar, estando o momento e o gênero de morte no destino de cada um, é preciso que se cumpra o destino. Diremos, por fim, que os Espíritos não encaram a morte como nós. A verdadeira vida é a do Espírito, da qual as várias existências corpóreas não passam de episódios. O corpo é um envoltório que o Espírito reveste momentaneamente e que ele deixa, como se faz com uma roupa usada ou rasgada. Pouco importa, pois, que se morra um pouco mais cedo ou mais tarde, de uma ou de outra maneira, pois que, em definitivo, sempre é preciso chegar à morte, que longe de prejudicar o Espírito, pode ser-lhe muito útil, conforme a maneira por que se realiza. É o prisioneiro que deixa a prisão temporária pela liberdade eterna. Pode ser que o fim trágico de Gaston Vincent lhe tenha sido uma coisa útil, como Espírito, o que o seu anjo da guarda compreendia melhor do que ele, porque um deles só via o presente, ao passo que o outro via o futuro. Espíritos retirados deste mundo por uma morte prematura, na flor da idade, por vezes nos responderam que era um favor de Deus, que assim os havia preservado dos males aos quais, sem isto, estariam expostos."

(Revista Espírita, Junho de 1860)

sábado, 10 de setembro de 2016

"MÉDIUNS INTUITIVOS"

"Médiuns intuitivos são aqueles que captam os pensamentos dos espíritos.
Como os outros médiuns, os intuitivos também servem aos espíritos para
suas comunicações. Prestam-se muito para a direção das sessões espíritas e
para a doutrinação dos espíritos sofredores, porque instantaneamente sabem
quais os pontos a tocar para o esclarecimento deles.
Entretanto, dado a facilidade com que chegam a perceber os pensamentos
dos espíritos, as pessoas dotadas da mediunidade intuitiva precisam ser
calmas e muito ponderadas.
Calmas, para não agirem precipitadamente, ao sabor de qualquer idéia que
lhes aflore ao cérebro. Ponderadas, para analisarem muito bem as intuições
que recebem.
A leitura assídua do Evangelho é o mais seguro meio de análise das
intuições e constitui a melhor defesa contra as intuições malévolas. As
intuições que estiverem em desacordo com as lições evangélicas devem ser
repelidas. E o médium, cultivando o estudo constante do Evangelho, abre
sua faculdade receptiva para as intuições superiores."

("A Mediunidade sem Lágrimas", Eliseu Rigonatti)

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

"DESEJO"



"De fato, nada nos faz sofrer tanto quanto o desejo.
O desejo de ter o que não temos é a causa de quase todas as nossas dores.
Na imagem bíblica, foi o desejo do ilícito que originou o sofrimento humano.
O homem sofre mais pelo que os outros têm do que propriamente pelo que não tem.
Contentemo-nos com o que a vida nos oferece, sem ambicionarmos o que não nos pertence.
Desejo ilimitado, sofrimento desmedido.
Na realidade, aquilo a que renunciamos é o que possuímos.
Tudo o que desejamos excessivamente é apropriação indébita, e esta intromissão no direito alheio é que desencadeia o nosso sofrimento.
O desejo de crescimento e progresso é natural no espírito, mas para ter o que lhe está destinado ninguém precisa usurpar o que aos outros foi reservado.
Feliz daquele que carrega dentro de si tudo o que tem!
Despojemo-nos de nossos desejos para que a ilusão não nos obstrua a visão dos reais valores da Vida.

("Lições da Vida", Irmão José/Carlos A. Baccelli)

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

"RESPONSABILIDADE"









"Deus emprestou-te filhos
Para que os eduques.
Deus confiou-te terras
Para que as cultives.
Deus mandou-te o dinheiro
Para servir ao Bem.
Deus te envia a saúde,
A fim de que trabalhes.
Deus o fez livre, forte
E também responsável.
A vida é luz em todos
Mas o mundo é de Deus."

(“Senda para Deus”, Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

"O DEDO DE DEUS"



(Thionville, 25 de dezembro de 1862 - Médium: Dr. R...)

"Nós vos demos a entrever a aurora da regeneração humana. Deveis nisto, como em toda a marcha da Humanidade através das idades, ver o dedo de Deus.
Dissemos muitas vezes que tudo quanto se passa aqui embaixo, como tudo o que acontece no Universo inteiro, está submetido a uma lei geral, a do progresso.
Inclinai-vos ante ela, soberbos e orgulhosos que pretendeis colocar-vos acima dos desígnios do Altíssimo! Buscai por toda parte a causa de vossas desgraças, como de vossos deleites, e aí reconhecereis sempre o dedo de Deus.
Mas, direis vós, então o dedo de Deus é o fatalismo! Ah! Guardai-vos de confundir essa palavra ímpia com as leis que a Providência vos impôs, a Providência que vos deve ter deixado o livre-arbítrio para vos deixar, ao mesmo tempo, o mérito de vossos atos, mas que lhes tempera o rigor por essa voz, tantas vezes ignorada, que vos adverte do perigo a que vos expondes.
O fatalismo é a negação do dever, porque, sendo nossa sorte fixada previamente, não nos cabe mudá-la.
Em que se tornaria o mundo com esta horrível teoria, que abandonaria os homens às pérfidas sugestões das piores paixões? Onde estaria o objetivo da criação? Onde estaria a razão de ser da ordem admirável que reina no Universo?
Ao contrário, o dedo de Deus é a punição sempre suspensa sobre a cabeça do culpado; é o remorso que lhe rói o coração, censurando-lhe os crimes a cada momento; é o horrível pesadelo que tortura durante longas noites sem sono; é essa impressão sangrenta que o segue em todos os lugares, como para reproduzir aos seus olhos, incessantemente, a imagem de seus desacertos; é a febre que atormenta o egoísta; são as angústias perpétuas do mau rico, que vê em todos os que se lhe aproximam espoliadores dispostos a lhe roubar um bem mal adquirido; é a dor que ele experimenta em sua última hora por não poder levar seus tesouros inúteis!
O dedo de Deus é a paz do coração, reservada ao homem justo; é o suave perfume que vos enche a alma após uma boa ação; é esse doce prazer que se experimenta sempre ao fazer o bem; é a bênção do pobre que se assiste; é o doce olhar de uma criança cujas lágrimas enxugamos; é a prece fervorosa da pobre mãe a quem se proporcionou o trabalho que deve arrancá-la da miséria; numa palavra, é o contentamento consigo mesmo.
O dedo de Deus, enfim, é a justiça grave e austera, temperada pela misericórdia! O dedo de Deus é a esperança, que não abandona o homem em seus mais cruéis sofrimentos; que o consola sempre, e que deixa entrever ao mais criminoso, a quem o arrependimento tocou, um recanto da morada celeste, do qual se julgava expulso para sempre!"
Espírito Familiar

("Revista Espírita", Setembro de 1863)