terça-feira, 30 de setembro de 2014

"CORRESPONDÊNCIA"


  
"Cultive brevidade e precisão, em seu noticiário, sem cair na secura.
Uma carta é um retrato espiritual de quem a escreve.
Cuidaremos de escrita bem traçada, porquanto não nos será lícito transformar os amigos em decifradores de hieróglifos.
Não escrever cartas em momentos de crise ou de excitação.
Sempre que possível, as nossas notícias devem ser mensageiras de paz e otimismo, esperança e alegria.
Escreva construindo.
Uma carta que saia de seu punho é você conversando.
Qualquer assunto pode ser tratado com altura e benevolência.
Quando você não possa grafar boas referências, em relação à determinada pessoa, vale mais silenciar quanto a ela.
Somos responsáveis pelas imagens que criamos na mente dos outros, não apenas através do que falarmos, mas igualmente através de tudo aquilo que escrevermos."
 

("Sinal Verde", AndréLuiz/ Francisco Cândido Xavier)

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

"AFETOS RELEMBRADOS"

"Alma querida, escuta:
Depois de compromissos assumidos, 
De coração atônito, avistaste
Formosas afeições de tempos idos...

Não sabes definir o sentimento
Que te parece fome, em que lutas e esperas,
Ansiando reaver cuidados incessantes,
Contatos e alegrias de outras eras.

Eis que a reencarnação, vedando-te as lembranças,
Não te deixa extrair da névoa transitória
Nomes e posições, impulsos e ocorrências
Que a vida te guardou no escrínio da memória...

Mas a lei da atração te fala sem barulho,
Na força do reencontro inesperado,
Sobre a nova expressão em que se te apresentam
As ligações que volvem do passado.

Alma presa ao dever em que te ajustas,
Bastas vezes te vês em pranto ardente; 
Queres reter, de novo, os laços prediletos 
De que vives ausente.

Entretanto, alma boa, louva sempre
A prova que te envolve o próprio “eu”... 
Firam-te estranhas dores, permanece 
No trabalho que o Céu te concedeu.

Ama, abençoa, ampara, esclarece, aprimora...
Essas almas queridas
São flores que plantaste noutro tempo.
Entre sombras e luzes de outras vidas.

Não lhes negues carinho e reconforto,
Mas não te faças coração em chama,
Ensina-lhes o amor em sacrifício
Com que o Cristo nos ama.

Cumpre as obrigações em que Deus te resguarda,
Sem de leve rompê-las...
E, um dia, encontrarás o amor de teus sonhos mais altos,
No País das Estrelas."
 
 

 ("A Vida Conta", Maria Dolores/Francisco Cândido Xavier)
 

domingo, 28 de setembro de 2014

"ASCENSÃO"



"Perguntai à flor vivente,
De pétalas multicores,
Que com mágicos olores
Perfumam vosso ambiente,

O que fazem cá no mundo,
Tão viçosas, perfumadas,
Pelas sendas desoladas
Deste abismo tão profundo.

Como sorrisos dos Céus,
Essas flores perfumosas
Responderiam formosas:
– “Nós marchamos para Deus!”

A ave que poetiza
Com seus cânticos maviosos
Vossos campos dadivosos
Em beleza que harmoniza,

Se perguntásseis também,
Ela vos retrucaria:
- “Caminhamos na alegria,
Para a Luz e para o Bem.”

Tudo pois, em ascensão,
Marcha ao progresso incessante,
A alvorada rutilante
Da sublime perfeição.

Segui pois, irmãos terrenos,
Nessas trilhas luminosas,
Caminhai sempre serenos,
Entre lírios, entre rosas;

Entre os lírios da Bondade,
Entre as rosas da Ternura,
Espargindo a caridade,
Consolando a desventura.

Só assim caminharemos
Nessa eterna evolução,
E no Bem conquistaremos
A suprema perfeição."


( "Parnaso de Além Túmulo", Casimiro Cunha/Francisco Cândido Xavier)

sábado, 27 de setembro de 2014

"IMAGENS"

"Não é somente o homem que escreve, a pessoa capaz de trazer monstruosas criações ao pensamento do povo, assim como não apenas o tribuno pode formar na mente alheia estados alarmantes de ansiedade e loucura.
*
       Quantas vezes, nas tarefas cotidianas, traçamos nos outros destrutivas impressões de revolta e indiferença, com os nossos gestos impensados?
       Quantas vezes nossa cólera terá gerado naqueles que nos cercam, o desânimo e a frustração?
       Em quantos pequeninos lances da luta diária, damos passo à calúnia e à maledicência, pasmando ideias que, hoje vagas e imprecisas, podem ser amanhã, decisivos fatores de perturbação e delinquência?
       Longe de ponderar as responsabilidades que nos enriquecem o espírito, frequentemente descemos a questiúnculas e bagatelas infelizes, sugerindo a maldade e disseminando a aflição, agravando, assim, nossos débitos, consolidando as forças da ignorância e da crueldade, em desfavor de nós mesmos.
*
       No altar de nossa fé e no campo da caridade que o Senhor nos deu para lavrar, recorda que responderemos pelas imagens que os nossos pensamentos, palavras e atos estabelecem na alma dos outros, tanto os arquitetos se incumbem das construções que lhes obedecem aos planos.
       E acordando para a luz que nos cabe acender na viagem da vida, não te esqueças da claridade de paz e bom ânimo, confiança e alegria que nos compete estender, na proteção aos que nos cercam, a fim de que possamos avançar livremente ao encontro da harmonia e do progresso, porque todas as nossas criações de pessimismos e indisciplina, desalento e amargura, em seus golpes de retorno, significarão para nós mesmos, penúria e dificuldade, infortúnio e provação."


(“Mãos marcadas”, Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

"O BICO DE GÁS"

"Naquela noite Vitalino Caixeta discutira muito. Acaloradamente.

Opondo-se aos argumentos de dois amigos, combatia a fé. Acreditava somente no que visse. Estudara profundamente a anatomia e precisava apalpar para crer. Necessitava sentir, ouvir, cheirar, analisar...

Por isso mesmo, estava contrariado ao recolher-se.

A esposa demorou-se ainda um tanto em luta pela ordem no apartamento estreito.

Acomodava os filhinhos, atendia aos misteres da casa.

Mas, mesmo depois que Da. Constância passou a ressonar, Vitalino prosseguia em solilóquio mental.

Não mudaria. Era homem prático. Só renderia à evidência dos fatos. Queria fatos. Mais fatos. Mais fatos para compreender os fatos.

Algo cansado, acabou dormindo.

Dormiu e sonhou que se achava diante de Rosalino, seu velho irmão desencarnado havia muitos anos...


II 
Rosalino dizia convincente:

- “Meu caro, ouvimos-lhe as considerações silenciosas.”

Realmente, as provas de sobrevivência, muitas vezes, são difíceis. Mas, essa circunstância, só por só, não lhe autoriza negá-la.

Veja bem.

Existe a fé automática, inconsciente, sem comprovação. É a aceitação dos acontecimentos naturais, sem a ajuda dos sentidos.

Em quanta coisa você confia inteiramente sem proceder a qualquer exame!

Você não examina a competência do motorista, mas viaja no veículo despreocupadamente...

Você não testa a resistência do leito, cada noite, mas deita e dorme tranqüilo...

Você não vê os ingredientes que lhe compõem a refeição, mas como sem medo...

Você não experimente a segurança da casa bancária, mas confia-lhe os bens sem titubear...

Por outro lado, inúmeras ocorrências perspassam-lhe na vida sem merecer-lhe estudo mais acurado.

Você não apalpa o ar, mas respira o oxigênio sem susto...

Você não vê o vírus, mas sofre a gripe...

Você não escuta muitas das ondas sonoras que se entrecruzam à sua volta, mas ouve satisfeito os programas radiofônicos...

Você não mediu o Universo, metro a metro, mas reconhece o infinito da Criação...

Você não morreu ainda, mas aceita a fatalidade do fenômeno da morte...

Igualmente, meu amigo, você diz que não vê e não pega o Mundo Espiritual, mas.....ele....existe...

Acorde para a verdade!

Acorde e viva!

Acorde e viva!


III 
Como se impulsionado por estranha força, Vitalino despertou no corpo físico.

O ambiente pesava. Fazia-se o ar irrespirável. Algo sucedera de estranho...

Levantou-se estremunhado. Procurou o berço das duas crianças. Ambas desacordadas.

Aflito, abre maquinalmente a janela próxima e faz luz.

Somente aí descobre que a esposa, distraída, deixara aberta a torneira do gás.

A família salvara-se a tempo.

E, passado o perigo, tomou papel e lápis, escreveu todas as considerações que ouvira em sonho, e começou a meditar..."


("A Vida Escreve", Hilário Silva/ Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira)





quinta-feira, 25 de setembro de 2014

"PERDÃO RADICAL"

"As sublimes lições não paravam de iluminar as consciências dos discípulos interessados no conhecimento da Verdade.

Cada momento em companhia do Mestre amado revestia-se de um aprendizado inolvidável.

Jamais houvera alguém que pudesse, como Ele o fazia, cantar a beleza da sabedoria com a linguagem singela de um lírio alvinitente em pleno chavascal.

As Suas palavras eram como pérolas reluzentes que formavam colares luminosos na consciência dos ouvintes.

Ele nunca se repetia. Com as mesmas palavras entretecia variações incomuns em torno dos temas do cotidiano, oferecendo soluções simples, às vezes, profundas, com a mesma naturalidade com que se referia ao Pai, o Seu Abba.

Ressoavam nos refolhos das almas o canto incomparável do Sermão da Montanha, que se lhes tornara o novo norte para o avanço no rumo da augusta plenitude.

Cada bem-aventurança era portadora de um novo conteúdo, como sendo a diretriz soberana do amor em relação ao futuro da Humanidade.

Ninguém ficava à margem, nenhum sentimento era esquecido e a fonte de inexaurível sabedoria continuava a fluir a água lustral dos ensinamentos imortais.

Ele parecia ter pressa de preparar os amigos, embora não fosse apressado.

Eram tantas as necessidades humanas que não era possível desperdiçar o tempo em cogitações da banalidade e emprego das horas em pequenezes habituais do comportamento.

Mais de uma vez Ele falara sobre a emoção do amor e a bênção do perdão, sendo porém enfático em todas elas.

O perdão é sempre melhor para aquele que o concede.

Para que não ficasse esquecido entre as preocupações que assaltavam os amigos, na sua labuta diária, Ele voltava ao tema com novas composições.

Já lhes dissera que se fazia indispensável perdoar setenta vezes sete vezes, o que significava perdoar incessante, ininterruptamente...

Naquela oportunidade ímpar, complementou o ensinamento, referindo-se à conduta pessoal de cada criatura:

Portanto, se estiveres apresentando a tua oferta no altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai conciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem apresentar a tua oferta...

... Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao guarda e sejas lançado na prisão.

Em verdade, vos digo que de maneira nenhuma saireis dali enquanto não pagardes o último ceitil. (*)

Tratava-se da aplicação da misericórdia nos relacionamentos, de modo a manter-se a consciência de paz.

Nesse sentido, a compaixão em relação aos erros alheios assumia papel de preponderância, mas os amigos aturdidos compreendiam que lhes era muito difícil a mudança de conduta, habituados ao desforço em relação àqueles que os prejudicavam.

Assim pensando, após a exposição do Senhor, Tiago perguntou-Lhe, recordando-se da severidade da Lei Antiga:

Como é possível, Mestre, permitir-se que o agressor fique impune, após a prática do seu ato perverso?

O Iluminado olhou-o com imensa ternura, por saber que ele era cumpridor dos deveres, severo em relação a si mesmo, portanto, exigente no que diz respeito ao comportamento dos outros e compreendeu-lhe a inquietação.

Após um breve silêncio, ante o zimbório celeste, recamado de estrelas que lucilavam ao longe, respondeu benigno:

As águas do rio limpam as margens e o leito por onde correm, transformando e decompondo o lixo e a imundície em rico adubo mais adiante, levados pela correnteza.

Assim também o amor de misericórdia transforma a agressão em bênção para a vítima, auxiliando o inimigo a purificar-se, ao largo do percurso evolutivo.

Quando se perdoa, isto não implica anuência com o erro, com o crime, com o descalabro do outro. Não se trata de desconhecer a atitude infeliz, mas objetiva não retaliar o outro, não aguardar oportunidade para nele desforçar-se.

Não devolver o mal que se sofre é o início do ato de perdoar. Compreender, porém, que o outro, o agressor, é infeliz, que ele se compraz em malsinar porque é atormentado, constitui a melhor reflexão para o perdão radical, o perdão sem reservas.

Ninguém tem o direito de oferecer ao Pai suas orações e dádivas de devotamento, se tem fechado o coração para o seu próximo, aquele que, na sua desdita, derrama fel sobre os outros e cobre a senda que percorrerá no futuro com os espinhos da própria insanidade.

Ter adversário é fenômeno normal na trajetória de todas as criaturas, no entanto, deve-se evitar ser-lhe também inamistoso, igualando-se em fraqueza moral e desdita interior. Quem assim se comporta também sofrerá julgamento da autoridade, a quem seja apresentada queixa, e essa poderá exigir-lhe o ressarcimento do mal até o último e mínimo ultraje.

É o que ocorre com qualquer ofensor ou ofendido magoado. É obrigado a refazer o caminho sob a jurisdição divina, até quitar-se de todas as mazelas e débitos morais.

O interrogante, no entanto, insistiu:

Como então fica a justiça diante daquele que lhe desrespeita os códigos austeros?

O Amigo compassivo compreendeu a inquietação do companheiro e elucidou:

A questão da justiça não pertence ao ofendido, mas aos legisladores que aplicarão a penalidade corretora que se enquadre nos códigos legais. E quando isso não ocorre, a sabedoria divina impõe-se ao calceta, que carrega na consciência o delito, fazendo-o ressarcir os danos com a sua cooperação ou sofrendo os efeitos do mal que praticou, imputando-se sofrimentos reparadores. Ninguém consegue fugir à consciência indefinidamente, porque sempre há um despertar para a realidade transcendental.

Mas, Mestre, nesse caso, todos os crimes de qualquer porte devem ser perdoados e esquecidos? - Instou, inquieto,

Serenamente, Jesus retorquiu:

Não há crime imperdoável. Há, sim, mágoas exageradas. Quem não tem condutas reprocháveis ao longo da existência, por mais austero seja em relação a si mesmo, observando os Códigos da justiça e da religião? Quantas vezes, em momentos de infelicidade e de ira, pessoas boas e generosas, devotadas ao Pai e ao dever, rebelam-se e agem incorretamente? Será justo desconhecer-lhes toda uma trajetória de dignidade por um momento de alucinação, de torpor mental pela ira asselvajada que lhe tomou a consciência?

É necessário, portanto, perdoar-se todas as formas de agressão, entregando-as ao amor do Pai Incomparável, a tomar nas mãos a lei e a justiça, aplicando-as conforme o desconforto de que se é objeto.

Assim fazendo, torna-se digno de também ser perdoado.

Esse é o sublime comportamento do amor, em forma de benignidade para com o próximo, o irmão da retaguarda evolutiva.

Depois do silêncio que se abateu natural, no círculo de amigos, Ele adiu gentilmente:

Convém recordar-se, igualmente, que todos necessitam do perdão para as suas ações infelizes, desse modo, devendo perdoar-se, purificar a mente, permitir-se o direito de errar, compreendendo a sua humanidade e fraqueza, mas não permanecendo no deslize moral nem se comprazendo em ficar na situação a que foi arrojado.

O autoperdão é conquista do amor que se renova e compreende que se está em processo de renovação e de autoiluminação.

Assim, portanto, rogando-se ao Pai perdão pelos próprios delitos, amplia-se o pensamento e alcança-se o agressor digno de ser perdoado também.

A noite prosseguia rica de suaves perfumes e incrustada dos diamantes estelares, registrou a lição imorredoura do perdão a todas as ofensas."
 
 

 (Amélia Rodrigues - Psicografia de Divaldo Pereira Franco, no lar de Armandine e Dominique Chéron, na manhã de 5 de junho de 2014, em Vitry-sur-Seine, França.)

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

"ADVERTÊNCIA"

"Em nossas atividades da noite de 17 de junho de 1954, antes do socorro habitual aos irmãos conturbados e sofredores, havíamos efetuado breve leitura acerca da mediunidade e do amor cristão, preparando ambiente adequado às nossas tarefas. E, ao término da reunião, fomos agradavelmente surpreendidos com a visita de um novo amigo que não conhecíamos pessoalmente, em nossas lides de intercâmbio — Argeu Pinto dos Santos —, logo identificado por um de nossos companheiros que lhe foi filho na experiência física. Espírita convicto, Argeu militou na mediunidade, em Cachoeiro de Itapemirim, Estado do Espírito Santo, trazendo-nos na presente mensagem o resultado de seus próprios estudos."


"Meus amigos, vossa leitura desta noite abordou, com oportunos ensinamentos, a mediunidade e o amor fraterno. Dois temas vivos que se conjugam, encarecendo a excelência do serviço que repousa em nossas mãos.

É importante lembrar que o Espiritismo é o Evangelho redivivo e puro, atuando, de novo, entre os homens, a fim de que não sejamos inclinados ao vampirismo, admiravelmente rotulado de preciosidade doutrinal.

De nossa parte, usufruimos também o privilégio de partilhar a tarefa espírita, no setor mediúnico, em passado próximo.

E, agora, cremo-nos habilitados a declarar que espiritista algum, enquanto na carne, consegue avaliar em toda a sua extensão o tesouro de bênçãos que lhe enriquece a alma, porque semelhantes bênçãos exprimem o trabalho e a responsabilidade com que devemos assimilar a nossa Doutrina, venerável escultora do caráter cristão em nossa própria vida.

O nosso Ênio dará testemunho das notícias que vos trazemos.

Depois do regresso à Pátria Espiritual, reconhecemos que a mediunidade não basta só por si. Espíritos que se graduam na esfera do sentimento, nos mais diversos tons evolutivos, acompanham de perto a marcha humana e é preciso evitar a companhia daqueles irmãos que, embora exonerados do corpo denso, jazem ainda profundamente vinculados às sensações inferiores do campo físico, a fim de que não venhamos a transformar o nosso movimento de elevação moral em descida às zonas escuras de subnivel.

É fácil observar que muitos companheiros começam abraçando a fé e acabam esposando preocupações subalternas.

Muitos iniciam o apostolado, assinalando a grandeza dos compromissos que assumem, entretanto, por vezes, olvidam, apressados, que Espiritismo é ascensão com Jesus ao calvário de nosso acrisolamento para a Luz Divina e confiam-se a entidades que ainda sofrem o fascínio do comércio malsão, metamorfoseando-Se em caçadores do êxito mundano, no qual tantos nos barateiam o estandarte de princípios sagrados, convertendo-o na bandeira cinzenta do desânimo para todos os que nos batem à porta, suspirando por socorro espiritual e terminando, desapontados, diante do nosso exemplo desencorajador.

A mediunidade, para triunfar, precisa reconhecer que o amor fraterno é a chama capaz de purificá-la.

Compete-nos hipotecar nossas forças à obra de redenção das nossas atividades, porqüanto não é justo oferecer pão ao faminto e agasalho aos nus, relegando-lhes o espírito à sombra da ignorância.

É louvável dar o que temos nas mãos; contudo, é mais importante dar nossas mãos para que o ajudado aprenda a ajudar-se.

Consideramos indispensável uma campanha de boa-vontade, suscetível de alijar da nossa luta benemérita tudo aquilo que represente acomodação com o menor esforço, para que o nosso ideal traduza lição de Nosso Senhor Jesus-Cristo em nossas atitudes de cada hora.

Para isso, porém, é inadiável o esforço ingente de nossa própria regeneração, de modo a não perdermos tanta esperança na música das palavras vazias.

Devemos estabelecer a competência mediúnica em base de solidariedade humana, a expressar-se em serviço aos semelhantes, entendendo, no entanto, que ninguém pode servir, ignorando como servir.

Disso decorre o impositivo de luz em nosso cérebro e em nosso coração, para que o serviço espiritista Seja realização do Divino Mestre conosco e por nós.

Arejemos, pois, o mundo íntimo no santuário da educação, para que a mediunidade e o amor não se escravizem à sombra, e roguemos ao Pai Celestial nos conceda a precisa coragem de viver o Evangelho de Jesus, hoje e sempre."



("Instruções Psicofónicas", Argeu Pinto dos Santos/Francisco Cândido Xavier)

terça-feira, 23 de setembro de 2014

"PROVAS IRREVELADAS"

 
       "Do ponto de vista moral, há bastante infortúnio escondido em toda parte.
       Nos ambientes mais diversos, nos momentos em que menos se espera, com as pessoas fisionomicamente mais seguras de si, a aflição desponta inesperada e o pranto pode estar surgindo às ocultas.
       Desilusão, moléstia, revolta e desalento em muitos casos não afluem à face das circunstâncias exteriores.
       Familiar decepcionado com o noticiário desairoso que vem a saber com respeito ao parente querido.
       Jovem agoniada na frustração de projetos matrimoniais.
       Pai fustigado pela doença incurável de um filho.
       Mãe ansiosa pela reconciliação impraticável com o pai de sua prole.
       Cavalheiro bem posto, mas absolutamente inconformado com a deficiência física de que se sabe portador, sem que os outros percebam.
       Viúva atormentada pela falta de garantias no lar.
       Cônjuge que não mais confia na companheira de vinte anos.
       Homem ferido pela consciência na fase de transição entre um passado recente de erros e um futuro de maiores acertos.
       Chefe enfermo de família numerosa, repentinamente desempregado.
       Criatura robusta e aparentemente normal, envolvida em tramas de obsessão.
       Aprendamos com a Doutrina Espírita que o pretérito se reflete no presente e que a lei de causa e efeito funciona em qualquer paisagem social, em qualquer pessoa, em todos os bastidores profissionais e todos os dias.
       Ponderemos nisso, a fim de não faltarmos com o apoio devido à harmonia que nos cabe manter nos domínios da vida.
       Se alguém lhe respondeu asperamente, se um amigo aparece incompreensivo, se aquele companheiro passou de súbito a dedicar-lhe antipatia gratuita, se aquele outro lhe abalroa as edificações espirituais, e se muitos não lhe correspondem, de leve, às esperanças, suponha semelhantes irmãos presos mentalmente a problemas irrevelados de angústia e coloque-se na posição deles, com as provas e desvantagens que experimentam, e decerto você se compadecerá de cada um, dispondo-se a auxiliá-los.
       Nem sempre a voz corrente fala tudo o que vai nas almas.
       Repitamos para nós que a verdadeira caridade se resume na compreensão para além das aparências dos espíritos com os quais se convive, perdoando e ajudando silenciosa e desinteressadamente, de nossa parte, onde estejamos, como se faça necessário e tanto quanto seja possível."



(André  Luiz, na obra “Estude e viva”, Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, pelos Espíritos  Emmanuel e André Luiz)

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

"GRATIDÃO"

"Agradeço, alma irmã, por tudo o que me deste,
O auxílio fraternal, generoso e sem preço —
O teto, o lume, o prato, o reconforto, a veste —
Tudo isso agradeço...

Sobretudo, alma boa,
Deus te compense o coração amigo,
Por teu olhar de paz que me alenta e abençoa
Na estrada em que prossigo.

Viste-me em solidão, —
Esperança caída sem ninguém...
Deste-me apoio com teu braço irmão
E ergui-me de alma nova para o bem!...

Não há palavra com que te defina
O reconhecimento que me invade,
Ao sentir-te no amparo a presença divina
Da Celeste Bondade.

Deus te guarde no excelso resplendor
Da luz com que me aqueces todo o ser,
Porque me refizeste a certeza do amor,
A bênção de servir e a força de viver."


(“ANTOLOGIA DA ESPIRITUALIDADE”, Maria Dolores/Francisco Cândido Xavier)

domingo, 21 de setembro de 2014

"ATRAVÉS"



"Através de ti mesmo
A Lei de Deus se exprime.
Por teus gestos e ações, 
A vida te responde.
A própria Natureza
É o grande exemplo disso.
O fruto que consomes
Surge através da planta.
Pela benção da flor
O perfume aparece.
Recorda: o que tivermos
Chega através de nós."
("Momentos de Paz", 
Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)

sábado, 20 de setembro de 2014

"A SERPENTE E O SÁBIO"



"Contam as tradições populares da Índia que existia uma serpente venenosa em certo campo. Ninguém se aventurava a passar por lá, receando-lhe o assalto. Mas um santo homem, a serviço de Deus, buscou a região, mais confiado no Senhor que em si mesmo. A serpente o atacou, desrespeitosa. Ele dominou-a, porém, com o olhar sereno, e falou:- Minha irmã, é da lei que não façamos mal a ninguém.
A víbora recolheu-se, envergonhada. Continuou o sábio o seu caminho e a serpente modificou-se completamente. Procurou os lugares habitados pelo homem, como desejosa de reparar os antigos crimes. Mostrou-se integralmente pacífica, mas, desde então, começaram a abusar dela. Quando lhe identificaram a submissão absoluta, homens, mulheres e crianças davam-lhe pedradas. A infeliz recolheu-se à toca, desalentada. Vivia aflita, medrosa, desanimada. Eis, porém, que o santo voltou pelo mesmo caminho e deliberou visitá-la. Espantou-se, observando tamanha ruína. A serpente contou-lhe, então, a história amargurada. Desejava ser boa, afável e carinhosa, mas as criaturas peseguiam-na. O sábio pensou, pensou e respondeu após ouví-la:
- Mas, minha irmã, houve um engano de tua parte. Aconselhei-te a não morderes ninguém, a não praticares o assassínio e a perseguição, mas não te disse que evitasses de assustar os maus. Não ataques as criaturas de Deus, nossas irmãs no mesmo caminho da vida, mas defende a tua cooperação na obra do Senhor. Não mordas, nem firas, mas é preciso manter o perverso à distância, mostrando-lhe os teus dentes e emitindo os teus silvos."
("Os Mensageiros", André Luiz/ Francisco Cândido Xavier)

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

"MODO DE SENTIR"

"Renovai-vos pelo espírito no vosso modo de sentir". - Paulo (Efésios, 4:23).

"Há muitos séculos o homem raciocina, obediente a regras quase inalteradas, comparando fatores externos segundo velhos processos de observação; 
rege a vida física com grandes mudanças no setor das operações orgânicas fundamentais e maneja a palavra como quem usa os elementos indispensáveis  a determinada construção de pedra terra e cal.
Nos círculos da natureza externa, em si, as modificações em qualquer
aspecto são mínimas, exceção feita ao progresso avançado nas
técnicas da ciência e da indústria.
No sentimento, porém, as alterações são profundas.
Nos povos realmente educados, ninguém se compraz com a escravidão 
dos semelhantes, ninguém joga impunemente com a vida do próximo,
e ninguém aplaude a crueldade sistemática e deliberada, quanto antigamente.
Através do coração, o ideal de humanidade vem sublimando a mente
em todos os climas do Planeta.
O lar e a escola, o templo e o hospital, as instituições de previdência e beneficência são filhos da sensibilidade e não do cálculo.
Um trabalhador poderá demonstrar altas características de inteligência e habilidade, mas, se não possui devoção para com o serviço, será sempre um aparelho consciente de repetição, tanto quanto  o estômago é máquina de digerir, há milênios.
Só pela renovação íntima, progride a alma no rumo da vida aperfeiçoada.
Antes do Cristo, milhares de homens e mulheres morreram na cruz,
entretanto, o madeiro do Mestre converteu-se em luz inextinguível
pela qualidade de sentimento com que o crucificado se entregou ao
sacrifício, influenciando a maneira de sentir das nações e dos séculos.
Crescer em bondade e entendimento é estender a visão e santificar
os objetivos na experiência comum.
Jesus veio até nós a fim de ensinar-nos, acima de tudo, 
que o Amor é o caminho para a Vida Abundante.
Vives sitiado pela dor, pela aflição, pela sombra ou pela enfermidade?
Renova o teu modo de sentir, pelos padrões do Evangelho, e enxergarás 
o Propósito Divino da Vida, atuando em todos os lugares,
com justiça e misericórdia, sabedoria e entendimento."
("Fonte Viva", Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

"A DIFERENÇA"


"A reunião alcançava a parte final. E, na organização mediúnica, Bezerra de Menezes retinha a palavra.
O benfeitor desencarnado distribuía consolações, quando um companheiro o alvejou com azedume:
— Bezerra, não concordo com tanta máscara no ambiente espírita. Estou cansado de tartufismo. Falo contra mim mesmo. Posso, acaso, dizer que sou espírita-cristão? Vejo-me fustigado por egoísmo e intolerância, avareza e ciúme; cometo desatenções e disparates;
reconheço-me freqüentemente caído em maledicência e cobiça; ainda não venci a desconfiança, nem a propensão para ressentir-me; quando menos espero, chafurdo-me nos erros da vaidade e do orgulho; involuntariamente, articulo ofensas contra o próximo; a
ambição mora comigo e, por isso, agrido os meus semelhantes com toda a força de minha brutalidade; a crítica, o despeito, a maldade e a imperfeição me seguem constantemente.
Posso declarar-me espírita com tantos defeitos?
O venerável orientador espiritual respondeu, sereno:
— Eu também, meu amigo, ainda estou em meio de todas essas mazelas e sou espíritacristão...
— Como assim? — revidou o consulente agitado.
— Perfeitamente — concluiu Bezerra, sem alterar-se. — Todas essas qualidades negativas ainda me acompanham... Só existe, porém, um ponto, meu caro, que não posso esquecer. É que, antes de ser espírita-cristão, eu fazia força para correr atrás de todas elas e agora, que sou cristão e espírita, faço força para fugir delas todas...
E, sorrindo:
— Como vê, há muita diferença."
(Irmão X, "Momentos de Ouro", Autores Diversos/Francisco Cândido Xavier)

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

"AVANCEMOS"

"Irmãos, quanto a mim, não julgo que haja alcançado a perfeição,
mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás
ficam, avanço para as que se encontram diante de mim"
- Paulo. (Filipenses, 3:13 e 14).


"Na estrada cristã, somos defrontados sempre por grande número de
irmãos que se aquietaram à sombra da improdutividade, declarando-se
acidentados por desastres espirituais.
É alguém que chora a perda de um parente querido, chamado à
transformação do túmulo.
É o trabalhador que se viu dilacerado pela incompreensão de um amigo.
É o missionário que se imobilizou à face da calúnia.
É alguém que lastima a deserção de um consócio da boa luta.
É o operário do bem que clama indefinidamente contra a fuga da
companheira que lhe não percebeu a dedicação afetiva.
É o idealista que espera uma fortuna material para dar início às
realizações que lhe competem.
É o cooperador que permanece na expectativa do emprego ricamente
remunerado para consagrar-se às boas obras.
É a mulher que se enrola no cipoal da queixa contra os familiares
incompreensivos.
É o colaborador que se escandaliza com os defeitos do próximo,
congelando as possibilidades de servir.
É alguém que deplora um erro cometido, menosprezando as bênçãos
do tempo em remorso destrutivo.
O passado, porém, se guarda as virtudes da experiência, nem sempre
é o melhor condutor da vida para o futuro.
É imprescindível exumar o coração de todos os envoltórios
entorpecentes que, por vezes, nos amortalham a alma.
A contrição, a saudade, a esperança e o escrúpulo são sagrados, mas não devem representar impedimento ao acesso de nosso espírito à Esfera Superior.
Paulo de Tarso, que conhecera terríveis aspectos do combate humano, na intimidade do próprio coração, e que subiu às culminâncias do apostolado com o Cristo, nos oferece roteiro seguro ao aprimoramento.
"Esqueçamos todas as expressões inferiores do dia de ontem e
avancemos para os dias iluminados que nos esperam" - eis a essência
de seu aviso fraternal à comunidade de Filipos.
Centralizemos nossas energias em Jesus e caminhemos para diante.
Ninguém progride sem renovar-se."
("Fonte Viva", Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)

terça-feira, 16 de setembro de 2014

"Grupo curador de Marmande. Intervenção dos próximos nas curas"

(Revista Espírita, junho de 1867)


“Marmande, 12 de maio de 1867.

 “Caro senhor Kardec,

“Há algum tempo vos entretive com o resultado de nossos trabalhos espíritas que continuamos com perseverança, e sinto-me feliz em dizê-lo, com sucessos satisfatórios. Os obsedados e os doentes são sempre objeto de nossos cuidados exclusivos. A moralização e os fluidos são os principais meios indicados por nossos guias.
“Nossos bons Espíritos, que se votaram à propagação do Espiritismo, tomaram também a tarefa de vulgarizar o magnetismo. Em quase todas as consultas, para os diversos casos de moléstias, eles pedem o concurso dos parentes: um pai, uma mãe, um irmão ou uma irmã, um vizinho, um amigo, são chamados para dar passes. Essas bravas criaturas ficam surpresas de parar crises, acalmar dores. Parece-me que este meio é engenhoso e seguro para fazer adeptos; assim a confiança se estende cada vez mais em nossa região.
Os grupos que se ocupam de curas talvez fizessem bem em dar os mesmos conselhos; os felizes resultados obtidos provariam de maneira evidente a verdade do magnetismo, e dariam a certeza de que a faculdade de curar ou aliviar o seu semelhante não é privilégio exclusivo de algumas pessoas; que para isto não é preciso senão boa vontade e confiança em Deus. Não falo de uma boa saúde, que é condição indispensável, compreende-se. Reconhecendo que temos tal poder em nós, adquirimos a certeza de que não há políticas nem sortilégios, nem pacto com o diabo. É, pois, um meio de destruir as ideias supersticiosas.

“Eis alguns exemplos de curas obtidas:

“Uma menina de 6 a 7 anos estava acamada, com uma dor de cabeça contínua, febre, tosse frequente com expectoração e dor viva do lado esquerdo; dor também nos olhos, que de vez em quando se cobriam de uma substância leitosa, formando uma espécie de belida. Sob os cabelos, a pele do crânio estava coberta de películas brancas; urina espessa e turva. Deprimida e abatida, a menina não comia nem dormia. O médico tinha acabado por suspender suas visitas. A mãe, pobre, em presença da criança doente e abandonada, veio me procurar. Consultados, nossos guias prescreveram como único remédio a imposição das mãos, os passes fluídicos por parte da mãe, recomendando-me que fosse, durante alguns dias, fazer-lhe ver como deveria se conduzir. Comecei por mandar suspender os vesicatórios e secá-los. Depois de três dias de passes e de imposição das mãos sobre a cabeça, os rins e o peito, executados a título de lições, mas feitos com alma, a criança pediu para se levantar; a febre tinha passado e todos os acidentes descritos acima desapareceram ao cabo de dez dias.
“Esta cura, que a mãe qualificava de miraculosa, fez que me chamassem, dois dias depois, junto a uma outra menina de 3 a 4 anos, que tinha febre. Depois dos passes e da imposição de mãos, a febre cessou, desde o primeiro dia.
“As curas de algumas obsessões não nos dão menos satisfação e confiança. Maria B..., jovem de 21 anos, de Samazan, perto de Marmande, punha-se nua como um bicho, corria pelos campos e ia deitar-se ao lado do cachorro num buraco de palheiro. A moralização do obsessor, por nosso intermédio, e os passes fluídicos feitos pelo marido, conforme as nossas instruções, em breve a libertaram. Toda a comuna de Samazan foi testemunha da insuficiência da medicina para curá-la, e da eficácia do meio simples empregado para reconduzi-la ao estado normal.
“A Sra. D.., de 22 anos, da comuna de Sainte-Marthe, não longe de Marmande, caía em crises extraordinárias e violentas; rugia, mordia, rolava, sentia golpes terríveis no estômago, desfalecia e às vezes ficava quatro ou cinco horas inconsciente; uma vez passou oito horas sem recobrar a lucidez. Em vão o Dr. T... lhe havia prestado cuidados. O marido, depois de correr para profissionais, sacerdotes da região reputados como curadores e exorcistas, de adivinhos - pois confessou havê-los consultado - dirigiu-se a nós, pedindo que nos ocupássemos de sua mulher se, como lhe haviam contado, estivesse em nós o poder de curá-la. Prometemos escrever-lhe, para indicar o que ele deveria fazer.
“Consultados, nossos guias disseram: Cessem qualquer tratamento médico, pois os remédios seriam inúteis; que o marido eleve sua alma a Deus, imponha as mãos sobre a fronte da esposa e lhe faça passes fluídicos com amor e confiança; que observe pontualmente as recomendações que lhe vamos fazer, seja qual for a contrariedade que ele possa experimentar (seguem as recomendações, absolutamente pessoais), e se ele se compenetrar da ideia de que elas são necessárias e em proveito de sua pobre aflita, em breve terá sua recompensa.
“Também nos disseram que chamássemos e moralizássemos o Espírito obsessor, sob o nome de Lucie Cédar. Esse Espírito revelou a causa que o levava a atormentar a Sra. D... Essa causa se ligava precisamente às recomendações feitas ao marido. Tendo-se conformado a tudo, ele teve a satisfação de ver sua mulher completamente livre no espaço de dez dias. Ele me disse: Levando em conta que os Espíritos se comunicam, não me admiro que vos tenham dito o que só era conhecido por mim, mas estou muito mais admirado pelo fato de nenhum remédio ter podido curar minha mulher. Se eu me tivesse dirigido a vós desde o começo, teria 150 francos no bolso, que aí já não estão, pois gastei em medicamentos.
“Aperto a vossa mão muito cordialmente.
“DOMBRE.”

Estes casos de cura nada têm de mais extraordinários do que aqueles que temos citado, provindos do mesmo centro, mas eles provam, pela persistência do sucesso há vários anos, quanto se pode obter pela perseverança e pela dedicação, pois assim a assistência dos bons Espíritos jamais falta. Eles só abandonam os que deixam o bom caminho, o que é fácil de reconhecer pelo declínio do sucesso, ao passo que sustentam, até o último momento, mesmo contra os ataques da malevolência, aqueles cujo zelo, sinceridade, abnegação e humanidade estão à prova das vicissitudes da vida. Eles elevam aquele que se humilha e humilham o que se eleva. Isto se aplica a todos os gêneros de mediunidade.
Nada desencorajou o Sr. Dombre. Ele lutou energicamente contra todos os entraves que lhe foram suscitados e deles triunfou; desprezou as injúrias e as ameaças dos nossos adversários comuns e os forçou ao silêncio por sua firmeza; não poupou seu tempo nem seu esforço ou sacrifícios materiais; jamais procurou prevalecer-se do que faz para adquirir relevo ou criar um degrau qualquer; seu desinteresse moral iguala o seu desinteresse material; se fica feliz por triunfar, é porque cada sucesso o é para a doutrina. Eis os títulos sérios ao reconhecimento de todos os espíritas atuais e futuros, títulos aos quais há que associar os membros do grupo que o secundam com tanto zelo e abnegação, e cujos nomes lamentamos não podermos citar.
O fato mais característico assinalado na carta é o da interferência dos parentes e amigos dos doentes nas curas. É uma ideia nova, cuja importância não escapará a ninguém, porque sua propagação não pode deixar de ter resultados consideráveis. É a vulgarização anunciada da mediunidade curadora. Os espíritas notarão quanto os Espíritos são engenhosos nos meios tão variados que empregam para fazer penetrar a ideia nas massas. Como isto não aconteceria, se lhes abrimos incessantemente novos canais, e lhes damos os meios de bater em todas as portas?

Portanto, esta prática jamais seria demasiadamente encorajada. Contudo, há que não perder de vista que os resultados estarão na razão da boa direção dada à coisa pelos chefes dos grupos curadores e do impulso que souberem imprimir por sua energia, seu devotamento e seu próprio exemplo."